Não o conhecia. Até aí nada de mais porque, por ter ficado afastado das coisas do futebol durante muito tempo, não conheço muita gente que faz parte desse mundo.
Atualmente, os gestores de futebol parecem representar o que há de mais moderno no futebol brasileiro. Acredito que todos os principais times do Brasil possuem um, não sei. Ao longo dos seus três anos, caminhando para quatro, à frente do time, o gestor de futebol do Bahia tem sido reverenciado como um dos melhores e mais competentes do país.
Enchi-me de entusiasmo desde o início e a subida para a série A em 2010, já sob a sua gestão, após sete anos de desastres seguidos, confirmou as minhas esperanças; o Bahia está no caminho certo. Foi (é?) tamanha a sua força que não foram poucas as vezes em que se teve dúvida de quem de fato comandava o barco, ele ou o presidente.
Em 2011 já não eram esperanças. Era certeza. Certeza de que o Bahia começaria a recuperar em tempo bem mais curto do que eu imaginara a sua força e credibilidade, perdidas durante aqueles longos e inesquecíveis sete anos. As contratações, as apostas, as promessas, o planejamento cantado em prosa e verso, chegavam a mim como um anúncio: o campeão voltou.
As contratações, as apostas, as promessas, o planejamento cantado em prosa e verso… As nossas primeiras frustrações. O título baiano não veio. A Copa do Brasil não poderia vir, entende-se. No campeonato Brasileiro, a luta para não cair. Não, o campeão ainda não voltou.
Mais contratações, porém, com mais cautela. O ano de 2012 parecia ter aprendido com o anterior. Parecia. As conversas e ações se repetiam; o mercado está aquecido, faremos contratações pontuais…
Mais jogadores. Agora, com mais experiência (seria essa a expressão mais adequada?) e salários a altura da experiência. Infelizmente, porém, não compatíveis com o futebol apresentado. Mantiveram quem tratava como sardinha quem queria voltar a ser tubarão. Grande equívoco. Mas o destino entrou em campo. Ali estava a prova de que melhores dias viriam. A estrela do time que nasceu para vencer voltava a brilhar. Somente isso poderia explicar tanta sorte. Levaram o pescador.
Novo técnico, novo time com o mesmo time, futebol e vitórias inquestionáveis, campeão baiano. O campeão voltou. Tá certo, concordo com você. No final do campeonato o time já não era o mesmo. Se tivéssemos mais dois jogos não teríamos sido campeões. Mas fomos. Não seja tão exigente, foram 10 anos.
Time sem talento, foi-se o técnico campeão. Foi-se também a Sul Americana, passou por aqui, mas não quis ficar. Novo técnico. Nada. Foi-se também.
Chegou o outro novo técnico e aí sim, agora vamos. Inicialmente, campanha irretocável. Como, se o time era o mesmo? Méritos, claro, também do próprio time, mas sentia-se nitidamente a presença decisiva do novo treinador. Jorginho deu outra cara ao time. O time caiu um pouco, reequilibrou-se, oscilações naturais para um time em formação. Uma torcida cansada, mas compreensiva (passiva?), aceitou. Manteve-se na série A.
Três, a essa altura, longos anos; 2010, 2011 e 2012. Foram mantidos a base do time e o treinador, bela notícia. Nada como a experiência. Tínhamos aprendido. O ano de 2013 começava com boas notícias. De fato, um ano novo.
Antes de comemorarmos, os anos velhos voltaram.
Angioni, quando em uma de suas entrevistas você disse que a sua filha chamara a sua atenção para a beleza da torcida do Bahia, o que fizera você gostar mais ainda do clube (filhos conseguem coisas inimagináveis, não é mesmo?), confesso que achei muito legal. Sabe Angioni, não é que nós imaginamos que vocês se tornam torcedores do time. Não, não é isso. Mas, não há como negar, chegamos a imaginar sim que surge algo tipo uma identidade. Nós torcedores, Angioni, somos bobos. Essas manifestações fazem bem aos nossos ouvidos e corações. Somos ou não somos bobos?
Mas, há um detalhe. Os nossos corações se tornam duros e às vezes cruéis, quando sentem o cheiro do embuste, da enganação, da traição. Típico das paixões. E futebol é o que, se não paixão, na sua forma mais pura e violenta?
É interessante. Parte da torcida, na qual me incluo, ainda via em você, Angioni, uma possibilidade. Entretanto, os primeiros movimentos da diretoria, da qual você é peça fundamental, em 2013 fizeram a torcida abandonar de vez a já moribunda lua de mel.
Angioni, sei que você é um homem muito ocupado, não tem muito tempo. Então vamos encurtar a conversa. A torcida não lhe quer mais. Desculpe-me pela franqueza. Após três anos, caminhando para o quarto, ela entende que não deu certo. O pior, de tanto se falar na sua competência, ela já acha que não pode ser só incompetência e começa a imaginar coisas ruins para explicar tantos, vamos dizer, desacertos.
É possível que, como acontece com alguns jogadores que não rendem o esperado, tenhamos dado azar com você. Uma transferência para outro time vai lhe fazer bem e quem sabe em breve você estará aqui em Salvador, ganhando do Bahia e mostrando a nós a sua competência.
A essa altura, parte da imprensa, aquela que é séria, não a outra, deve estar meio perdida e questionando a sua competência. Ou, quem sabe, também com pensamentos ruins.
Certo, eu lhe entendo. Você está dizendo que é a opinião de um ou alguns torcedores. Não é não, Angioni. Pode ter certeza. Em todos os jogos eu estou lá, na arquibancada, sentado ao lado deles. Veja o que diz um amigo, Marcelo Castellucci, em resposta a um e-mail que enviei a um grupo de torcedores:
“É muita incompetência! Pegando o gancho do título do seu e-mail, gestores de futebol honestos, principalmente no nosso país, é uma utopia. Mas no momento, o que mais está faltando é competência e comprometimento. É possível roubar, ficar mais rico ainda, e mesmo assim fazer uma gestão competente, aproveitando a marca Bahia, a sua torcida (uma massa de consumidores inexplorada, apesar do grande potencial)! Principalmente, no momento que vive o país. Ano de copa das confederações, estádio novo e moderno, véspera de copa do mundo, estabilidade econômica ao lado de países em crise financeira… ou seja, o contexto é o melhor possí
vel. Mesmo assim, os caras conseguem afundar o time. Revoltante!”
Quer depoimento melhor?
PS. Por favor, Angioni, não imagine que tenho a pretensão de que você, caso venha a ler esse texto, pare para refletir. Não, não tenho essa pretensão. Depois de tudo que eu disse, pode parecer uma grande contradição, mas conheço um pouco da alma dos homens. Justamente por isso, sei do que alguns são capazes. Esse texto é só um desabafo. Recomendações médicas.