A máquina de criar e esconder escândalos 3

O Brasil é de fato um país muito peculiar. Como diriam os colunistas, sui generis.

Em qualquer canto do mundo, em todo processo de corrupção tem que existir corruptor e corrupto; não há outra possibilidade. O Brasil é exceção à regra.

No caso da sonegação fiscal da Globo, por exemplo, não há corruptor.

Para não pagar impostos na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002, a Rede Globo abriu uma empresa de fachada em um paraíso fiscal (muito usados por sonegadores e conhecidos como off shore), as Ilhas Virgens Britânicas.

Autuada pela Receita Federal em R$183 milhões, consta que, devido a multa e correção, em 2006 a dívida já era de R$615 milhões. Tendo em vista que a Globo até hoje não teria pago, a dívida já teria passado de R$1 bilhão.

Ocorre que o processo da Receita Federal condenando a Rede Globo foi roubado no dia 02 de janeiro de 2007 pela funcionária da própria Receita Federal, Cristina Marins Ribeiro (veja as matérias e os vídeos aqui, aqui e aqui).

Filmada roubando os documentos, Cristina foi condenada a 4 anos e 11 meses de cadeia. Cinco advogados de um dos escritórios de advocacia mais renomados e caros do Brasil conseguiram um Habeas Corpus através do Ministro Gilmar Mendes (jornalistas independentes dizem – sempre ele) no Supremo Tribunal Federal e ela foi solta depois de passar 2 meses na cadeia.

A Receita Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal investigaram, encontraram e condenaram a funcionária corrupta. Ela foi presa, demitida, ficou sem nenhum direito trabalhista (por exemplo, perdeu o direito a aposentadoria). Se em todo o processo de corrupção existe um corrupto e um corruptor, neste não existe o corruptor.

Quem teria “estimulado” a funcionária a correr tamanho risco? Teria agido ela por conta própria porque adora as novelas da Globo e achou uma injustiça o que estavam fazendo com ela, a Globo? Quem é beneficiado pelo sumiço do processo que condena a Globo, o SBT? Quem teria patrocinado o roubo do processo, a Rede Record? Ninguém se mexeu, ninguém se mexe, em busca de quem corrompeu. Um processo que dura mais de seis anos.

O Brasil quebra o paradigma de que onde há corrupto há corruptor.

Escândalo do propinoduto da Siemens nos governos de Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, todos do PSDB de São Paulo. De quebra, também nos governos de José Roberto Arruda (DEM) e Joaquim Roriz (PMDB) no Distrito Federal.

Em reportagem de quase três semanas atrás, a IstoÉ estimou inicialmente que o rombo é de R$425 milhões, porém, em sua matéria deste final de semana, o Estadão apontou para R$ 577 milhões.

Neste processo, sem margens para dúvidas, estão lá apontados pelas reportagens, inclusive na da Folha, todos os corruptores: Siemens, Alston, Bombardier, CAF. Mas, lá não estão os corruptos. A Folha chega a pedir “dupla cautela” ao público no apontar os corruptos.

Há que considerar a investigação com dupla cautela. Os detalhes ainda são nebulosos, mas o que transpirou até aqui indica um conluio entre fornecedores para repartir encomendas e elevar seus preços de 10% a 30%, sem provas de envolvimento das autoridades.”

Detalhes devem ser observados. Quem descobriu, denunciou e apresentou os DOCUMENTOS foi a própria Siemens, em investigações feitas a partir da Alemanha. Mas, para a imprensa brasileira, não se sabe ainda dos corruptos.

O Brasil quebra o paradigma de que onde há corruptor há corrupto.

É ou não é um país sui generis?

Será que existe alguém por aí que lembra que tudo que acontecia/acontece com qualquer coisa ligada aos governos Lula e Dilma, TODOS, inclusive Lula e Dilma, sem qualquer investigação, sem qualquer documento, já eram/são declarados envolvidos e culpados?

Não há como negar a competência da máquina para, de acordo com a conveniência, criar e esconder escândalos.

Entretanto, ela está desmoralizada.

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