Por Ronaldo Souza
Basicamente, um motivo foi utilizado como argumento por políticos que deixaram o PT; o afastamento do partido dos seus ideais. Plínio de Arruda Sampaio, Chico Alencar e Luiza Erundina são exemplos desse processo.
Sempre tive respeito por eles e, apesar de nas suas novas siglas algumas vezes assumirem posições equivocadas, conservo esse respeito.
Marina é outro exemplo.
Criada no PT, pelo PT e por Lula, Marina conheceu e conviveu com alguns dos grandes militantes de ideias progressistas do país. Mas ela também deixou o partido alegando a mesma razão. A insatisfação pelos rumos que o PT tomava. A imagem da doce, pura e idealista Marina começava a ser criada.
Sempre se soube, entretanto, que não era exatamente aquilo que mostrava.
Se por gente como Plínio de Arruda Sampaio e Chico Alencar, ambos do PSOL, e Luiza Erundina (PSB) conservei o respeito, com Marina, confesso, tive dificuldades.
Você nunca teve um amigo que “de repente” muda de comportamento e lhe surpreende, geralmente negativamente? Há quem diga que as pessoas não mudam, elas se mostram diante da oportunidade. O povo, na sua sabedoria, define bem; “a ocasião faz o ladrão”.
Teria Marina mudado ou simplesmente ela está simplesmente mostrando a Marina que existe por trás da doce e pura Marina? Como explicar mudanças tão bruscas e tão intensas? Para que melhor exemplo do que Joaquim Barbosa, o Ministro do STF?
Democratizar a Democracia
Não falo pelo vazio cada vez mais claro de quem diz que vai “democratizar a democracia”. Isso já foi diagnosticado. Ela se tornou expert em encher de vazio a metade vazia do copo.
Como disse Carlos Alberto Saraiva no Blog do Saraiva, “o discurso de Marina é recheado de frases de efeito sempre puxando para um suposto ‘novo jeito de fazer política’, ‘acima da esquerda e direita’, ‘não é oposição, nem situação’, ‘resgatar a ética’, ‘não tem movimentos sociais por trás’, ‘não fuma, nem bebe’ e blá-blá-blá para ser politicamente correto, agradar a todos e não desagradar ninguém”.
"(…) pragmatismo programático e inflexão performática da disruptura". Meu Deus, o que é isso?
Há pessoas que não resistem a um discurso. Ficaram famosos em algumas pequenas cidades do interior aqueles oradores populares que nos enterros eram chamados para falar alguma coisa, enaltecer o morto. Para as pessoas simples e humildes daquelas cidades, eram discursos sábios de pessoas proeminentes. A absoluta ausência de nexo entre as palavras e o vazio delas ficavam escondidos no desconhecimento do que significavam aquelas “belas” frases.
Marina se vê hoje como uma palestrante com grande conhecimento do que fala. Não é verdade. Ela é mais um daquele tipo que fala de coisas sobre as quais pouco ou nada sabe. Alguns são muito criativos.
Presto a minha homenagem a esses oradores.
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No entanto, se fosse só esse o problema de Marina, como recrimina-la por uma característica? A questão é outra.
O problema é que, como alguém já comentou, “está se tornando hábito, a esperta missionária pular de um galho pro outro com astuciosa habilidade…”
No início cheguei a pensar que Marina tinha perdido o encanto que as pessoas viam nela. Não. Ela se perdeu. Completamente. E todos estão percebendo. E comentando.
Imagino como os marinistas devem estar perdidos, sem entender nada.
O pouco conhecido autoritarismo de Marina veio à tona e quem o mostrou foi um velho companheiro, que migrou com ela para o PSB. Segundo o deputado
Alfredo Sirkis, parceiro de Marina há algum tempo, ela “cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus pares”.
Marina foi, por exemplo, extremamente indelicada, autoritária e cruel quando exigiu a retirada do texto do vice-presidente do PSB do site do partido. Roberto Amaral, um dos políticos respeitados do Brasil e que até um dia desses era o presidente do PSB foi desrespeitado e humilhado pela exigência de Marina.
Outro fato que chamou a atenção foi a pressão absurda que tentou fazer para inscrever o seu partido-que-não é partido-é rede-uma rede que é partido, no TSE. Diante do claro descumprimento das exigências do TSE para a inscrição de partidos políticos, foi no mínimo ridícula a sua postura tentando pressionar aquele tribunal para ignorar as normas e referendar a inscrição.
E finalmente. A sua marca, o seu slogan, a sustentabilidade, caiu por terra definitivamente. Que tipo de sustentabilidade Marina pode imaginar para o país se dois dos seus maiores patrocinadores, Natura e Banco Itaú, devem ao povo brasileiro R$ 628 milhões e R$ 18,7 bilhões respectivamente, por sonegação. Isso é insustentável.
Marina como ela é nada tem a ver com a doce, pura e evangélica Marina.
Marina não se perdeu. Ela se mostrou.
Marina nasceu no Acre, mas fixou residência no Itaú.