Entende-se que todas as pessoas deveriam ser educadas, gentis e que fossem de bom convívio social.
Não é assim. Os nossos instintos mais primitivos muitas vezes parecem aflorar com intensidade e frequência cada vez maiores.
Não deveria ser assim. É para isso que somos os únicos animais do Planeta Terra dotados de uma característica conhecida como racionalidade; somos animais racionais, seres pensantes.
Acredita-se que quanto maior o nível de escolaridade, maiores as chances de se encontrarem seres humanos com esse perfil. Supõe-se que entre essas pessoas estão em destaque aquelas que frequentaram/frequentam as universidades. Nesse sentido, algumas categorias profissionais pretendem estar mais acima ainda.
Depois dos protestos promovidos pela classe médica em várias regiões do país, projetou-se na sociedade brasileira uma grande tristeza. Concomitante a essa tristeza, também se disseminou, como uma doença que não se conhecia, a dificuldade em se aceitar como verdade absoluta a crença da existência de maior racionalidade entre os senhores doutores do que entre os mortais.
Muito típico das elites brasileiras esconder a sujeira por baixo dos talheres de prata, para, no primeiro momento em que se sentem atingidas, deixar de lado o glamour e descer das tamancas. Porém, a determinados segmentos da sociedade isso é, no mínimo, não recomendável.
Muitas coisas foram ditas e vistas. Algumas declarações foram de uma infelicidade chocante, ainda mais se considerarmos que foram feitas por aqueles que estão à frente dos destinos de uma categoria profissional tão tradicional. Nas manifestações, houve de tudo, mas algumas cenas se tornaram emblemáticas, como a que pode ser representada pela imagem no começo deste texto.
A conhecida e lamentável situação em que se encontra a saúde no Brasil tem a sua raiz na longa história de desprezo pelo povo por parte dos governantes brasileiros ao longo de séculos; não é desse ou daquele governo. Com um pouco de boa vontade, pode-se aceitar a ignorância política expressa na imagem, porém, pesam contra ela a sua verdadeira motivação e a grosseria estampada.
Ela facilmente se explica, sem jamais se justificar, pelos sentimentos mais primitivos do homem que se calam no fundo do inconsciente de cada um. Afloram simplesmente. De tempos em tempos, ou, como agora, com frequência preocupante. Também facilmente diagnosticável, por isso compreensível, porém, insisto, sem que se justifique. No entanto, pela extrema grosseria estampada, exigiria, no mínimo, um pedido de desculpas a todo o povo brasileiro.
Não poderia ser mais triste. Mas foi. Foi mais triste ainda ver as declarações que se espalharam pela imprensa e redes sociais.
Uma delas: “Médicos atacam e ironizam, na Internet, homem que se manifestou contrário ao protesto da classe. Médicos como Robson Alencar Souza e Carla Karini (cardiologista) se manifestaram: ‘Um dia vai precisar da gente e vou lembrar de sua linda fisionomia’ diz médico ao publicitário Carlos Fialho (veja aqui).
O que fica? Muita coisa. Sobretudo, fica uma sociedade que não consegue olhar para si. Uma sociedade que, diante do vazio, cada vez mais se individualiza e se elitiza na busca incansável pelo seu bem estar pessoal, que costuma ser traduzido como qualidade de vida. Uma sociedade que na busca incansável, cruel e egoísta para garantir a sua fatia do bolo, secularmente distribuído entre poucos, exibe o que pode existir de mais primitivo.
Por que determinados segmentos da sociedade insistem em dar as costas aos fatos quando estes frequentemente negam o que tanto alardeiam? Será que mesmo diante de evidências que não permitem justificar o seu comportamento, esperam sempre contar com a ajuda da sua grande aliada, a mídia, no seu eterno papel de manipular e esconder o que não lhe interessa?
Veja a matéria de Paulo Jonas de Lima Piva, do blog O pensador da aldeia
A informação abaixo é para os preconceituosos, reacionários e para todos aqueles que reproduzem passivamente as opiniões prontas, fast-food, de Veja, Folha de São Paulo, CBN e Jornal da Cultura. Diz respeito à vinda de médicos estrangeiros, em particular de médicos cubanos, ao Brasil, onde, na medicina, impera a ideologia elitista e liberal. Ela foi publicada no portal G1 no último dia 12, que fez questão de minimizar a aprovação dos cubanos e a péssima avaliação dos brasileiros:
Entenda o Revalida
O Revalida é um exame nacional criado pelo Ministério de Educação que representa a porta de entrada tanto para estrangeiros quanto brasileiros que se formaram no exterior exercerem a medicina no Brasil. Ele é uma exigência para que o diploma seja válido no país.
Pelo exame, enquanto o médico não for aprovado e não obtiver a revalidação do diploma pelas instituições do ensino público, ele fica impedido de atuar no país. Se um médico for reprovado no Revalida, ele pode se inscrever para fazer o exame do ano seguinte.
Em 2012, 884 pessoas de várias partes do mundo se inscreveram para o Revalida, e apenas 77 (menos de 9%) conseguiram a aprovação no exame.
O Brasil respondeu pela grande maioria dos inscritos (560), mas apenas 7% dos candidatos foram aprovados. O país ficou na sexta colocação no ranking de índices de aprovação. Os países que obtiveram o maior êxito neste quesito foram Venezuela (27%) e Cuba (25%), apesar de o número absoluto de inscritos ter sido pequeno. Nenhum candidato com nacionalidade de países da Ásia, África ou América do Norte conseguiu passar na prova do MEC".