Plano de voo

 
Por Ronaldo Souza
 
Quando vi a postura do PSDB, particularmente quando li os depoimentos de Aécio e Marcus Pestana sobre a citação do ex-governador de Minas e agora senador pelo PSDB mineiro, Antonio Anastasia, na Lava Jato, de imediato comecei a escrever um texto e o postei aqui com esse título:
 
"Palavra de bandido virou critério de verdade?"
 
Veja alguns trechos. 
 

“Os principais delatores são Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.

Estão fazendo as delações como bandidos confessos que querem atenuar as penas.

Com “munição” deles, a revista Veja, também conhecida como detrito sólido de maré baixa, fez aquela manchete de capa no segundo turno para derrubar Dilma; “Eles sabiam de tudo”, lembra?

Até agora eram tratados pelo PSDB e pela imprensa como fontes fidedignas, as mais confiáveis que podem existir. Tudo que disseram do PT é verdade, não é assim?

Só para reforçar; são bandidos que estão presos e estão tentando aliviar a barra deles.

Diante do depoimento do policial, o que faz o PSDB?

"Palavra de bandido virou critério de verdade?"

Dois bandidos confessos, presos há meses, que já se prontificaram inclusive a devolver os milhões que roubaram, são homens íntegros, de cuja palavra ninguém duvida.

Um membro da Polícia Federal, comandada por um ‘herói’ brasileiro, que os prendeu, agora é um bandido e não se pode confiar na sua palavra, afinal ninguém confia em palavra de bandido.

… Anastasia é inocente.

Tenho absoluta certeza de que a sua inocência será comprovada e o PT não conseguira ‘nivelar por baixo’.

Ele é do PSDB.

Amigo de Aécio.

Basta isso”. 

Há muito tempo já me acostumei com a canalhice da oposição e da imprensa, o que não quer dizer que não fico indignado.

A minha perplexidade não reside aí.

Os espasmos de indignação de alguns jornalistas que compõem a imprensa, ainda que sejam como são os espasmos, esporádicos, parecem querer mostrar que ainda há alguma isenção, algum discernimento, que em alguns casos talvez não se manifestem mais frequentemente por razões profissionais, como a necessidade de preservar o emprego, por exemplo.

É, pelo menos em parte, compreensível e, quem sabe, aceitável.

Mas, fugindo um pouco da sua definição, que implicaria em episódios que se repetem com alguma frequência, não se consegue perceber um único espasmo de discernimento em alguns segmentos da sociedade.

Enquanto na imprensa percebem-se, ou quem sabe seja mais correto dizer, manifestam-se esses momentos de lucidez e discernimento, entre esses segmentos aos quais me referi, nada acontece.

Não há como fugir da expressão manada.

Forma-se uma manada em que nenhuma rês conservou o instinto e a ousadia de se desgarrar, como às vezes ainda se vê no cinema ou na televisão.

É o pensamento único.

Alguém diz.

Ninguém ousa.

Todos fazem.

Na sua revoada, os tucanos arrastam milhares de aves para voos baixos.

Muito baixos.

Por isso não conseguem mais ver o firmamento.

Onde estão as estrelas.