Por Ronaldo Souza
Claro, não gostaria de estar em seu lugar. Não teria forças para isso.
Tratando-se do meu aniversário, pior ainda.
Mas, que bom que é você que está aí e não alguém fraco como muitos de nós que estamos aqui fora.
Lembro daqueles momentos iniciais do “mensalão” (vamos assumi-lo como ele ficou conhecido), quando um deputado aqui da minha Bahia disse: “Sei que Vossa Excelência não é capaz de atos desse tipo porque o conheço, mas…”
Era a hipocrisia se manifestando da forma mais cínica possível.
Esse político, um eterno oportunista que não foi mais eleito e que hoje ocupa uma secretaria qualquer da prefeitura, e outros, ainda presentes na cena política da Bahia, tinham visto alguns poucos anos antes o chefe dizer no seu velho estilo fanfarrão que a palavra renúncia não existia no seu dicionário e foi a primeira coisa que fez, renunciar, quando viu se confirmar a probabilidade da sua cassação no episódio da violação do painel eletrônico do Senado.
E agora estavam ali, com sangue escorrendo pelos cantos da boca, diante do homem que insistia em dizer: “Não vou renunciar. Como poderei renunciar e depois olhar nos olhos do meu eleitor?”
E não renunciou.
Eles não sabem o que é isso. Não é dado a todos os homens saber o que é ser Homem.
Se é verdade que Fernanda Montenegro lhe disse ao encontra-lo em um restaurante “você foi um leão”, eu não sei. Se disse, falou por nós e se não disse, deveria te-lo feito. Se não o fez, eu faço agora: você foi um leão.
Com todos os seus defeitos, afinal um homem comum, mas com a força e a coragem de um homem incomum.
Como é possível dizer a um homem de 68 anos de idade que vai passar na cadeia o dia em que se comemora o seu aniversário, hoje, 16/03, que a História conspira a seu favor?
Conspira Zé, permita-me chama-lo assim, eu que nunca sequer o vi em nenhum lugar desses milhares de quilômetros que separam Salvador de São Paulo.
Quantos homens se tornam mitos? Ninguém é mito por decreto. A caminhada é longa e muitas vezes penosa e você já caminhava para isso. Mas, como disse, ainda seria longa e penosa a sua caminhada.
Mas, aos pequenos homens muitas vezes cabe papel relevante na História.
Teria a força que tem a história da Inconfidência Mineira e de Tiradentes não fosse Joaquim Silvério dos Reis? Teria a força que tem a história de Antônio Conselheiro e Canudos não fosse a covardia dos homens pequenos de então?
Teria a força que teve a reação não só da militância petista, mas de tantas pessoas sem nenhum vínculo com o PT, de patrocinarem um dos momentos mais emblemáticos da nossa história contemporânea, as “vaquinhas” do PT, não fossem a covardia e a pequenez dos nossos pequenos juízes da vida?
Quem tem dúvida de que você vai voltar? Não era esse o temor deles? Por que?
Além da indignidade, da covardia, da falta de caráter, que os tornam menores ainda, qual deles possui a sua coragem e competência política? Qual deles é capaz de enfrenta-lo na arena política?
Por isso é que digo que ainda bem que é você que está aí e não um outro qualquer.
Você, mais do que ninguém, saberá tirar proveito da força que emana desse momento.
Você, mais do que ninguém, saberá identificar o que tudo isso significa.
Parabéns José Dirceu.