Existem dois objetivos bem definidos no preparo do canal; modelagem e limpeza. O que se deseja é preparar todas as suas paredes e assim dar uma forma (modelagem) e remover o seu conteúdo (limpeza).
Quando você prepara o canal usa somente um instrumento? Não, usa uma série deles. A depender de alguns aspectos, como a anatomia, geralmente em torno de
Já há alguns anos surgiu no Brasil o conceito de patência apical e com ele a concepção de remoção total da polpa, inclusive do coto apical (já conversamos no post anterior sobre o equívoco que se comete ao se chamar aquele tecido remanescente de coto pulpar). Na proposta de sua remoção também há equívocos.
Tem sido sugerido que a rotação horária de uma lima ajustada no comprimento de patência permite o corte adequado do tecido e a sua conseqüente remoção, ou seja, a remoção do coto apical.
1. Uma lima K não conseguirá isso porque ao ser girada não cortará nada. Lembre que na remoção da polpa de canais volumosos, esse papel tem sido atribuído ao extirpa nervo ou à lima H modificada.
2. Não acredito que a sugestão que se faz para remover o coto apical seja realizar essa manobra com o extirpa nervo ou com a H modificada, porque também acredito que ninguém sugere uma rotação horária com esses instrumentos ajustados em qualquer porção do canal, muito menos na constricção apical. A recomendação clássica para o extirpa nervo ou lima H modificada para remover a polpa é a de que eles devem estar folgados no canal para que, ao serem girados, não encravem na dentina e fraturem.
3. Assim, o coto será removido por instrumentação/fragmentação pelo instrumento ajustado no comprimento de patência, como você faz na instrumentação do canal.
Um único instrumento consegue isso? É pouco provável. Tal qual na instrumentação do canal para remover a polpa, o mais provável é que alguns sejam necessários. A instrumentação do canal cementário para remoção do coto apical com um único instrumento deverá muito mais lacerar do que remove-lo.
Foi o que demonstraram em 1979 o professor Holland e colaboradores, quando promoveram sobreinstrumentação de 2mm além do forame em dentes de cães, em um grupo até a lima 40 e no outro até a lima 80. Foi no primeiro grupo onde eles mais encontraram tecido lacerado. Observe que mesmo usando alguns instrumentos ainda encontraram tecido lacerado. Somente quando utilizaram mais instrumentos, até a lima 80, removeram o coto.
No artigo anterior deixei bem claro que, dada a natureza do tecido que constitui o coto apical, tecido periodontal, a quem cabe a responsabilidade pelo processo de reparo, você pode e deve fazer patência foraminal em tratamento de canais com polpa viva. Se, além disso, você deseja remover o coto apical, pense no que foi colocado neste artigo. Reflita, entenda o processo e decida se deve fazer e como deve fazer. Como tem sido preconizado, não. Está errado.
É sabido que o coto pulpar é um tecido conjuntivo fibroso com menor capacidade regenerativa que a polpa dental, porém não incapaz de regenerar-se. Ele tem capacidade de se regenerar assim como todo tecido conjuntivo. Outro detalhe desta discussão é o limite CDC. Quem é capaz de definí-lo precisamente? Quem é capaz de dizer com 100% de acerto que não ultrapassou o limite? Não vejo motivos em não tratarmos a possibilidade de remoção do coto pulpar com mais e mais estudos. A endodontia esta há 30 anos parada numa idéia com embasamento ciêntífico ultrapassado e impreciso. É preciso mudar a mentalidade e os resultados.Nós já não precisamos mais trabalhar no escuro.