Passei alguns anos “afastado” do futebol. Para se ter uma idéia, fiz isso quando o Bahia foi campeão brasileiro de 1988, título ganho no começo de 1989. Isso significa que quando saí do futebol o Bahia estava no auge, portanto, não foi porque o meu time estava mau, muito pelo contrário.
Foram várias as razões para esse afastamento, mas todas desaguavam em um aspecto: o desencantamento com as coisas do futebol. Nesse desencantamento, coisas menores e coisas maiores, algumas muito sérias.
Comecei a ensaiar a minha volta nesses últimos 2 a 3 anos e algo como um fechamento desse processo se deu no ano passado, na volta do Bahia à primeira divisão. Voltei com o Bahia.
Volto, portanto, cerca de 20 anos depois. Precisava fazer isso. O futebol não podia deixar de fazer parte da minha vida, como sempre fez. E aí vejo que, natural da vida, em vinte anos muitas coisas mudam, mas parece que outras não.
Ainda garoto, até por influência dos adultos, criei determinados hábitos. Um deles, provavelmente por ser de uma cidade do interior da Bahia (Juazeiro), que aqui representa as cidades do interior do Brasil, o de admirar os homens do rádio (não tínhamos televisão, o que só vim a conhecer quando aos 11 anos vim morar em Salvador). Quando se fala em homens do rádio, entenda-se do Rio de Janeiro, já que àquela época São Paulo não existia para aquele menino do interior.
A minha infância, sempre gostosa de rememorar, vem à tona para me incomodar (clique aqui para ler http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages//posts/o-menino-de-juazeiro303.php). A minha inocência se foi.
A cada jogo de futebol vemos “Galvão, filma nós”, “mãe, tô na Globo” e outras preciosidades do gênero. Essas carências são conhecidas. Qualquer sociólogo de beira de rua explica isso. São esses mesmos torcedores que se reportam aos programas para dizer um monte de coisa, inclusive para se queixarem de que não falam dos seus times, só falam desse time, só falam daquele time, e por aí vai.
Não conhecia o ESPN, portanto conhecia muito pouco os seus profissionais. Numa tentativa de sair do futebol da Globo, por conhece-lo relativamennte bem, vi alguns programas do ESPN. Apesar de ver algumas coisas interessantes, não me animei.
Flamengo 1X3 Bahia. Antevendo o que iria acontecer, assisti ao Linha de Passe. O Flamengo foi um desastre, o Flamengo não jogou nada, aquela história do “pum” foi ridícula, o Flamengo sem Ronaldinho (malabarista de sinaleira) não joga nada… Somente aí percebi como foi o jogo: Flamengo 1X3. Não, você não está lendo errado, nem houve erro de digitação. O Flamengo perdeu para o abstrato. Ele entrou em campo, não jogou bem e as bolas foram entrando no seu gol, um fenômeno que carece de explicação.
Deixei de ver o ESPN também. Esqueça a explicação, porque tentar fazer isso seria desconsiderar a inteligência das pessoas, inteligência essa que muitas vezes falta aos nossos sábios homens, outrora do rádio, agora também da televisão. Acho que por coisas como essa é que Nietzsche diz que “a inteligência do homem tem limites, a estupidez não”.
Vamos tocar a vida!
Fluminense 0X3 Bahia. Vou voltar lá. Fernando (Calazans), papai Joel interrompeu a subida do Fluminense… Não, o Fluminense não tem um grande time… vai ficar ali no meio da tabela, não quer dizer nada, mas uma coisa me chamou a atenção!!! Suspense. O pobre torcedor do Bahia imaginou; vai dizer que o Bahia jogou mais ou menos… a pancadaria do Bahia. Como o Bahia bateu nesse jogo. O Fred tomou uma pancada, ficou com a perna ferida, foi mostrar ao juiz, tomou cartão amarelo, um absurdo (devidamente endossado por outros membros da mesa).
Fez o gesto para mostrar o jogador que levanta demais a perna para tirar a bola e deixa ela lá para mostrar o cartão de visitas. Na volta do cartão de visitas, é comum que a perna do atacante fique arranhada, um lance que nunca, vou repetir, nunca provocou uma contusão em nenhum jogador. Um lance espalhafatoso, mas que não tira ninguém do jogo. Deve ser punido? Sim, pela intenção e grosseria do lance em si, não pela contundência.
O jogador Titi, do Bahia, não sabe, mas inventou uma jogada que existe desde quando eu ouvia no rádio na minha Juazeiro os jogos do Fluminense do Rio (àquela época, time do meu pai, meu e do meu irmão).
Recordo, por exemplo, que Abel, atual técnico do Fluminense, nunca fez jogadas desse tipo. Sempre foi um zagueiro que se caracterizou pela delicadeza com que jogava. Defendendo esse tipo de lance? Jamais. Só estou tentando mostrar que o zagueiro do Bahia não é o descobridor da pólvora. Ah, ia esquecendo. Fui ver a estatística do jogo: o Bahia cometeu 21 faltas, o Fluminense 18.
Mas o senhor Fernando Calazans esqueceu de comentar, talvez por não ter passado na sua televisão, que, segundo o globoesporte.com, “a partida teve muitos lances ríspidos, como uma entrada de Edinho em Lulinha que deixou marcas na perna do meia”. Devo esclarecer que Edinho é jogador do Fluminense e Lulinha meia do Bahia.
Na verdade, não foi na volta do cartão de visitas, que, quando muito, arranha a perna do jogador, como aconteceu com Fred (volto a dizer, atitude condenável). Edinho, jogador do Fluminense, quase quebra a perna de Lulinha, jogador do Bahia. Abriu a perna dele do joelho à metade da canela.
Será que alguém aí está pensando que me irritei, fiquei nervoso com o comentário? Não, fiquei não. E é isso que me preocupa. Estou com medo de me desencantar com o futebol outra vez. O Bahia não entra em campo e quando entra está batendo demais.
Não se preocupem, ainda verei alguns programas esportivos, ainda que em alguns desses momentos tenha que lembrar de Nietzsche.