A Privataria Tucana 1

 
Nos últimos 9 anos, todos os eventos negativos que podiam ter alguma ligação com o PT e/ou governos de Lula e Dilma foram transformados em escândalos pela Rede Globo, VEJA, Folha e Estadão (os maiores jornais de São Paulo) e boa parte da imprensa brasileira.
 
O esquema já é conhecido. Praticamente em todos os fins de semana a VEJA cria uma reportagem escandalosa e o Jornal Nacional repercute, com direito a detalhes, ênfases nas partes “mais delicadas” do texto e Folha e Estadão fazem a mesma coisa. Vamos a dois exemplos recentes. 
 
O primeiro deles, a ficha do DOI-Codi (órgão de repressão muito utilizado no período da ditadura militar) de Dilma Roussef, estampada na primeira página da Folha com foto e tudo mais, foi motivo de intensas reportagens durante muito tempo pelos órgãos de imprensa citados. 
 
Abro aqui 2 parênteses. Na praça onde faço as minhas caminhadas tem um banco onde “velhinhos” ficam sentados conversando. Quando passava por esse banquinho nas várias voltas das caminhadas, ouvi diversas vezes “a mulher é terrorista”, “já matou não sei quantos”, “como é que eu vou votar numa mulher dessa”!!! Uma vizinha do edifício onde moro, professora, cansava de dizer “a mulher já matou mais de 100 criancinhas”.
 
Resumo da história. A ficha era falsa, comprovada por análise feita por 2 institutos independentes do Brasil, um da UNICAMP (o outro não lembro neste momento) e ambos confirmados logo em seguida de maneira interessante: o próprio DOI-Codi afirmou que a ficha era falsa. Após o estrago que tinha feito na imagem da “mulher”, restou à Folha um pedido de desculpas em um canto de página, do qual a sociedade não tomou conhecimento. Atingia-se mais uma vez o objetivo; escandaliza-se com manchetes sensacionais na primeira página, depois pede-se desculpas, quando muito, num canto de página.
 
O outro exemplo se refere ao episódio da quebra de sigilos de pessoas ligadas ao PSDB, atribuída ao PT durante a campanha presidencial. Mais uma farsa. Na verdade o que estava acontecendo era uma arapongagem dentro do próprio PSDB entre Serra e Aécio e que tentaram aproveitar para dizer que o PT estava armando dossiês sobre Serra. Daqui a pouquinho volto a falar sobre isso.
 
Amaury Ribeiro Júnior é um jornalista, um repórter premiado, dono de trinta prêmios nacionais de jornalismo, entre os quais 3 prêmios Esso, o mais importante do jornalismo brasileiro. Com passagens por jornais como O Globo, Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Estado de Minas e pela revista Isto É, faz parte do ICIJ – Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Um currículo invejável e um repórter respeitado em todo o meio jornalístico. Foi esse jornalista que foi acusado na campanha presidencial de ser o responsável pelos tais dossiês do PT. As reportagens feitas pelo Jornal Nacional eram fantásticas, dignas de uma grande emissora…, se fossem verdade.
 
Há 25 dias de quando escrevo esse texto, ele lançou o livro “A Privataria Tucana”, pela  Geração Editoral. O livro fala sobre as privatizações ocorridas durante os governos de Fernando Henrique Cardoso. Prometi a você que voltaria à questão da quebra de sigilo fiscal. Chegou a hora. Vamos ver um pouco de mais outra manipulação na campanha e que está devidamente documentado no livro.
 
Durante a campanha presidencial, quando ainda havia a disputa de quem seria o candidato do PSDB, Aécio Neves foi informado de que Serra estava com uma equipe de arapongas (profissionais que vasculham a vida de pessoas e/ou empresas – escuta telefônica, documentos, vídeos…) para espioná-lo.
 
Aécio deu o troco e fez contra-espionagem. Através do jornal Estado de Minas, aliado de todas as horas, como aliás praticamente toda a imprensa mineira, Amaury Ribeiro Jr., que trabalhava no jornal, foi designado para acompanhar Serra nos seus movimentos políticos. Em outras palavras, Aécio e Serra se espionavam.
 
Quando o PSDB paulista decidiu que Serra seria o candidato, a espionagem perdeu o sentido e Amaury deixou de cobrir Serra. Ocorre que ele já vinha investigando as privatizações há 10 anos (graças ao que descobriu muito sobre a famosa questão do Banestado, quando mais de 30 bilhões de dólares foram desviados dos cofres públicos brasileiros). As investigações sobre Serra acrescentaram documentos importantes às investigações das privatizações. Juntou tudo e resolveu transformar em livro.
 
Quando os dois partidos de oposição mais fortes do Brasil, o PIG* e o PSDB**, descobriram que o livro estava sendo escrito foi um Deus nos acuda. 
 
Vamos ligar os pontos? Foi daí que surgiram os dossiês e a história da quebra de sigilos fiscais, em que personagens como o próprio Serra, sua filha Verônica e outros apareciam todos os dias nos órgãos de imprensa, mostrando indignação e acusando o PT e a equipe de Dilma por estarem produzindo dossiês com documentos falsos. 
 
Escandalizada, a opinião pública levou as eleições para o segundo turno, com a devida ajuda de Marina Silva, também candidata à presidência da república, sem nenhuma chance e, coitada, inocentemente (?) usada pela imprensa. Detalhe; Verônica Serra, a filha de Serra, ela sim, segundo dados divulgados à época e relatados no livro, tinha quebrado o sigilo bancário de 60 milhões de pessoas e por isso foi indiciada há 9 anos (também segundo os documentos mostrados no livro ela é ré no processo 370-36-2003.401.6181, na 3ª Vara Criminal de São Paulo. Quando completar 10 anos o crime será prescrito).
 
Ali começava um trabalho muito bem feito pela imprensa de esvaziar qualquer documento que pudesse comprometer a candidatura de Serra à presidência e que a sociedade brasileira sequer imaginava. E muito menos poderia imaginar qu
e também ali começava um processo de esvaziamento do livro que poderia destruir o PSDB, como está ocorrendo e vocês verão logo adiante. A única televisão que mostrou os fatos como eram foi a Record.
 
*PIG – Partido da Imprensa Golpista (expressão consagrada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim).
** PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira.