Arnaldo Jabor

Conheci Arnaldo Jabor como diretor de cinema em filmes como “Toda Nudez será castigada” e “Eu sei que vou te amar”, dos quais lembro bem do primeiro. Adaptado da peça com o mesmo título de Nelson Rodrigues, contava com nomes consagrados como Darlene Glória, Paulo Porto, Paulo César Peréio e Hugo Carvana à frente do elenco.

O filme faz um relato da hipocrisia da classe média decadente. Com grandes interpretações, particularmente de Darlene Glória e Paulo Porto (ambos ganharam prêmios), sem dúvida o filme se apoia muito na força dos textos de Nelson Rodrigues.

Não sendo um cineasta de primeira linha e grande expressão (há no Brasil outros bem melhores), Jabor oscilou entre alguns poucos bons filmes e filmes fracos.

O destino, porém, não muito raramente é cruel. Acho que assim foi com ele.

O belíssimo filme italiano “A vida é bela”, dirigido por Roberto Benigni, que também foi o ator principal, foi indicado a vários prêmios internacionais, ganhando vários deles. Culminou com a indicação para o Oscar (1999) de melhor filme, melhor filme em língua estrangeira (ganhou), melhor diretor, melhor ator (ganhou), melhor roteiro original, melhor edição e trilha sonora original (ganhou).

Faço algumas restrições às premiações de um modo geral, mas foi muito triste e decepcionante (estou falando de 1999) ver Arnaldo Jabor falando da premiação e principalmente de Benigni, chamando-o inclusive de pobre coitado e idiota. Fiquei chocado. Além das indicações e prêmios já citados para o Oscar, o filme era sim um belo filme, como também muito boas a atuação e direção de Benigni.

Negar a inteligência de Arnaldo Jabor? Não. Mas, ali se manifestavam mais claramente o rancor, a inveja e a amargura de um homem. Ali se manifestava não mais o Arnaldo Jabor cineasta que tentara mostrar, bem ou mal, a sua visão da sociedade, pelo menos de um segmento dela, a classe média, como ele, Jabor, a via; decadente.

Negar a inteligência de Arnaldo Jabor? Não. Mas também não há como negar a sua estupidez.

Um dos maiores pensadores da raça humana, Nietzsche diz que “há limites para a inteligência humana, para a estupidez não”. Jabor é a confirmação do pensamento de Nietzsche.

Sentimentos opostos existem e muitas vezes se digladiam em uma mesma pessoa. Assim acontece com o amor e o ódio. Assim também acontece com a inteligência e a estupidez.

Arnaldo Jabor é talvez o maior exemplo do cara que sabe tudo de nada, ou, se você preferir, sabe nada de tudo. Tornou-se um mestre na arte da dissimulação grosseira, de baixo nível, ainda que disfarçada de intelectualidade. Sabe dizer como poucos, e aí entra a sua inteligência, o que as pessoas para as quais ele é pago para falar querem ouvir. Geralmente o seu público possui inteligência bem abaixo da dele e esse é o seu palco perfeito, onde é um grande ator.

Homens como ele se vêem tão inteligentes, tão superiores, que não distinguem os dois estágios pelos quais passam: quando falam bobagens porque precisam falar e quando falam bobagens porque, já incorporadas neles, passam a ser verdades também para eles. É aí que entra a estupidez incapaz de reconhecer os seus próprios limites, razão pela qual supera a inteligência.

É triste ver um homem pelo qual se teve, se não admiração, pelo menos algum respeito por imagina-lo diferente. É bem possível que essa seja a sensação experimentada por muitas pessoas que, como eu, viam em Arnaldo Jabor um homem inteligente, consciente do papel que lhe reservara a história; o de alguém que seria importante para a construção de uma sociedade consciente, justa e digna, não aquela decadente que ele tentou mostrar nos seus filmes. O projeto de Homem não foi adiante. Ficou no protótipo arnaldo jabor.

O protótipo arnaldo jabor é hoje personagem importante da elite decadente que tanto criticou. Como diz Claudia Ricken (veja o vídeo abaixo), arnaldo jabor é uma caricatura de mau gosto de si mesmo.

 

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