A Veja vende o que diz?

Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo, afirma que a circulação real hoje situa-se entre 100 mil e 200 mil exemplares, ao contrário do 1 milhão anunciado pela editora ao mercado; ele publica ainda foto da revista vendida "a preço de banana" no centro do Rio de Janeiro

Ex-diretor da Abril questiona números de Veja

Brasil 247

O jornalista Paulo Nogueira, ex-diretor da Abril, hoje à frente do Diário do Centro do Mundo, decidiu tocar num tabu do mercado editorial: a real circulação da revista Veja. Embora a Abril anuncie ao mercado uma tiragem semanal de 1 milhão de exemplares, ele, que foi da casa, aponta números entre 100 mil e 200 mil exemplares. Aliás, durante muito tempo, o IVC, Instituto Verificador de Circulação, foi chamado de Instituto Victor Civita, fundador da Abril.

Em seu artigo, Nogueira publica ainda uma foto de exemplares de Veja em liquidação no centro do Rio de Janeiro. Para ele, a revista é vendida a preço de banana. Leia abaixo:

A Veja vendida a preço de banana mostra a agonia das revistas no Brasil

Depois dos rojões do lançamento de uma revista, vem o duro contacto com a realidade das vendas.

Sabemos todos o que está acontecendo com as revistas. A segunda maior revista de informações do mundo, a Newsweek, está no cemitério, morta por falta de leitores e de anunciantes.

A maior de todas, a Time, aliás a inventora do gênero, foi recentemente desprezada pelo mercado quando seus donos do grupo Time Warner tentaram vendê-la. Ninguém quis comprá-la, simplesmente.

Na era da internet, ninguém lê revistas ou jornais. Ponto. Repare: quando você vê alguém com uma revista ou um jornal na mão, é um idoso ou uma idosa que preferiu não abdicar de um hábito vencido pelo tempo.

Tudo isso posto, poucas coisas mostram mais esse panorama desolador das revistas no Brasil do que uma foto enviada ao DCM por Marcelo, nosso leitor.

A Veja, ignorada pelo público, estava sendo vendida ao chamado preço de banana numa banca no Largo da Carioca, no centro do Rio. Importante: não no meio ou no final da semana, quando está chegando uma nova edição. No começo, quando a revista está tão quente quanto poderia estar no mundo digital.

Lembro, em meus anos de Abril, o esforço épico, e caríssimo, feito para sustentar a carteira de assinantes da Veja na casa de 1 milhão.

Jairo Mendes Leal, meu colega de Exame e depois superintendente da Veja, operava milagres para tentar segurar uma carteira que, deixada a si própria, despencaria espetacularmente. (A real carteira, hoje, deve estar entre 100 000 e 200 000 exemplares.)

O objetivo disso era duplo: primeiro, manter a imagem de revista de grande circulação. Segundo, captar anunciantes, a 70 000 reais a página ou coisa parecida, por causa da carteira inflada.

Quem de nós não conhece alguém que, mesmo sem ter renovado a assinatura, continua a receber a Veja?

São também comuns aç
ões beneficentes feitas com dinheiro público por prefeitos e governadores amigos: eles compram lotes de assinaturas e enviam para escolas estaduais e municipais, onde alunos conectados à internet simplesmente ignoram a revista, logo arremessada intocada à reciclagem.

Com todo o malabarismo, repare que a circulação no final da década de 1980 era a mesma de hoje – com a diferença de que era real.

Maus editores contribuem para o declínio, é verdade, e aí o destaque é, inegavelmente, Eurípides Alcântara, que conseguiu piorar uma revista que já era muito ruim sob seu antecessor, Tales Alvarenga. Mas ainda que a revista fosse tocada por jornalistas como Mino Carta ou JR Guzzo, os que a levaram aos dias de glória, mesmo assim a internet faria seu trabalho assassino.

Quando a posteridade estudar a morte das revistas no Brasil, e particularmente a da Veja, que há 30 anos fez época no jornalismo brasileiro, a imagem acima dirá mais do que qualquer coisa.