Itaú cria sua própria rede. Mas ainda não é o partido
Banco da família Setubal muda o nome da empresa de cartões Redecard, onde foram investidos R$ 11 bilhões, para Rede, revelando que a aproximação entre o grupo financeiro e a então candidata Marina Silva era mais do que política; traria também sinergias empresariais; Neca Setubal, uma das donas do banco, foi uma das principais financiadoras da Rede Sustentabilidade, que naufragou por falta de assinaturas; no entanto, mesmo fora da corrida presidencial, Marina Silva continua defendendo o "tripé macroeconômico", que traria juros maiores, e vem tentando aproximar o candidato Eduardo Campos de seus apoiadores
Com uma ampla campanha publicitária, o Itaú anuncia hoje que a empresa de cartões Redecard, na qual investiu R$ 11 bilhões para recomprar as ações e fechar o capital, passa a se chamar Rede. O mesmo nome do partido que Marina Silva tentou criar e não conseguiu por falta de assinaturas.
Ou seja: ainda que não tenha o seu partido político, o banco da família Setubal já criou sua própria rede. Coincidência? Pode ser. Mas tudo indica que a aproximação entre o maior grupo financeiro do país e a pré-candidata Marina Silva não era apenas o encontro entre duas idealistas: a ex-seringueira que se tornou política e a herdeira Neca Setúbal, que já financiou alguns projetos na área cultural de resgate da memória e das tradições paulistas. Era também um negócio, com implicações empresariais. Do contrário, por que duas marcas idênticas: uma na política, uma nos negócios?
Sem o partido, Marina se filiou ao PSB e já deixou claro que seu candidato será Eduardo Campos, como fez na entrevista ao programa Roda Viva, nesta segunda-feira. Mas ela não tem perdido oportunidades de aproximar o candidato socialista de seus principais apoiadores, como os empresários Neca Setubal, do Itaú, e Guilherme Leal, da Natura, bem como de seus gurus na área econômica: os economistas Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Resende.
Marina também tem sido a mais enfática defensora do chamado "tripé macroeconômico", marcado por fortes superávits fiscais, câmbio totalmente flutuante e a busca da inflação no centro da meta – cuja consequência seria uma taxa de juros mais alta, ao agrado de grupos financeiros como o Itaú.
Fora da corrida presidencial, Marina Silva, ao menos, se livrou de um constrangimento: o de ter uma empresa financeira rebatizada com o nome de seu partido político.