Urubus em voo rasteiro

Por Ronaldo Souza

Arnaldo Jabor tem duas características que me chamam a atenção: uma é a sua raiva da vida, a outra é que ele é aquele cara que entende tudo de nada. É impressionante como ele fala de tudo com enorme conhecimento. E, interessante, tem quem acredite nele.

Não falo sobre alguns temas. A razão é simples; sobre esses temas, entendo pouco ou nada. Não há, por exemplo, um único texto meu falando de economia. Se os economistas não sabem o que falam, vou eu me meter nisso? Tá louco!

Mas vejo com alguma frequência muitos “Jabor” falando do assunto. E na Internet, terra de todos e de ninguém, é festa. “A nossa economia está ladeira abaixo, incrível. A inflação, totalmente descontrolada. E o superávit primário, nossa!!!, ‘tá um horror…”

Há pouco tempo quem deu um verdadeiro show foi uma das economistas da Globo, Ana Maria Braga, inclusive usando um recurso didático simplesmente fantástico. Como o tomate estava com o preço elevado (segundo os economistas da mídia, inflação estratosférica, segundo o quitandeiro da esquina, questões sazonais), ela usou um colar de tomates no programa dela. Do que não são capazes esses grandes economistas, não é verdade? Usam todos os recursos disponíveis para explicar para nós, pobres mortais, o porque do total descontrole da inflação.

No outro dia, o preço do tomate despencou.

Ficamos todos preocupados com a nossa cansada Ana Maria Braga (musa do movimento CANSEI, juntamente com Hebe Camargo, Regina Duarte – tô com medo – e Ivete Sangalo) diante de uma eventual subida no preço da melancia. Particularmente, fiquei aflito só de imaginar a Globo mandando usar um colar de melancias.

Diante da inflação descontrolada que me ronda todos os dias, resolvi fazer alguma coisa. Pensei até em tentar um contato com Jabor, ou com Marcelo Madureira (sim, ele mesmo, aquele “rumorista” – que espalha rumores – do Casseta & Planeta, que nas horas vagas é economista / analista político / sociólogo / historiador / pedagogo / intelectual / membro da Academia Brasileira de Letras), ou com Marco Antônio Villa (Lula acabou), para me orientar, mas desisti. Cheguei até a pensar em ligar para alguns colegas que entendem muito de economia, mas terminei esquecendo.

Opa, alguém acabou de me dizer aqui que Marcelo Madureira ainda não é membro da Academia Brasileira de Letras. Não importa, vai ser. Se Merval Pereira conseguiu, por que ele não consegue? Trabalham na mesma empresa.

É claro que a essa altura eu já estava em pânico. Apesar de há onze anos a mídia afirmar que a inflação está chegando (cheguei a imagina-la como um tsunami descontrolado destruindo as nossas vidas) e ela nunca chegar, passaram esse ano dizendo que agora não tinha jeito, ela finalmente se descontrolara e já ia chegar amanhã. Como vocês queriam que eu ficasse?

Aí, como que ao acaso, li o texto de Fernando Brito (depois li outros) e não entendi nada. Brito diz que “não haveria uma explosão inflacionária”, que “vamos fechar o ano, provavelmente, com uma inflação ligeiramente menor que a de 2012…, ou seja, no meio do caminho entre a meta de 4,5% e o teto de 6,5%”.

Gente, como é que posso entender um negócio desse? Os “caras” passam o ano todo dizendo que a inflação está descontrolada, ninguém segura mais e aí chega o final do ano, vem o IBGE e diz que não é nada disso. Ou seja, terminou o ano e mais uma vez não veio a tal da inflação descontrolada.

Veja o texto de Fernando Brito:

A inflação não estourou, o sup
eravit não desabou. O que vem aí, agora?

 

Por Fernando Brito, no Tijolaço 

O índice de inflação de novembro, divulgado agora há pouco pelo IBGE, confirmou o que qualquer pessoa que examinasse serenamente a sua evolução já podia prever desde o primeiro semestre: não haveria uma explosão inflacionária.

A melhor notícia é que o INPC, que mede a variação dos preços para as famílias de menor renda (até cinco salários mínimos) inverteu a tendência do primeiro semestre e seguiu abaixo do IPCA.

Vamos fechar o ano, provavelmente, com uma inflação ligeiramente menor  – dois a três décimos de ponto percentual – que a de 5,84% de 2012.

Ou seja, no meio do caminho entre a meta de 4,5% e o teto de 6,5%, aquele que ia explodir, você se recorda?

Não se quer dizer que não houve elevação de preços. Houve, e no que é mais sensível aos pobres: os alimentos, que subiram 8,37% no acumulado em 12 meses, muito mais que o conjunto dos preços.

Sem isso, teríamos ficado exatamente no centro da meta ou, até, um pouco abaixo.

E, é claro, não foi a Taxa Selic que fez o preço do tomate subir, cair, subir de novo e cair outra vez -.

Cessada a histeria com a explosão inflacionária que não veio, começou a do superavit primário.

Que, também, caiu por terra ontem, quando surgiram os dados da arrecadação do Refis.

Mas a turma da grana está pedindo mais juros, ainda.

A pressão agora será no dólar, que está evidentemente forçando a resistência do Banco Central.

Os “fundamentos econômicos” para o mercado financeiro do dia a dia, é tão importante quanto a preservação das espécies num mercado de peixes de madrugada. 

Obs. do Falando da Vida – Conhece aquela piadinha “a volta dos que não foram”?. Pois é, em 2014 (vixe Maria, ano de eleições) a inflação que nunca veio estará de volta.