Na manhã de sábado de um verão que se aproxima vejo ir-se embora, antes da hora, com pressa, a primavera.
Onde estão as flores?
Foram-se.
Tristes.
Murchas.
Por falta de espaço.
Ocupam-lhes o lugar os sons.
Das balas.
Dos gritos.
Da dor.
Do horror.
Da vergonha.
De onde surgiram esses homens?
De onde surgem?
Do nada?
Do lugar nenhum?
Do vazio?
Sim.
Mas como do nada, do lugar nenhum, do vazio, pode surgir algo?
Da noite escura.
Do preconceito, do ódio, da intolerância.
É daí que surgem as palavras ocas, as atitudes tolas, as ações agressivas.
Eles estão aqui.
Todos os dias.
Ao meu lado.
Ao seu lado.
Ao lado dos nossos filhos.
Apontando o dedo.
Xingando.
Ofendendo.
Agredindo.
Denegrindo.
Difamando.
Atirando.