Alberto Dines e a Veja: “Matéria” sobre Dirceu foi 50% de ódio, 50% de velhacaria

Por Fernando Brito, no Tijolaço

O veterano Alberto Dines, no Observatório da Imprensa, resumiu no título acima, a fórmula da matéria de capa da Veja sobre as supostas “regalias” concedidas a José Dirceu no presídio da Papuda.

Dines está a anos luz de ser um governista ou um esquerdista: fala apenas como jornalista e pessoa de bem, que considera lei e ética .

O mais interessante de seu texto é o registro da confissão do editor da Veja de que considerava o Governo Lula (e, por extensão, deve pensar o mesmo do Governo Dilma) “um governo de exceção”.

Ou seja, não o reconhecia como legítimo e/ou não reconhecia como legitimas as eleições que o conduziram ao poder.

Confessou, portanto, que sua revista é uma inconformada com o sistema democrático e com o voto.

Dines chega a sugerir que a Veja deveria ser processada.

O que, vindo de um jornalista mais que cioso da liberdade de expressão, tem um imenso peso.

A Veja – e é o próprio Dines quem conclui – trabalha para alimentar a “agenda de protestos” que inclui, diz ele, “ profissionais do ramo da agitação política”, aos quais atribui, inclusive, o quebra-quebra no Ceagesp, semana passada, em São Paulo.

A Polícia Federal, diante disso, faz zero. E o Governo, menos de zero.

Novo surto de vale-tudo 

Por Alberto Dines, no Observatório da Imprensa

Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da Veja, na condição de professor-convidado, declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: “Tratamos o governo Lula como um governo de exceção”. Na capa da última edição do semanário (nº 2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.

Para comprovar a ilegalidade das regalias que gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu ilegalidade ainda maior. Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos, o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos, “informações”.

“Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia” não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.

Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo, corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do presídio, não há crime algum.

A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo foi na direção contrária e já no domingo (16/3) relatava, com chamada na primeira página, as providências das autoridades brasilienses para descobrir os cúmplices do vazamento (ver “Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega“). Na segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver “O linchamento de José Dirceu”).

O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que se pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?).