Não é a primeira vez que um livro aborda o tema das privatizações. Outros já o fizeram e pode ser citado “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi que, é lógico, também foi boicotado pela grande (?) imprensa.
Mas, voltemos ao “A Privataria Tucana”.
O livro foi lançado no dia 09 de dezembro de 2011, uma sexta-feira. Não há registro na história do jornalismo brasileiro de um livro com tamanha documentação. São 340 páginas, sendo 112 só com documentos mostrando toda a corrupção que houve no processo de privatização durante os governos de Fernando Henrique Cardoso. Documentos legalmente conseguidos em cartórios, juntas comerciais, Ministério Público Federal, na Justiça e em paraísos fiscais. Tanto é que todos estão temendo processar o autor do livro e a editora, porque ambos possuem mais documentos que poderão mostrar assim que necessário (já se fala em um segundo livro) e o autor está pedindo, na verdade desafiando, que o processem. Para entender o porque disso, procure saber o que é “exceção da verdade”, um dos recursos que Amaury Ribeiro Jr. usou para ter acesso a alguns dos documentos apresentados.
Você deve ter visto inúmeras vezes aquelas reportagens fantásticas da Globo toda vez que surge um malfeito de alguém que possa ter qualquer ligação com o governo. Aqueles diversos textos, de onde saem em destaque os pontos mais importantes que comprovariam a corrupção. Começam já na primeira manchete do Jornal Nacional, com o semblante compenetrado e a voz empostada de Wiliam Bonner. É assim todas as vezes.
Já são 4 semanas do lançamento do “A Privataria Tucana”, o livro mais documentado do jornalismo brasileiro. Está batendo todos os recordes de vendagem no Brasil (primeiro lugar nos sites das livrarias Cultura, Saraiva, Folha e Siciliano), mas é bem provável que muitos não saibam da sua existência. É bem provável que muitos não saibam que uma CPI (a CPI da privataria tucana, como está sendo chamada), já foi protocolada na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados agora em dezembro e que o PSDB já está se mobilizando para que ela não aconteça.
Apesar de tudo isso, decorridas 4 semanas do lançamento e de sucesso do livro, não houve uma única reportagem por parte da grande (?) mídia. Aquelas reportagens fantásticas da Globo toda vez que surge um malfeito de alguém (!!!) não aconteceram. As primeiras manchetes do Jornal Nacional com o semblante compenetrado e a voz empostada de Wiliam Bonner por repetidos dias também não. Aqueles diversos textos, de onde saem em destaque os pontos mais importantes que comprovariam a corrupção também não estão sendo vistos. Dessa vez foi diferente.
A revista VEJA, tão preocupada com a corrupção no Brasil, tão pródiga em manchetes e reportagens sensacionais cada vez que isso acontece (segundo ela, todos os dias), não se manifestou. Não houve uma única reportagem sobre o assunto e manchetes sensacionais e reportagens de capa durante semanas, nem pensar. Pelo mesmo caminho, a Folha e o Estadão. Ignoraram solenemente o livro. Por que será?
Mesmo assim, com um boicote jamais visto no jornalismo brasileiro, recorde absoluto de vendas. Mais uma vez a resposta é Internet. Apesar da força dos órgãos de imprensa, tão poderosos na sua capacidade de manipulação da mente humana, ainda que incipiente há hoje um contraponto: a blogosfera.
Finalmente, vamos ao livro, pelo menos a algumas das suas passagens.
Apesar de na campanha presidencial de 2010 ter havido a negação do desejo de privatizar tudo no Brasil, inclusive o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobrás, algumas frases e diálogos ficaram famosos e estão no livro:
“É preciso dizer sempre e em todo lugar que este governo não retarda privatização, não é contra nenhuma privatização e vai vender tudo que der para vender” (Fernando Henrique Cardoso). Página 36.
“Só um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixa e móvel” (Luis Carlos Bresser Pereira, ex-ministro de FHC, criticando a privatização da telefonia). Página 68.
O Banco Opportunity (de Daniel Dantas) estava com um problema de fiança para participar do leilão das telefonias. Luis Carlos Mendonça de Barros (presidente do BNDES e depois Ministro das Comunicações) liga para Ricardo Sérgio (diretor do setor internacional do Banco do Brasil), segundo o livro um dos mentores e principais envolvidos no desvio de dinheiro das privatizações e fala; “Não dá para o Banco do Brasil dar a fiança”? “Acabei de dar”, responde Ricardo Sérgio, que conseguiu R$874 milhões para o consórcio de Dantas e acrescenta aquela que seria a frase mais famosa das privatizações: “Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade. Na hora que der merda, estamos juntos desde o início” (página 73). Devo ressaltar que essa frase vazou na época e a gravação foi colocada no ar pelas televisões.
Com relação ao apoio da grande (?) imprensa, outro diálogo ficou muito conhecido e agora é relembrado.
“A imprensa está muito favorável, com muitos editoriais”, comenta Mendonça de Barros.
“Está demais, né, estão exagerando até”, diz FHC (página 73).
Gregório Marins Preciado, o “espanhol”, como é conhecido, é casado com uma prima de Serra e também um dos principais envolvidos no desvio de dinheiro das privatizações. Adquiriu 3 estatais de energia elétrica, entre as quais a Coelba, da Bahia (página 170), e hoje é dono de uma mansão de US$1 milhão (notou que é de dólares?) em Trancoso (sul d
a Bahia), onde Serra se hospedava e passou o réveillon de 2010 (página 171). Serra agora se hospeda na casa de sua filha, Verônica, que também comprou uma mansão em Trancoso.
Pois bem, Amaury Ribeiro Jr. narra um episódio que envolve Paulo Souto (afilhado político de Antônio Carlos Magalhães). Logo após a derrota para Jacques Wagner, no final do seu mandato como governador da Bahia em 2006 Paulo Souto doou a Gregório Marins Preciado a ilha do Urubu, um recanto paradisíaco considerado uma das áreas mais valorizadas do litoral do Atlântico (página 173).
Vale a pena a leitura. Algo que já se sabia, agora devidamente documentado.
PS. Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma (Joseph Pulitzer).
Abaixo, coloquei alguns links para que você possa ver alguns vídeos sobre o lançamento do livro.