Coto pulpar 2

Existem dois objetivos bem definidos no preparo do canal; modelagem e limpeza. O que se deseja é preparar todas as suas paredes e assim dar uma forma (modelagem) e remover o seu conteúdo (limpeza).

Quando você prepara o canal usa somente um instrumento? Não, usa uma série deles. A depender de alguns aspectos, como a anatomia, geralmente em torno de 4 a 6 limas. Por que isso? Estima-se que para um bom preparo todas as paredes do canal devem ser tocadas pelos instrumentos. É sabido, porém, que mesmo com o uso de algumas limas em seqüência de ampliação, como tem sido preconizado pela literatura, algumas paredes não serão tocadas. Por razões como essa, você planeja uma instrumentação com um instrumento que se ajusta ao canal no CT e mais 3, 4, 5… conforme cada situação. Assim, e você também sabe, na maioria das vezes a polpa sairá por fragmentação durante o preparo do canal.

Já há alguns anos surgiu no Brasil o conceito de patência apical e com ele a concepção de remoção total da polpa, inclusive do coto apical (já conversamos no post anterior sobre o equívoco que se comete ao se chamar aquele tecido remanescente de coto pulpar). Na proposta de sua remoção também há equívocos.

Tem sido sugerido que a rotação horária de uma lima ajustada no comprimento de patência permite o corte adequado do tecido e a sua conseqüente remoção, ou seja, a remoção do coto apical.

1. Uma lima K não conseguirá isso porque ao ser girada não cortará nada. Lembre que na remoção da polpa de canais volumosos, esse papel tem sido atribuído ao extirpa nervo ou à lima H modificada.

2. Não acredito que a sugestão que se faz para remover o coto apical seja realizar essa manobra com o extirpa nervo ou com a H modificada, porque também acredito que ninguém sugere uma rotação horária com esses instrumentos ajustados em qualquer porção do canal, muito menos na constricção apical. A recomendação clássica para o extirpa nervo ou lima H modificada para remover a polpa é a de que eles devem estar folgados no canal para que, ao serem girados, não encravem na dentina e fraturem.

3. Assim, o coto será removido por instrumentação/fragmentação pelo instrumento ajustado no comprimento de patência, como você faz na instrumentação do canal.

Um único instrumento consegue isso? É pouco provável. Tal qual na instrumentação do canal para remover a polpa, o mais provável é que alguns sejam necessários. A instrumentação do canal cementário para remoção do coto apical com um único instrumento deverá muito mais lacerar do que remove-lo.

Foi o que demonstraram em 1979 o professor Holland e colaboradores, quando promoveram sobreinstrumentação de 2mm além do forame em dentes de cães, em um grupo até a lima 40 e no outro até a lima 80. Foi no primeiro grupo onde eles mais encontraram tecido lacerado. Observe que mesmo usando alguns instrumentos ainda encontraram tecido lacerado. Somente quando utilizaram mais instrumentos, até a lima 80, removeram o coto.

No artigo anterior deixei bem claro que, dada a natureza do tecido que constitui o coto apical, tecido periodontal, a quem cabe a responsabilidade pelo processo de reparo, você pode e deve fazer patência foraminal em tratamento de canais com polpa viva. Se, além disso, você deseja remover o coto apical, pense no que foi colocado neste artigo. Reflita, entenda o processo e decida se deve fazer e como deve fazer. Como tem sido preconizado, não. Está errado.

One thought to “Coto pulpar 2”

  1. É sabido que o coto pulpar é um tecido conjuntivo fibroso com menor capacidade regenerativa que a polpa dental, porém não incapaz de regenerar-se. Ele tem capacidade de se regenerar assim como todo tecido conjuntivo. Outro detalhe desta discussão é o limite CDC. Quem é capaz de definí-lo precisamente? Quem é capaz de dizer com 100% de acerto que não ultrapassou o limite? Não vejo motivos em não tratarmos a possibilidade de remoção do coto pulpar com mais e mais estudos. A endodontia esta há 30 anos parada numa idéia com embasamento ciêntífico ultrapassado e impreciso. É preciso mudar a mentalidade e os resultados.Nós já não precisamos mais trabalhar no escuro.

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