Por Ronaldo Souza
O Brasil saiu do mapa da fome.
O Brasil foi um dos países que mais reduziram a desigualdade salarial na última década.
Notícias que me encheram de enorme alegria e tornaram muito melhor o fim de semana.
Sensacional.
No entanto, flagrei-me de uma certa forma triste quando pensei em, aí sim, de peito aberto, compartilhar.
E isso me incomodou, até por não perceber de imediato a razão ou as razões dessa ausência de entusiasmo, que deveria ser muito grande pela força das notícias.
Mas não demorou muito para descobrir o porque.
A razão da minha alegria é justamente uma das causas do descontentamento de, pasmem, milhares de pessoas nesse país nesses últimos 12 anos e particularmente nos dias atuais.
O que buscam psicólogos e psicanalistas quando tentam ir fundo no inconsciente dos seus pacientes?
O que está lá, bem no fundo, no mais profundo da alma humana.
Diz quem somos.
Uma viagem não poucas vezes perigosa.
Conhecer-se pode revelar a fera que mora em nós.
Assusta?
Quantos sofrem por se verem diferentes?
Quantas vezes a descoberta da sexualidade trouxe insegurança, sofrimento e dor?
Quantos a sufocaram e por quanto tempo?
Quanto sofrimento por esconder algo que não pode se manifestar?
Eu sou preconceituoso.
Eu sou racista.
Eu sou homofóbico.
Quantos você já viu se desnudar?
Quem assume o dizer?
A fome e a desigualdade social existentes no Brasil ferem os princípios mais elementares da condição de ser humano.
Vergonhosas.
Mas verdadeiras.
Quem é contra essa luta?
Onde está esse sentimento tão claro e tão escondido?
Lá.
Onde ninguém vê.
Ah, mas isso nada tem a ver comigo.
A minha luta é contra o comunismo, bolivarianismo, crime de responsabilidade fiscal, corrupção…
Tem certeza?
Olhe-se no espelho.
O da alma.
Brasil foi um dos países que mais reduziram desigualdade salarial na última década, diz OIT
Por Clarice Spitz, em O Globo 05/12/2014
O Brasil e a Argentina foram os países que mais reduziram a desigualdade salarial no mundo na última década, segundo relatório produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), “Global Wage Report 2014/15 Wages and income inequa
lity”, que compara dados de 130 países. Um número significativo de economias emergentes e em desenvolvimento experimentaram declínio na desigualdade em razão da distribuição mais equilibrada dos salários e do emprego assalariado.
Na Argentina e no Brasil, onde a desigualdade registrou as quedas mais intensas, mudanças na distribuição dos salários e emprego assalariado contaram com mais de 87% da redução da desigualdade entre maiores e menores salários na Argentina e 72% no caso brasileiro. Em países desenvolvidos, a renda do trabalho corresponde a cerca de 70% a 80% da renda domiciliar. Em países como Argentina e Brasil, entre 50% e 60%. No Vietnã, 30%.
Em economias desenvolvidas, a desigualdade aumentou devido à combinação de mais desigualdade salarial e perda de empregos. Na Espanha e nos Estados Unidos, dois dos países em que a desigualdade mais aumentou, a piora na distribuição salarial foi responsável por 90% do aumento da desigualdade na Espanha e de 140% nos Estados Unidos.