Por Ronaldo Souza
Inspirada na Ópera de três vinténs, de Bertold Brecht, e estrelada por grandes atores, como Otávio Augusto (sempre muito bom), Marieta Severo, Elba Ramalho e outros, a peça teatral A Ópera do Malandro (Chico Buarque) foi levada também ao cinema, dessa vez escrita por Chico em parceria com Ruy Guerra e Orlando Senna, tendo como intérpretes Edson Celulari (muito bem), Elba Ramalho e Cláudia Ohana.
A cena do “duelo” na dança de Marieta Severo e Elba Ramalho (peça) e Elba Ramalho e Cláudia Ohana (filme) é impagável.
Grandes sucessos, peça e filme, retratam a vida do bom malandro carioca.
A malandragem sempre foi enaltecida no Brasil e quem também fez isso com grande maestria foi Chico Anysio, o grande mestre na arte do humor; Azambuja é inesquecível.
Que me perdoe Chico Buarque por usar o nome de sua peça para falar de outro tipo de malandro, no pior sentido da palavra, um desqualificado.
O ainda por investigar, que nem precisa investigar, porque todo mundo já sabe o que ocorreu e não vai ser investigado, o episódio da família Queiroz e seus vídeos indecentes mostra o pior dos malandros, o malandro deplorável.
O malandro sem caráter.
Mas nada a ver com Macunaíma, um herói sem caráter, livro de Mário de Andrade, também levado ao cinema, com Grande Otelo no papel de Macunaíma.
Após divulgar um vídeo vergonhoso, Queiroz, o bom samaritano que deposita dinheiro mensalmente em contas bancárias de pessoas necessitadas, foi “orientado” a desfazer o deboche que ele fez com o povo brasileiro, principalmente os eleitores do presidente eleito (será que perceberam?).
E aí fez um vídeo mais vergonhoso ainda.
O primeiro vídeo seria mais aceitável porque mostraria um momento de explosão da canalhice de um farsante. E explosão de sentimento tende a ser uma coisa “autêntica”, mesmo sendo de uma canalhice.
O segundo, não.
Mostra a farsa canalha do farsante.
Nada ali é digno de qualquer coisa.
Preciso que você veja o primeiro vídeo outra vez.
https://www.youtube.com/watch?v=LOJpga62Pow
Agora veja o que foi feito para corrigir o primeiro.
Vamos lá
- Aquela blusa salmão (rosa?) e o shortinho são comuns em quem está internado para ser operado no dia seguinte ou o comum é aquela “roupinha bonitinha amarrada por trás” e que ninguém gosta?
- Em que hospital um paciente que vai remover um tumor cancerígeno no intestino estaria “trajado” daquela forma e teria permissão para fazer aquele barulho na ‘enfermaria’?
Queiroz – “… foram 5 segundos que eu quis dar de alegria a uma tristeza que se tomava conta dentro da enfermaria que eu me encontrava…”
- Aquilo é uma enfermaria, como diz o Sr. Queiroz? Onde estão os leitos vizinhos e as pessoas que estavam tomadas de grande tristeza a quem ele quis dar 5 segundos de alegria? Será que eles acharam que ninguém ia perceber que aquilo é um apartamento e dos bons? Tem qualquer semelhança com o ambiente do segundo vídeo, este sim armado para parecer com uma enfermaria (tem até santinha na mesinha ao lado)?
Queiroz – “… eu fui submetido a uma cirurgia no dia primeiro, graças a Deus o tumor foi eliminado…”
- Se a alegria incontida se devia à remoção do tumor intestinal, nada mais justo que a celebração. Ocorre que após uma cirurgia desse porte, ninguém teria condições físicas de comemorar daquela maneira, com aquela disposição e equipe médica nenhuma permitiria aquilo. Sendo assim, deve-se deduzir que se fosse assim como ele tenta mostrar, teria sido na noite anterior, o que nos leva de volta às considerações já feitas.
Toda a equipe de produção que compõe essa ópera é da pior qualidade, com atores e diretores bem canastrões.
E ela precisa de uma plateia a altura de suas encenações.
E tem.
E a plateia ainda aplaude, ainda pede bis
A plateia só deseja ser feliz.
Gonzaguinha