Por Ronaldo Souza
“O Brasil não precisa de gerentes, mas de estrategistas”.
Foi o que disse Marina numa referência direta a Dilma Rousseff.
Está muito claro que ela quis se colocar na condição de estrategista, mais elevada e acima de Dilma Rousseff, esta sim, uma simples gerente.
Para quem se mostra todo o tempo como a humildade personificada, se alguém conseguir encontrar traços de humildade nessa frase, por favor me mostre.
Também me mostre quem souber de onde se pode tirar qualquer conclusão, simples dedução que seja, o que Marina fez na sua carreira política que lhe permita dizer-se estrategista.
Um único momento.
Ninguém sabe?
Mas existe.
A estratégia que não se pode negar a Marina é o planejamento para chegar à disputa do cargo de presidente do Brasil como uma das candidatas favoritas.
Estratégia executada com maestria.
As transversalidades disruptivas etéreas apocalípticas de Marina, o que quer que isso signifique, mas como ela provavelmente diria, fizeram com que ela chegasse à condição atual sem se expor, sem vir às ruas.
Para ficar em um só exemplo, onde estava Marina nas manifestações de junho?
Todos os então candidatos, Dilma, Aécio e Eduardo Campos, “tiveram” que dizer alguma coisa sobre aquele episódio e de alguma forma foram cobrados pelo que disseram ou não disseram, pelo que fizeram ou não fizeram. Sofreram desgastes.
A mídia, ao tentar e conseguir direcionar o movimento não ao sabor dos ventos, mas com os ventos que ela própria produziu, sofreu grande desastre, particularmente a Rede Globo, o que só fez aumentar enormemente o seu desgaste com a opinião pública, particularmente com os mais jovens, com a consequente e assustadora decadência, refletida na contínua perda de audiência.
Por sua vez, o Congresso, no seu eterno processo de autodestruição, sofreu um desgaste enorme, indiferente somente a alguns daqueles que o constituem, pela também eterna irresponsabilidade e descompromisso de boa parte daqueles senhores e senhoras.
De alguma forma todos sofreram as consequências daquele episódio.
Menos Marina.
Quem ouviu a sua voz?
Quem a viu dizer alguma coisa?
Quem a viu defender de fato aqueles manifestantes ou ser contra eles? Quem a viu marcar posição?
Como se tem observado nesses últimos dias, marcar posição não é com ela.
Depois que assimilou bem o processo, veio e disse triunfal:
“O povo está contra tudo que está aí”.
Nesse “tudo que está aí”, claro, não estava ela.
Afinal, ela não é politica.
Ela não faz parte de nenhum partido político.
Ela abomina os partidos e a “velha política”.
Por isso tentava criar a Rede Sustentabilidade.
Não conseguiu.
Não faltou quem dissesse que não conseguiu por conta do caos administrativo que ela representa. Entre eles, Alfredo Sirkis, presidente do PV, sigla pela qual ela tinha disputado a campanha em 2010. E Sirkis estava ao seu lado apoiando-a na tentativa de criar a Rede.
Ali, sem que talvez percebêssemos com muita clareza, começava a se manifestar justamente a ausência de estratégia na Marina estrategista.
Ofereceu-se então a Eduardo Campos (ela própria disse que o procurou) para ser sua vice e, às pressas, filiou-se ao PSB.
Confirmava-se ali a Marina que precisava de um partido, o que a exporia a críticas: em nome de que alguém que condena os políticos e os seus partidos se oferece tão repentinamente a um deles?
Como vice de Eduardo criou-lhe inúmeras dificuldades. Bloqueando esse acordo, não fazer parte daquele grupo, não fazer campanha junto com o PSDB, recusar a participação do agronegócio, ir terminantemente contra a aproximação com os ruralistas e por aí seguiu.
Mas, se o destino foi cruel com Eduardo Campos, também foi cruel com Marina.
O que foi definido por ela mesma como uma “providência divina” parece ter sido na verdade uma crueldade dos deuses. E também parece que os deuses também são chegados a um pouco de crueldade: expuseram-lhe a morbidez de um veloriomício, que foi se mostrando mais claramente à medida que se passavam os dias.
E ao chegar à campanha acima do bem e do mal, Marina se mostrou.
A sua conhecida postura messiânica assumiu contornos preocupantes.
O apelo religioso chocou, mesmo aos mais religiosos, quem sabe até mais a eles.
As suas conversas pessoais com Deus, no tom e no nível em que foram colocadas, foi um acinte à religiosidade e fé de todos.
Nesse processo, o absurdo maior:
“Foi a providência Divina que me tirou daquele avião”.
A providência Divina parecia ter esquecido de que naquele avião estavam outros filhos de Deus.
Nos momentos iniciais principalmente, não era um ser humano que disputava a presidência da república. Parecia ser alguém enviado por Deus:
– Vá e conduza o seu rebanho. Eles precisam encontrar o caminho da verdade, o caminho que só os bons e puros conhecem. Salve-os. Vá e governe com os bons.
Falta-lhe, entretanto, a divindade, que não é do ser humano.
Faltou-lhe a humanidade que os que se julgam predestinados perdem.
As pessoas que ela se imaginava destinada a salvar estavam precisando de alguém real, de carne e osso, como elas.
E começaram a perceber que a “enviada” ora dizia uma coisa, ora dizia outra. E perceberam que esse ora um, ora outro, era direcionado a agradar a todos, mas particularmente a aqueles aos quais ela dizia combater; os poderosos. No campo político e no religioso.
Para os poderosos, por exemplo, perceberam que ela recuava em tudo, mas manteve com firmeza a proposta de autonomia do Banco Central. Apesar das reclamações, dessa não recuou. Ela cumpre o desejo do Banco Itaú e demais bancos privados.
No religioso, obedeceu prontamente às ameaças de um pastor. Se assim não fizesse perderia muitos votos.
Agora, não mais como vice de Eduardo, desfez as inúmeras dificuldades que tinha criado para ele. Desbloqueou os acordos antes proibidos, passou a fazer parte daqueles grupos, campanha com o PSDB, o seu vice-presidente é um homem do agronegócio…
A nova política tinha ficado para trás.
E, diante de tantos recuos seletivos, de tantas idas e vindas, o povo perceb