Por Fernando Brito, no Tijolaço
Cite, o arguto leitor e a arguta leitora, quais eram as ideias do ex-futuro partido de Marina Silva, assim, de cabeça.
Tempo! Ficou difìcil, caríssimos?
Pois é, por isso é uma farsa.
Marina não é uma afirmação, não é um projeto político.
Nem mesmo um projeto político montado em torno de uma pessoa, como se poderia, até incorretamente, dizer que foi o PT em torno de Lula ou o PDT com Brizola.
Marina é uma negação: a negação da política, dos partidos, um messianismo sui generis, destes em que o papel do Messias é ser um nada, um ausente, um personagem cuja finalidade é tentar ser presidente para que outros não sejam.
Apenas isso.
Marina representa apenas a parcela da população que crê que o Estado é um mal e que uma nação é apenas um amontoado de interesses paroquiais.
Montam-se partidos com facilidade, e por isso há 32 deles no Brasil.
Montam-se, inclusive, muito mais por interesses e negócios que por ideologia, viu-se com o “Solidariedade” de Paulinho e outros que tais.
Ou por arranjos locais, como o PROS dos Gomes cearenses e do Garotinho fluminense.
Por que, então Marina não conseguiu montar o dela? Ou será que o “dote” de 19,3% dos votos nas eleições de 2010 não tornava “embarcar” no marinismo atraente eleitoralmente?
Por uma razão: Marina não disputa o poder, mas a notoriedade.
Não disputa o poder pelas razões que ao início se apontou: o de não ter um projeto de país, nem mesmo um projeto para o país.
Isso quer dizer que ela não tem representação social ou que não possa ou não deva concorrer a Presidência?
Não, absolutamente.
Marina representa uma parcela da elite brasileira que não consegue pensar além de seu próprio umbigo, que se sabe uma minoria e gosta disso.
Uma versão cult da “gente diferenciada”, que tem um “projeto social” tão vago e tolo quanto aquelas moças que diziam sonhar em ser “modelo-manequim”. E que tem vergonha de ser tucana, para não parecer o que é: direita.
Não tenha dúvida, caro amigo e cara amiga. Em colégios eleitorais como aqueles da foto das bruxas de Blair, dava Marina fácil.
Ela era, ali, uma espécie de bibelô bem arranjado, uma “bonne sauvage” educada, com seus lenços “style” à guisa de penachos. Um exotismo divertido.
Voto popular, mesmo, só entre os evangélicos.
Mas Marina era – e ainda pode ser – útil como candidata.
Desvia parcela da classe média que, com nariz torcido e resmungos, acabaria ficando com o povão e a política real e, com isso, facilita o único que a direita pode, neste momento, almejar: ir para o segundo turno.
Essa é a encruzilhada onde ela está.
Se for candidata por outro partido, depois de negar a todos, terá de despir os véus do “diferente”, se entregando a um arranjo eleitoral que, quando no Partido Verde, não era tão perceptível, embora fosse real e sua saída do PV, passadas as eleições, só o confirmou.
Se nao for candidata, numa eleição já desde o início plebiscitária, teria de ser força de apoio – o que dificilmente sua vaidade permitiria – ou ausência.
A conversinha de discriminação à Rede não colou, porque Marina enredou-se na própria arrogância e incompetência de não conseguir, objetiva e tempestivamente um apoiamento que, convenhamos, seria irrisório para quem dizia ter a preferência de um quarto do eleitorado brasileiro.
Hoje, mais tarde, saberemos para onde vai Marina.
Ou, afinal, já sabemos: para lugar nenhum além de seu próprio egocentrismo.