Era um desastre que há anos se repetia. Cada vez que eles paravam os seus trios elétricos na passarela da imprensa e das autoridades no Campo Grande era um desastre. Era a nota triste do carnaval de Salvador.
Anunciavam-se como amigos íntimos das autoridades presentes e lhes dirigiam elogios de todo tipo. Das mulheres desses políticos eram super íntimos e a ambos, marido e mulher, muitas vezes tratavam pelos apelidos.
A um determinado político, o líder, de quem diziam existir além da amizade a condição de ídolo, dirigiam-se durante minutos intermináveis, quando talvez (devo estar querendo demais) devessem estar cantando. Quantas vezes, em pleno clima de carnaval, irritei-me profundamente ao ouvir toda aquela baboseira. Certamente, eram muito amigos. Um deles, na verdade uma deles (também na verdade não é cantora, mas faz parte desse grupo), fez desse líder padrinho de casamento, sem dúvida uma demonstração inequívoca de grande amizade (não sei se os outros fizeram algo semelhante). E assim caminhava a humanidade.
Dizem que a morte tem muitos poderes. Tem sim. Um deles, inexorável; você foi, não é. E isso muitas vezes se manifesta com uma clareza chocante.
Aquele político, o líder, faleceu. Momento de solidariedade, apoio à família, necessária a presença dos amigos. Onde estão? Não estão. Não, não é possível. Os cantores da Bahia não estavam. Não importa se o líder já estava em pleno ocaso, não importa. Eram amigos.
Ali manifestava-se a face mais cruel do poder; foi, não é mais.
Vou tentar me conter. São sem alma. Para eles é só o dinheiro, e não me digam que um ou outro tem um projeto social; pudera, com o que ganham. Para fazer justiça a um deles, fiquei sabendo que Durval Lélis esteve presente no funeral.
Já digo há algum tipo; têm algum mérito? Têm sim, afinal contribuíram para o fortalecimento da indústria em que se transformou o carnaval da Bahia (para quem isso foi bom?), porém, é importante que uma coisa fique bem clara: êles não são o carnaval, como já chegaram a dizer. Talvez merecessem ser citados nominalmente. Não precisa, todos sabem de quem estou falando.
O carnaval está aí. Há um outro grupo político à frente da Bahia. Para onde soprarão os ventos?
Cantores da Bahia. São lamentáveis.