Não existe nada melhor do que namorar.
É a melhor coisa do mundo.
O sentar perto.
O toque do corpo.
A carícia.
O arrepio.
A imaginação ganhava asas e voava longe.
Sem Red Bull.
Quantas vezes foi difícil, impossível, que o voo se confirmasse!
Será que isso tornava o namoro mais gostoso?
O não poder voar longe demais?
O ter que baixar o fogo?
E ficar com a imaginação cada vez mais excitada, mais fértil?
Pô, ‘tava’ aqui distraído e nem me lembrei.
Será que os jovens sabem do que estou falando?
Acho que não, mas deixemos os jovens dar asas à imaginação.
Ah, os tempos.
Como são diferentes.
Naquele tempo (naquele tempo é cruel), era diferente.
O voo abortado não era legal.
Era frustrante.
Os motores aqueciam, o avião dava a arrancada, corria na pista, mas não levantava voo.
Pelo menos o voo completo.
Quando muito, ia só até a ameaça de decolagem.
E depois o avião tinha que ir em busca de outros aeroportos para completar o voo.
Aeroportos de aluguel.
Só tinham esse objetivo; funcionar como aluguel para completar os necessários voos dos jovens de então.
Não eram respeitados.
Mas tinham um lema:
“Faço tudo, menos beijar na boca”
Quantos já ouviram essa frase alguma vez ou já ouviram falar dela (os que já viveram 45 anos, talvez menos, quem sabe).
Este era o lema das “mulheres da vida”, que serviam para o complemento do prazer adiado.
Hoje, de forma um pouco cruel, veio-me esse tempo.
Aquelas mulheres, tidas e tratadas como mulheres da vida, sem valor, sem honra, “mesmo elas” tinham seu código de honra.
Hoje, em um momento conturbado do país, homens e mulheres vendidos fazem qualquer negócio, praticam qualquer tipo de obscenidade, de falcatrua, associam-se sem pudor aos piores bandidos para atingirem seus objetivos.
A serviço de grandes interesses, as prostitutas de hoje não possuem nenhum código de honra.
Permitem-se qualquer coisa.
Inclusive beijar na boca.
Dói-me encerrar desta maneira a descrição de um tempo bonito (como foi rica a adolescência) com o final que dou a ela.
Mas, como evitar?
O interromper do prazer maior, da felicidade plena, que sentia na adolescência, repete-se agora na idade adulta.
Mas aquela “dor” era quase que fisiológica, fazia parte das nossas vidas.
Hoje, não.
É patológica, sob todos os aspectos.
Vejo tentarem interromper o voo pleno de um povo.
Tentam abortar o voo que estava nos levando a lugares jamais imaginados nesses 500 anos de relação entre o povo brasileiro e seu país.