Apartamento liga Fernando Henrique Cardoso a banqueiro do propinoduto

O escândalo do propinoduto tucano, alimentado pelas empresas Siemens e Alstom, se aproxima perigosamente do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; já se sabia que parte dos recursos foi arrecadada por Andrea Matarazzo para o caixa dois da campanha presidencial de 1998; agora, com a revelação pela revista Istoé da conta "Marília", mais um detalhe: ela foi aberta no banco de Edmundo Safdié, que vendeu um apartamento de 450 metros quadrados no bairro de Higienópolis por apenas R$ 1,1 milhão ao ex-presidente 

Brasil 247

O escândalo do chamado propinoduto tucano está cada vez mais próximo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Já se sabia que parte da propina paga pela empresa francesa Alstom, arrecadada por Andrea Matarazzo, ajudou a alimentar o caixa dois da campanha da reeleição em 1998 (leia mais aqui). Depois disso, a própria Polícia Federal passou a investigar a conexão entre o escândalo do metrô e a reeleição de FHC (leia aqui). Agora, com a revelação da conta "Marília", que movimentou R$ 64 milhões entre 1998 e 2002, e foi operada por importantes figuras do PSDB, surge mais um detalhe constrangedor. Ela foi aberta no banco que pertenceu a Edmundo Safdié, banqueiro que vendeu um apartamento de 450 metros quadrados a FHC por R$ 1,1 milhão – abaixo do seu valor de mercado.

Banqueiro do propinoduto paulista vendeu apartamento a FHC 

Por Luis Nassif, no Jornal GGN.

Jornal GGN – O dono do banco onde estava a conta “Marilia” – que abastecia o propinoduto da Siemens, no cartel dos trens de São Paulo – é a mesma pessoa que vendeu o apartamento adquirido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, logo que deixou a presidência. E é um veterano conselheiro de políticos. Trata-se do banqueiro Edmundo Safdié. Em 2006, tornou-se réu, acusado de lavagem de dinheito do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, incurso na Ação Pena Pública no. 2004.61.81.004588-1, que tramita em segredo de Justiça. http://www.jfsp.jus.br/20061031celsopitta/

A rigor, a compra do apartamento pode ser apenas coincidência. O apartamento adquirido – 450 m2 do Edifício Chopin, rua Rio de Janeiro, Higienópolis – fica a poucos metros do antigo apartamento de FHC, na rua Maranhão. Na época, FHC anunciou que pagara R$ 1,1 milhão pelo apartamento – valor considerado muito baixo por moradores do edifício. Mas também podia ser um agrado de Safdié, para se vangloriar de vender um imóvel para um ex-presidente.

Em outras operações, Safdié foi mais controvertido. E a reincidência na lavagem de dinheiro – após o caso Pitta – pode explicar as últimas movimentações de Edmundo Safdié, vendendo seus ativos para outro banco.

A conta “Marília” estava no Leumi Private Bank da Suiça, antigo Multi Commercial Bank. Entre 1998 e 2002 – segundo documentos em poder da Polícia Federal – a conta movimentou 20 milhões de euros. Aslton e Siemens – as principais financiadores do esquema – compartilhavam a conta. Segundo revelou ao Estadão o ex-presidente da Siemens Adilson Primo, a movimentação era feita pela própria matriz da empresa. Fontes do Ministério Público Estadual informa
ram a IstoÉ que dessa conta saiu o dinheiro para o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Robson Marinho e para os lobistas Arthur Teixeira e José Geraldo Villas Boas (leia aqui).

Nesse período, a instituição era controlada por Safdié, da tradição dos banqueiros libaneses-judeus que aportaram no Brasil no pós-Guerra e especializaram-se em administrar fortunas nos grandes mercados internacionais.

A saga dos Safdié

Edmond Safdié foi um brilhante banqueiro que fundou o Banco Cidade em 1965 e, nos tempos do regime militar, mantinha estreitas relações com o general Golbery do Couto e Silva.

Em 1966 entrou no ramo de gestão de fortunas e administração de recursos no mercado internacional. Adquiriu em Genebra, Suiça o Multi Commercial Bank, mais tarde convertido em Banco Safdié. Em 1988 criou o Commercial Bank of New York.

http://www.safdie.com.br/institucional/index.html

No final dos anos 90, a família decidiu concentrar-se em gestão de patrimônio, reorganizou as empresas e concentrou a gestão de patrimônio no banco suíço.

No final de 2012, Banco Safdié foi adquirido pelo Leumi, maior banco de Israel pelo critério de ativos. No Brasil, a família concentrou-se apenas na gestão de ativos depois que a crise de 2008 lançou desconfiança geral sobre gestores de ativos. Também podem ter contribuído para a reestruturação do grupo as ações internacionais contra lavagens de dinheiro, que expuseram Edmundo no caso Celso Pitta. http://www.leumiprivatebank.com/

O apartamento de FHC

Logo que saiu da presidência, Fernando Henrique Cardoso adquiriu de Edmundo Safdié o apartamento no 8o andar do edifícil Chopin, a poucos metros de seu apartamento anterior.

Na época, anunciou-se o preço de R$ 1,1 milhão. Embora anterior ao boom de imóveis em São Paulo, considerou-se que o preço estava subavaliado, para um imóvel de 450 metros quadrados.

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR48918-6009,00.html