Dois dos principais porta-vozes da família Marinho, Ricardo Noblat e Merval Pereira, publicaram textos apontando que as Forças Armadas estão de prontidão para fazer o serviço de organizar o país.
Por Renato Rovai, na Revista Forum
Um texto complementa o outro, até porque a voz que os ditou é a mesma. Artigos como esse são escritos na mesa do dono.
Vamos a trechos:
Noblat:
“A crise ganhou um novo componente. Ele veste farda e tem porte de arma.Sua entrada em cena, ontem, foi o fato mais importante do dia em que o país quase parou, surpreso com o que acontecia em São Paulo.
“Os generais estão temerosos com a conjugação das crises política e econômica e com o que possa derivar disso. Cobram insistentemente aos seus interlocutores do meio civil para que encontrem uma saída.”
“Não sugerem a solução A, B ou C. Respeitada a Constituição, apoiarão qualquer uma – do entendimento em torno de Dilma ao impeachment ou à realização de novas eleições. Mas pedem pressa.”
“Por inviável, mas também por convicções democráticas, descartam intenções golpistas. Só não querem se ver convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem como previsto na Constituição.”
Merval:
“Os confrontos entre petistas e seus adversários políticos nas ruas de diversas capitais do país, enquanto Lula depunha na Polícia Federal, insuflados por uma convocação do presidente do PT Rui Falcão, acendeu a luz amarela nas instituições militares, que pelo artigo 142 da Constituição têm a missão de garantir a ordem pública.”
“O fato de terem oferecido apoio às autoridades civis mostra que, ao contrário de outras ocasiões, os militares não estão dispostos a uma intervenção, que seria rejeitada pelas forças democráticas, mas se preocupam com a crise e se dispõem a auxiliar as autoridades civis em caso de necessidade.”
“As milícias petistas mobilizadas na confrontação física nas ruas podem transformar o país em uma Venezuela, e quanto mais os fatos forem desvelados, mais a resposta violenta será a única saída”
Perceba que na narrativa de ambos são sugeridos “alertas” e apresentado justificativas para uma ação militar em nome de garantir a ordem publica e a paz social.
Ao mesmo tempo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publica hoje um artigo na página 2 do Estadão com o título “Cartas na Mesa”. O tópico frasal é: “É preciso abrir o jogo: não se trata só de Dilma ou do PT, mas da exaustão do atual arranjo político brasileiro“.
Isso pode ser entendido como um sinal para o diálogo.
Mas no meio do texto o ex-presidente depois de falar de tudo que poderia ser feito, solta um parágrafo assim:
“Agora é tarde. Estamos em situação que se aproxima à da Quarta República Francesa” (…). Aqui as Forças Armadas, como é certo, são garantes da ordem, e não atores políticos.”
Parece um sinal de que o ex-presidente sentiu o cheiro de queimado e topa agir como bombeiro. Mas também pode ser um sinal para o PSDB de que os ateadores de fogo já estão na rua e que para se preservar como solução o partido não deve ajudar no serviço sujo.
E no final do artigo FHC coloca na mesa a solução do semi-parlamentarismo. O que no meio de um mandato é também um golpe branco.
Ao mesmo tempo que isso acontece, recebo um alerta de um leitor que me envia, inclusive, o comunicado que um general das Forças Armadas teria enviado a membros do alto comando da corporação.
A Fórum vai checar a autenticidade da mensagem antes de publicá-la. Mas ela teria sido enviada a militares da reserva pró-ativa e chamaria a atenção para a atual situação política do país.
O militar que recebeu o texto na Europa disse que após isso houve um encontro presencial com a tropa onde o alto comando teria inflamado a tropa e reclamado da falta de recursos.
Enfim, são muitos sinais de que um pré 64 está em curso. E, de novo, com apoio das organizações Globo que sempre esteve no mesmo lugar da história.
A foto que ilustra essa matéria é de uma manifestação que ocorreu há pouco na frente da emissora no Rio, com aproximadamente mil pessoas. Na segunda, no Sindicato dos Jornalistas, em São Paulo, haverá um ato contra a postura golpista da Globo. Num momento como esse em que está em jogo o processo democrático não se pode errar o alvo.
Moro é apenas uma peça no tabuleiro, a Globo é o golpe.