Entidades ligadas a Direito na Internet criticam Marina por 'respostas vagas'

Por Julianna Granjeia e Sergio Roxo O Globo

SÃO PAULO – A candidata à Presidência Marina Silva (PSB) foi duramente criticada pelos organizadores do encontro "Diálogos Conectados – Um papo sobre direitos e internet" nesta segunda-feira, em São Paulo, por dar "respostas vagas" às questões feitas a ela sobre o tema.

A advogada Flávia Lefévre, da associação de consumidores Proteste, disse que o programa de Marina não "faz qualquer referência às redes fixas públicas de provimento, que, segundo ela, valem R$ 74 bilhões e são responsáveis por mais de 50% dos acessos de banda larga fixa no país, e ao papel da Telebras".

Ao responder, Marina voltou a criticar os adversários por não terem apresentado um programa de governo.

— O plano possibilita isso que está acontecendo aqui. Tenho participado de muitos debates em que a imprensa pergunta muito do plano. Os meus concorrentes perguntam muito do plano. Infelizmente, a presidente Dilma e o governador não apresentaram um plano. Então, eles têm o benefício, entre aspas, porque isso para mim não é benefício, de passarem uma eleição sem apresentarem um plano para que os senhores possam fazer o mesmo — disse Marina, acrescentando que a forma de operacionalização de suas propostas ainda está sendo discutida por seus assessores técnicos.

Pedro Ekman, do Coletivo Brasil de Comunicação Social Intervozes, questionou a candidata pelo fato do PPS, segundo maior partido de sua aliança, ter votado contra o Marco Civil da Internet na Câmara e no Senado e pelo fato do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), candidato a vice na chapa de Marina, ter chamado o documento de "marco servil da internet".

Na resposta, Marina tratou de outros temas e não respondeu sobre a posição de seu vice na votação. Depois, foi alertada por seus assessores e disse que Beto "sempre defendeu o marco" e que não queria que fosse cometida uma "injustiça".

Pressionada durante o debate para se comprometer com a possibilidade d a internet ser considerada um serviço público, Marina admitiu que não discutiu coma campanha sobre o assunto e que seu programa é "vivo", aberto a discussões.

— Não fizemos essa discussão com essa profundidade que vocês estão colocando — afirmou Marina.

A candidata também não respondeu diretamente se é a favor ou contra o patenteamento de softwares e de seres vivos. Ela disse que a argumentação não pode se reduzir a "dualidade opositiva".

No final do evento, os debatedores afirmaram que a postura de Marina demonstrou uma indefinição sobre o tema.

— Foram respostas vagas, como ela disse, ainda está em construção, ela não conseguiu aprofundar muito sobre o assunto e demonstrou uma indefinição na maioria das questões colocadas para ela – afirmou Renata.

‘ACHEI PREOCUPANTE’

Pedro afirmou que Marina abordou três pontos importantes mas que não sabe dizer se as palavras da presidenciável significam compromisso com políticas públicas.

— A gente consegue identificar três pontos importantes, talvez de compromisso, ela falou da internet como direito, da universalização do acesso à internet, e de que se trata sim de um serviço essencial. Eu não sei o quanto dessas palavras indica de fato uma política pública mas para nós é importante porque, caso eleita, poderemos cobrar esses compromissos.

A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, participou do mesmo debate há duas semanas. Em avaliação das duas candidatas, os organizadores afirmaram que Dilma foi mais objetiva e avaliaram como "preocupante" a indefinição de Marina sobre o assunto.

— Dilma tinha mais conhecimento do tema, até por ser presidente e temos que respeitar a diferença (entre as candidatas), mas eu esperava mais da Marina de pelo menos responder algumas questões. Achei preocupante — afirmou Renata Miele, do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé,

O candidato do PSDB, Aécio Neves, foi convidado para o evento, mas ainda não respondeu.

[[youtube?id=q5NaS5_P03s]]