Globo descarta Joaquim Barbosa

Por Ronaldo Souza

Já falei várias vezes aqui no site e fora dele que Joaquim Barbosa muito cedo seria descartado pela mesma mídia que o fez “herói”.

Ninguém mais do que ela própria, a mídia, sabia que de herói ele nada tinha, muito pelo contrário. Mas ela precisava. Pena que a sociedade brasileira mais uma vez e como sempre se deixou levar por uma imprensa absolutamente inconsequente e irresponsável.

Está sendo pior do que se esperava e a razão é uma só: Apesar de tudo que fez, atropelando os mais elementares princípios jurídicos e da dignidade humana, Joaquim Barbosa não entregou o prometido. Sai derrotado, desmoralizado e agora começa a ser isolado. Permito-me antever que não vai parar por aí. Mais cedo ou mais tarde, mais coisa vai aparecer, podem esperar.

Recentemente postei dois textos, Até a Folha joga Joaquim Barbosa ao mar e O Estadão também atira Joaquim Barbosa ao mar que falam sobre isso. Agora é a vez da Globo.

No último final de semana, a revista Época, da Rede Globo, publicou uma matéria sobre Joaquim Barbosa. Veja o que diz Zé Augusto sobre a “entrevista”.

Joaquim Barbosa: “Não serei candidato a presidente”

Quem já ouviu a conversa pretensamente elegante na hora de levar um cruel "pé-na-bunda" da namorada ou namorado, sabe do que a revista Época está falando quando fez uma matéria sobre Joaquim Barbosa nesta semana.

Pois a "reportagem" foi exatamente isso. Começa com elogios como "você é bom demais para mim, eu não mereço você, tenho fraquezas demais", como se a carreira política estivesse dizendo isso para Barbosa, para depois dar a "punhalada" final neste parágrafo, que diz tudo:

“Num momento em que o Supremo está dividido pelos traumas do mensalão, existe apenas uma unanimidade entre todos os ministros da Corte – uma unanimidade que se estende à Procuradoria-Geral da República e aos amigos de Joaquim. Caso, por alguma razão insondável, Joaquim mude de ideia e resolva entrar na política, será um desastre para ele, para o Supremo e para a legitimidade do julgamento do mensalão. Mas os ministros mais próximos dele, assim como todos os seus poucos amigos de confiança, têm certeza de que ele diz a verdade quando garante que não dará o salto de 300 metros. Nem o de 100.
 

Cruel! A revista dá um fora até em uma candidatura de Barbosa para senador ou deputado.

De fato concreto, o que existe é uma nota da assessoria do presidente do STF dizendo que não seria candidato a presidente em 2014, mas a nota deixou a porta aberta para ser candidato a outro cargo.

Segundo o repórter da Época, Diego Escosteguy, ele mesmo não entrevistou Barbosa, nem o ouviu. Escreveu que publicava o que fora dito a um "interlocutor curioso" recebido por Barbosa "numa tarde recente e chuvosa em Brasília" (usou até o velho disfarce de narrar o ambiente para impressionar o leitor desatento, diante de uma informação claramente não confirmada).

Do texto se conclui que o repórter sequer ouviu a assessoria de Barbosa para confirmar ou desmentir o que publicou a partir do "interlocutor" oculto ou imaginário.

Ora, qualquer jornalista sabe que matéria feita assim não é reportagem. É fazer publicidade do que a revista (portanto, seus editores e donos) desejam que aconteça. Por outro lado é um recado.

Traduzindo: a Globo está bombardeando a candidatura de Barbosa até ao Senado, porque será "um desastre para a legitimidade do julgamento do mensalão" nas palavras da revista.

Detalhe: foi a mais clara admissão até agora feita por um veículo das organizações Globo da fragilidade jurídica do julgamento, pois bastaria uma decisão pessoal de Barbosa seguir carreira política para desmoronar tudo.

Essa matéria confirma o que a Helena disse meses atrás na nota "Globo dá sinais de que, se farsa ruir, Barbosa é quem vai pagar a conta".

O que a revista da Globo entende por "desastre" seria, primeiro, o reconhecimento popular e internacional amplo de que o julgamento teve uma grande dosagem de conspiração e exploração política, inclusive para Barbosa se lançar candidato. O pêndulo da opinião pública mudaria muito rápido.

Segundo, seria o efeito inverso ao desejado pelos donos da Globo. Ou seja, o PT ganhar, além da presidência da República, mais cadeiras no Congresso Nacional e mais governos estaduais, pois as contradições do mensalão parodoxalmente coloca o PT como partido mais honesto do que os outros, e o discurso udenista dos cínicos acaba por favorecê-lo. Foi o único partido que teve seus membros punidos (e muitos reconhecem que foram injustamente), pois o mensalão tucano, que é mais antigo, continuou na gaveta. O único partido que ao chegar ao governo teve boa-fé de tentar não nomear um engavetador-geral da república. O único que não aparelhou o judiciário. O único partido que é "fiscalizado" (na verdade, perseguido) implacavelmente pela velha imprensa. Aqueles eleitores que não são torcedores demotucanos fanáticos enxergarão isso mais claramente com Barbosa candidato a qualquer coisa, aumentando votos no PT.

Terceiro, com Barbosa no palanque, a dúvida sobre a lisura do julgamento ficaria muito mais evidente, e seria um prato cheio para os advogados abrirem mais rapidamente uma revisão criminal que possa anular as sentenças, de alguns réus em parte, de outros, no todo.

Quarto, as contraprovas, tais como o inquérito 2474, chamado "gavetão", que hoje só a blogosfera, a imprensa alternativa e honrosas exceções de colunistas da "grande" imprensa, como Paulo Moreira Leite e Jânio de Freitas, dão atenção, ganharia ares de escândalo de grandes proporções. Não teria mais como fechar a panela de pressão depois de explodir.

Quinto, no Congresso Nacional se poderia até abrir uma CPI do processo do mensalão. E advinha quem estaria no olho do furacão? Não seria só Barbosa, seria também a própria Globo, com o dinheiro que recebeu do "mensalão", com o bônus de volume que remunerava as agências de publicidade de Marcos Valério, com depoimentos de ex-jornalistas da emissora testemunhando as ordens que recebiam quando trabalharam lá em 2005 e 2006, as notícias que omitiam ou deixavam de apurar. E muitas outras coisas ainda não reveladas, pelo menos ao grande público.

Tudo isso explica a nada sutil "reportagem" da revista Época, dando um fim, o famoso pé-na-bunda, ao namoro.

Outras pérolas da matéria na revista Época:

“Trezentos metros separam o Palácio do Planalto da presidência do Supremo Tribunal federal (…) o homem que muitos brasileiros gostariam de ver do outro lado da Praça dos Três Poderes (…) Parece bastar um pulinho. Mas requer um salto suicida. Joaquim sabe disso. O interlocutor observou que Joaquim não teria aptidão para entrar na política”.