Moro e o futebol chinês

Futebol chinês 10

Por Ronaldo Souza

Para alguns jogadores brasileiros a China atualmente é o centro do futebol.

Muitos já estão lá e outros deverão ir assim que surgirem as oportunidades.

As propostas são definidas como irrecusáveis. É muito dinheiro.

Mas há um custo a pagar.

Explica-se.

Um dos problemas é que esses jogadores passarão a jogar para plateias bem menos exigentes.

Com todo respeito ao povo chinês, dispensa-se falar sobre o seu futebol.

E é aí que está o problema.

Entendo que para quem ganha muito dinheiro falar que “há um custo a pagar” não deve significar muita coisa.

Mas significa.

Por uma razão bem simples.

“O custo a pagar” não significa que estamos necessariamente falando de dinheiro.

Uma vez que esses jogadores irão enfrentar adversários fracos e se exibir para plateias bem menos exigentes, é natural, aliás, muito natural, que negligenciem com algumas coisas, como por exemplo, a condição física.

Qualquer exibição dos nossos craques causará momentos de grande êxtase ao público chinês.

Parece inevitável, porém, que percam a capacidade de auto avaliação e com isso a noção do que é exercer a profissão com qualidade.

A tendência é que caia o rendimento físico, técnico e tático.

Sem falar em coisas como a perda da visibilidade para o mercado internacional do futebol, é provável que torne também mais difícil justificar uma eventual convocação para a seleção brasileira.

O juiz Moro padece do mesmo problema.

Acostumou-se ao êxtase do seu público e se descuidou.

O seu rendimento mental-intelectual e jurídico caiu muito.

Importam menos as homenagens recebidas da imprensa como prêmios pelas suas boas atuações anteriores.

Sob intenso bombardeio da sociedade brasileira, inclusive de inúmeros advogados, juristas, ministros, ex-ministros e intelectuais, sentiu a repercussão negativa de mais uma estripulia jurídica.

E neste sábado divulgou esta pérola para explicar por que ordenou a condução coercitiva do ex-presidente Lula.

“Como consignado na decisão, essas medidas investigatórias visam apenas o esclarecimento da verdade e não significam antecipação de culpa do ex-Presidente. Cuidados foram tomados para preservar, durante a diligência, a imagem do ex-Presidente“.

Nada mais pode explicar uma declaração tão medíocre e ridícula além do fato de que o juiz se acostumou demais a jogar para plateias menos exigentes.

Certamente o juiz Moro pensou estar participando de um daqueles jogos de torcida única.

O jurista José Gregori, ministro da Justiça e secretário de Direitos Humanos de Fernando Henrique Cardoso, disse:

“Na realidade o que parece é que esse juiz (Sérgio Moro) queria era prender o Lula. Não teve a ousadia de fazê-lo e saiu pela tangente”.

Amarelou.

Mas o juiz Moro está em paz consigo mesmo.

Como assim estão os jogadores que estão no futebol chinês, pelo menos aqueles que já não veem o horizonte como algo que nos faz caminhar sempre em busca do inatingível, como dizia Eduardo Galeano falando de utopia.

Para muitos, coisas como um belo tríplex em local paradisíaco protegido por leis que visam preserva-lo é bem mais importante do que sonhos.