Saí um pouco mais cedo da Faculdade e fui correndo. Quinta-feira, perto das 18 horas, trânsito já meio lento, cheguei a tempo. No colégio da minha filha (13 anos) ela e os coleguinhas iam encenar Morte e Vida Severina.
Um poema pelo qual me apaixonei ao ver pela primeira vez há muitos anos. João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, embaixador do Brasil na França, um homem tido como pessimista. Poema forte, trágico, que dá a impressão de ser só dor, mas, no fundo, um hino à vida.
Musicado por Chico Buarque, foi transportado para o teatro. Fantástico. Pensei, texto difícil para alunos da 6ª série. E foi. A professora teve que ajudar várias vezes aos “atores”. Assistindo e pensando; como seria bom que entendessem pelo menos um pouco o significado das palavras que saem das suas bocas. Estou querendo demais. Mas, não perco as esperanças. Espero que daqui a algum tempo tenham oportunidade de se deparar outra vez com esse texto e aí sim possam perceber toda a sua beleza e força.
Estava querendo demais também quando, para poder começar a peça, esperei que fizessem silêncio assim que a professora pediu. Não podia. Três sextas séries juntas para encenar, crianças na faixa de idade entre 13 e 16 anos talvez, eram muitos, e mais outros alunos que estavam para assistir. Após alguns pedidos, começou.
Chegamos em casa, eu e a minha mulher, que estava comigo todo o tempo, conversamos com ela. Brinque, brinque muito. Aproveite a sua infância, adolescência, vida adulta, não deixe nada por fazer, mas, há tempo para tudo. Há o momento em que alguém vai pedir um pouco de silêncio, para parar a brincadeira, para fazer o trabalho. Quando chegar esse momento, entenda a importância dele, mas, sobretudo, respeite quem está ali, querendo fazer alguma coisa. E por aí foi a conversa. Mesmo sabendo que ela já tinha essa orientação, não podia perder a chance de reforça-la.
Sábado pela manhã, reunião de professores na faculdade. Todos chegando, conversas, vamos começar, coordenador do curso pedindo silêncio, um pouco difícil, muita gente, mas começou. Enquanto o coordenador falava, conversas paralelas, alguns note books ligados e neles colegas mostrando fotos, casos clínicos, arrumando aulas.
Só queria lembrar um detalhe; eram professores.
Voltei correndo para casa. Precisava reforçar mais ainda a conversa com a minha filha de 13 anos.