Big Brother Brasil

Está de volta o Big Brother Brasil (a Globo coloca Brasil ou Brazil? Por favor, me informem).

A rigor, você só pode fazer crítica a alguma coisa que você conhece. Sendo assim, não poderia fazer qualquer comentário sobre esse programa. Entretanto, apesar de não assisti-lo, acho que posso fazer alguns comentários. Há uma razão para isso; mesmo que você não assista, não há como não saber como é o programa, porque não há nenhum horário (nem nos telejornais) em que não sejam feitas inserções sobre ele. Em outras palavras, que a Globo não empurre goela abaixo.

Começo com uma declaração de José Wilker, feita há algum tempo: “É um programa de indigentes mentais. As pessoas que estão ali não têm nada a oferecer, são de uma pobreza mental que dá dó”.

É isso mesmo, a declaração é de José Wilker, um dos grandes nomes da Rede Globo de Televisão. É claro que ele não podia, e talvez não devesse, fazer uma crítica tão forte a um programa da “sua” emissora sem qualquer outro comentário que a amenizasse. A sua saída foi elogiar a direção do programa, (o diretor é Boninho, aquele que com os amigos joga ovos podres nas pessoas que passam embaixo dos seus belos apartamentos em Ipanema, filho de Boni, o todo-poderoso da Globo), e os aspectos técnicos do programa. Não há como negar a qualidade técnica da Globo. E só.

Na verdade, o processo de massificação (há quem diga de imbecilização) é bastante grosseiro, mas, infelizmente, a essa altura imperceptível. A coisa mais antiga do mundo é a forma como as gravadoras de discos (antes LP, hoje CD) criam alguns “grandes sucessos musicais”. Faz-se o velho acordo com os órgãos divulgadores (as rádios, por exemplo, sempre cumpriram bem esse papel) sobre quais e quantas vezes as músicas devem ser colocadas na programação. Ouvida repetidas vezes, qualquer música “cai” no gosto do povo e se transforma em grande sucesso, e aí surgem os discos de ouro, platina, etc. E tome banda de axé, música sertaneja e pagode. É um desastre.

Assim também fazem as televisões. Todos os dias põem no ar várias vezes as chamadas de um determinado programa, até as pessoas se acostumarem. Acostumou, aceita, o passo seguinte é “gostar”. Porém, não me lembro de ter visto nada igual ao que a Globo tem feito com o BBB. É toda hora. Repetidas vezes, não tem quem “não goste”.

Da mesma forma, algo, ou alguém, que pretendem desqualificar entra no noticiário de forma sutil (?). Nesse sentido, o noticiário político é de uma clareza impressionante. “Bate-se” em alguém várias vezes e de várias formas, e mesmo quando a notícia tem que ser favorável a aquela pessoa, geralmente é seguida de um comentário negativo. Você recorre aos canais fechados é, a mesma coisa. Mudam as figuras, os ataques são os mesmos. Não se percebe facilmente.

Muitos deles não percebem e por isso não entendem, mas mesmo assim comento com os meus alunos: vocês não podem fazer parte desse processo de massificação, são universitários, daqui a algum tempo estarão dirigindo esse país (só não digo que eles fazem parte da elite, isso não faço, seria muita maldade), precisam evoluir e fazer o país avançar.

Quando falo que o BBB é indecente, alguns pensam que é porque tem algumas cenas de apelo sexual (podem esperar, terá cada vez mais). Não, não é por isso, até porque, como falei, por não assistir, não saberia em que níveis isso acontece. Ele é indecente na sua concepção. Ele é indecente porque visa, e atinge, uma sociedade que há muito é preparada para não ver, não saber. Os seus altos índices de audiência refletem simplesmente o tamanho do ralo pelo qual se foram as mais elementares noções de inteligência, sensibilidade e percepção.

Você conhece a música de Zé Ramalho, Vida de Gado? Ela diz:

Eeeiii, oohô, vida de gado
Povo marcado, povo feliz.

Será que ao dizer que “é um programa de indigentes mentais e que as pessoas que estão ali não têm nada a oferecer, são de uma pobreza mental que dá dó” José Wilker quis dizer algo mais?