Por Ronaldo Souza
Não cabe discutir as razões e as formas pelas quais o ser humano busca a sua paz interior.
Respeitem-se todas.
Sem dúvida, porém, a religião é o mais comum e mais forte dos elos de ligação entre o homem e Deus.
Sobre as religiões, da mesma forma, respeitem-se todas.
“A fé remove montanhas”.
Seria inimaginável pensar quantas vezes essa frase é dita.
Nos meus vários momentos de encontros e desencontros comigo mesmo, desde a infância até a fase adulta, uma das minhas angústias era me ver sem a fé no nível em que ela era exigida.
Meus pais eram católicos praticantes, mas posso dizer que tive a sorte de não ter sido cobrado por eles nesse sentido.
O temor a Deus ou a o que quer que seja é a pior coisa que se pode incutir na cabeça de uma criança.
Nenhum temor deveria fazer parte da nossa formação como homens e mulheres.
A vida naturalmente se encarregará de colocar à nossa frente e, possivelmente, não serão poucas vezes, situações em que teremos medo.
E o que é pior do que nos sentirmos acuados, inseguros, com medo?
Mas precisamos viver esses momentos, porque só assim seremos homens e mulheres de verdade.
No entanto, a criação do medo no nosso ser e a sua manipulação em qualquer momento da nossa vida é um absurdo.
O que pensam que conseguem os pais quando dizem “vá dormir se não o bicho vem lhe pegar”, “olhe, se não comer vou chamar aquele monstrinho”, “se não obedecer, papai do Céu vai lhe castigar” e outras coisas mais?
Vão gerar adultos com medo do desconhecido.
Nada pior do que o desconhecido.
Só que a nossa vida é um eterno enfrentamento com o desconhecido, por que ela mostra o novo a todo instante.
E o novo é sempre um desconhecido
Respeitando todas, mas não fazendo parte de nenhuma, é isso que as religiões muitas vezes fazem.
Criar o medo pelo desconhecido. O castigo virá.
Se querem falar de Deus, ótimo, que falem.
Mas como Deus pode ser feitor de coisas ruins?
Como Deus pode castigar uma criança porque ela não fez o que “devia fazer”?
Como Deus pode ser vingativo e querer castigar seus filhos porque eles fraquejam em alguns momentos, quem sabe pela eterna busca de se encontrarem com Ele?
Deus é pai ou recompensador?
Se o castigo virá pelo mau comportamento, a providência Divina também fará de você um escolhido por Deus pelo bom comportamento.
Marina disse que foi a providência Divina quem a salvou daquele acidente que matou Eduardo Campos e os demais passageiros.
Foi Deus quem a tirou daquele voo.
“Penso que há uma providência divina em relação a mim,…”
"Essas coisas não acontecem por acaso, mas sim em nome de algo maior".
Então a providência divina recompensou Marina por ela ser uma boa filha, cumpridora dos desígnios de Deus e matou Eduardo Campos porque ele não era?
Deus escolhe e determina? Mata esse, salva aquele.
Lembrei-me da minha infância e do medo que tinha de não ser merecedor nessas horas.
É assim que se “trabalha” a fé das pessoas?
Dizem os espíritas que nada é por acaso.
Na construção da imagem dos ídolos, dos ícones, dos eleitos pelos deuses, as palavras também não saem ao acaso.
Elas têm um objetivo.
E algumas vezes o objetivo pode ser abominável.