Por Ronaldo Souza
Talvez não seja tão simples nos tempos atuais não ficar um pouco triste.
Se olho para a profissão, só vejo tirarem proveito dela. Foi-se o tempo em que ensinávamos? Em que tempo estamos? No tempo de, ao inves de dar, tirar de quem nos procura? Estamos para brindar pelo que entra como dividendos e não mais pelo que sai dos nossos corações e almas como orientadores do futuro de jovens que ainda buscam alguma coisa? Tornaram-se eles o nosso meio de vida?
Que maravilha ser professor. Quantos cargos imponentes. Diretor, chefe de departamento, coordenador de núcleo, homenagens, melhor amigo, melhor isso, melhor aquilo, tantos trabalhos, tantas publicações… e os nossos alunos buscando seguir os nossos passos. Que passos, se estamos perdidos? E os meninos e meninas, completamente desnorteados, achando que os parâmetros que estabelecemos para nós são os que devem estabelecer para eles próprios.
Se olho para o mundo só vejo dedos apontando para os erros. Que não sejam os nossos ou dos nossos. Os daqueles que não rezam na nossa cartilha. Só vejo dedos acusando alguém de algo. Só vejo autoridades ignorantes e descomprometidas me dizendo o que fazer. Ninguém quer me perimitir ser eu.
Eu quero ser o marginal, aquele que vive à margem do que você determina, aquele que não lhe obedece porque você não merece e não tem competência para ser seguido. Eu quero escolher, errar, acertar e depois, lá na frente, olhar para trás e dizer: EU FIZ. Resta-me torcer para quando chegar esse momento poder contabilizar mais acertos do que erros, porque ambos, erros e acertos, estarão comigo. E aí terei feito as minhas escolhas, terei vivido a minha vida. Os pecados e glórias serão meus porque é minha a vida. E aí direi aos meus filhos; sejam.
Onde eu vou encontrar esse mundo? Onde você vai encontrar? Não vamos encontrar. Simplesmente não vamos encontrar. Nós temos que construir.
Não se trata de ser ateu ou religioso, como pode parecer que é a discussão travada nesse encontro, do qual o vídeo só mostra a fala final de Hitchens. Não, é algo muito maior. A discussão é sobre o direito de escolher os caminhos que se quer seguir. É sobre dar às pessoas, particularmente aos jovens, à criança, como diz Hitchens, o direito de construir suas vidas. E essa discussão tem que ser travada todos os dias.
Não quero um mundo em que me digam; faça. Quero um mundo em que façam comigo.
Quero fazer o meu mundo.
Mas como posso fazer o meu mundo sem a base para isso? Como posso construir o meu mundo? Vivendo a vida dos meus pais, dos meus professores, dos “professadores” da verdade?
Vivendo a minha. Crescendo. Amadurecendo.
Como é difícil.
Vive-se cada vez mais a vida do outro. Somos cópias. Somos manada.
"A gente nasce primeiro para os outros. Há um dia em que nascemos para nós mesmos.”
Essa frase é de um personagem do livro “Antes, o verão”, de Carlos Heitor Cony.
O seu primeiro nascimento não é escolha sua. O segundo é.
“Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer…”
(Geraldo Vandré)
Seja feliz.
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