E se voltar com dor?

Renata Friedman:
Olá prof. Ronaldo. Tive um caso de um 17 recentemente que por enquanto está tudo bem, mas me fez pensar. Era uma bio com sintomas de pulpite. Eu acessei e consegui preparar e obturar o P e o Mv, porém o Dv eu não achei nem mesmo a entrada do conduto. Resolvi marcar uma segunda consulta e continuar procurando até que achei uma entrada. A lima 15 não desceu de jeito nenhum, então tentei uma 10 com auxílio de glicerina pra lubrificar e ela desceu cerca de 5mm, mas fraturou. Tentei ultrapassá-la sem sucesso e achei por bem encerrar o tratamento e acompanhá-lo. A minha dúvida é: o que fazer se essa paciente voltar com dor se eu não consigo ultrapassar ou remover esse instrumento? Não havia contaminação no canal, já que era bio, mas tb não foi feita a biopulpectomia.Aguardo retorno. Um grande abraço.

Renata, a primeira coisa a dizer é que nesses casos não tente com a 15. Vá com a 08, com manuseio muito delicado do instrumento. Não parece provável que ela volte com dor nesse momento. Se acontecer, veja que tipo de dor é (espontânea, percussão, etc), para então estabelecer o que fazer.

Tratou, resolveu, voltou. E agora?

Renata Friedman:
Paciente me foi encaminhada com queixa de dor ao mastigar no 46. Não conseguia morder certos alimentos como a amada farofa. O clínico já havia feito o alívio oclusal sem sucesso. No rx havia restauração distante da polpa, sem sinal de infiltração. Durante exame verifiquei sensibilidade aumentada ao frio, ligeira sensibilidade ao calor e dor à percussão. Decidi abrir e fazer a endo, sessão única. Dois dias depois ela me liga dizendo estar ótima, todos os sintomas sumiram. Porém, 7 dias houve dor espontânea pulsátil e dor à mastigação novamente. Ainda não a vi. Como explicar essa recaída?

Renata, a primeira coisa é examinar a paciente outra vez. Pode ser o próprio dente tratado como algum outro. Diante de novo exame e novas informações, se você mesma não fechar o diagnóstico, faça novo contato. Tentarei ajudar.

Deixar o dente aberto???

Fabio:
Professor,qual a sua opinião sobre “deixar o dente aberto” para sair o pus??? Apesar de nao ser a terapia de 1a escolha,as vezes recorro a isso, principalmente quando o paciente esta naquela situação onde esta com grande inchaço e drenando pus pelo canal…afinal,na minha modesta opiniao,antes pelo canal radicular que via extra oral!!! um abraço e fique com Deus,mais uma vez parabens pelo blog!!!

Fabio, tenho grande dificuldade em aceitar a certeza nas ciências médicas. Não há espaço para verdades absolutas. Porém, apesar da possibilidade de que eventualmente se venha a faze-lo, evite deixar o dente aberto, isso só complica o controle de infecção. Dispomos de recursos que permitem uma ação efetiva nesse sentido, entre os quais o desbridamento foraminal.

Quem disse isso?

Fabio:
Prof,gostei demais do Blog que conheci hoje mas ja coloquei nos meus favoritos. Sou cirurgião dentista há 10 anos e especialista em endodontia há 3. Tenho uma pergunta ao senhor um tanto espinhosa: os convenios “exigem” uma garantia do canal por 2 a 5 anos (dependendo do convenio) e já ouvi alguns colegas de várias especialidades (inclusive de endo) dizendo que temos sim de dar garantia no nosso tratamento. E qual é a opinião do senhor? Desde já agradeço sua atenção!

Fabio, fico feliz por saber que você gostou do Blog.

Não consigo ver como dar garantia de um tratamento, seja pelo prazo que for. A qualidade do tratamento endodôntico então terá que ter um prazo de garantia, de validade, como um produto de supermercado? Se a lesão periapical, por exemplo, não desaparecer em 2 anos, o paciente ou o colega que o encaminhou só poderá reclamar quando se completarem os 5 anos, esperar os 3 anos restantes?

A garantia que o endodontista tem que dar é a de que o paciente será respeitado e a melhor maneira de fazer isso é, além de um tratamento respeitoso à sua condição de ser humano, dar a ele o melhor do profissional. Respeito (ao paciente), competência e dignidade (do profissional). Essa é a tríade guiada pela consciência e formação de cada um. É possível que se fosse assim talvez nem precisássemos de código de ética. Infelizmente, porém, os que não pensam exatamente assim estão por aí, inclusive dando aula.

Quando o tratamento endodôntico é realizado, quem o faz só pode pensar que será para o resto da vida do paciente. Mesmo que, por razões diversas, nem sempre isso é possível.

Cem mil

Chegamos a 100.000 visitas no site. Na verdade, chegamos antes desse momento. É que há cerca de 3 anos, na mudança do servidor que hospeda o site, perdemos alguns poucos mil registros das visitas até então. No Blog da Endodontia, a seção mais visitada, já são mais de 210.000 visitas (também aqui perdemos registros na mudança de servidor).

Pouco, muito? Não sei. Sei que nesse tempo, aconteceram algumas coisas e talvez a mais importante foi que diminuí a frequência nas respostas às colocações/perguntas que foram e são feitas. Nesse processo, é possível que alguns colegas tenham se aborrecido.

Já tive oportunidade de me desculpar algumas vezes por isso. Os compromissos foram ficando cada vez maiores e o tempo disponível menor. Confesso que tem ficado mais difícil. Se não justifica, explica. Não é muito simples manter o site em dia com a quantidade de respostas e textos que tenho que escrever. Com os aspectos positivos e negativos que isso pode representar, é um site mantido por uma pessoa só.

Justamente por não poder responder a todas as questões colocadas, pelo que mais uma vez peço desculpas, procurei contar com alguns colegas do grupo do qual faço parte para me dar mais suporte nesse sentido, mas eles também não possuem tanto tempo disponível. É a famosa correria.

Outra mudança importante foi o ganho de um conteúdo mais político na seção Falando da Vida. Houve quem se manifestasse contra essa nova cara do site usando uma frase que utilizei desde os seus primeiros momentos: “O desejo é um só; “conversar” sobre as coisas da Odontologia, particularmente, da Endodontia”. O colega estava, pelo menos em parte, correto.

O objetivo continua sendo o de conversar sobre as coisas da Odontologia, particularmente, da Endodontia. Porém, também desde os primeiros momentos, já havia essa possibilidade, na verdade um desejo, de falar de todas as coisas, inclusive política. Por isso, desde o início existe a seção Falando da Vida, que objetiva falar, como o nome diz, da vida, na qual a política está fortemente inserida e desempenha papel inquestionável. Dela dependem as nossas vidas.

Sabia que poderia enfrentar alguma dificuldade no meu posicionamento, aliás, manifestada de maneira absolutamente clara por um colega que disse que eu era “um grande professor de Endodontia, mas lamentável nas minhas posições políticas”. Por outro lado, também já houve quem dissesse que, mesmo não tendo o mesmo ponto de vista, aprendeu mais sobre política lendo os textos do Falando da Vida.

Sabia que teria pouca companhia nas “minhas posições políticas”, mas não posso fugir delas. Aos colegas que concordam com elas, dedico os textos, aos que não concordam, se me permitirem, tenho algo a dizer.

Observem que os textos estão somente no Falando da Vida, não interferem em nada no restante do site. Certo ou errado, o pensamento está sempre voltado para o bem estar da maior parte da população brasileira, o povo, do qual faço parte, e para as minorias. Talvez não se possa imaginar o bem que faz e a paz que traz lutar ao lado dos mais fracos. Ao mesmo tempo, sempre procuro colocar links que levam às fontes/comprovações do que é dito.

Reconheço que os textos políticos terminaram ganhando grande espaço, mas posso assegurar que isso se deveu às distorções que promoveram e promovem na forma de fazer política no Brasil.

Tenho o testemunho de todos vocês de que em nenhum momento o endodontiaclinica.odo.br se rendeu a causas menos nobres. Nunca teve interesses ou vínculos que não fossem com os verdadeiros valores da Endodontia, muitas vezes com algum desgaste por bater de frente com interesses menores, infelizmente tão comuns nos tempos atuais.

Por isso, nesse momento em que ultrapassamos as 100.000 visitas no site e mais de 210.000 no blog, acho que temos o que comemorar. Ainda que com as dificuldades apontadas, espero poder continuar conversando com vocês por um bom tempo.

Que realmente 2013 seja um Ano Novo muito feliz.

Grande abraço,
Ronaldo Araújo Souza

O Natal de Juazeiro

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
 
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem!
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem!

Esses são versos da música Boas Festas que, muito provavelmente, você já conhece, do compositor baiano Assis Valente (ouça aqui cantada por Maria Betânia http://www.youtube.com/watch?v=8wpovHCGGuo).

Há quem afirme que o estímulo à fantasia do Natal e de Papai Noel seria algo prejudicial à criança, com consequente prejuízo à formação do adulto. Assis Valente teve a sua experiência ruim com o Natal, talvez mais de uma. Também já tive pelo menos uma que poderia se transformar, mas não se transformou, em algo negativo. Conto ela aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/posts/natal12.php.

“Vítima” da fantasia de Papai Noel, nunca consegui ver nada de negativo que tivesse interferido na minha formação. Nas minhas filhas, criadas como eu fui, também não. É a mentirinha mais gostosa do mundo.

São inesquecíveis as minhas noites de Natal, ainda criança, em minha querida Juazeiro (BA).

A Missa do Galo na Catedral era o grande momento. Os moradores, entre os quais meus pais, levavam as suas cadeiras e a missa era celebrada do lado de fora, na frente da igreja. Em toda a praça, além das orações e cânticos, ouvia-se o bater forte dos corações das crianças, pela ansiedade da hora de dormir, a hora em que Papai Noel ia passar.

Meu Deus, que magia que existia naquelas noites. Que força era aquela? Nostalgicamente, aquelas noites povoam a minha mente. Não uma nostalgia como ela é definida, melancólica, triste, mas como um sopro de vida e esperança, um sopro de vida e esperança que se projeta nas minhas filhas. Eram de uma beleza jamais imaginada. Um filme de Fellini. E eu era um dos atores.

Assim foi o meu Natal durante os mais belos anos da minha vida. Naquelas noites de Natal de Juazeiro, os nossos corações cantavam hoje é um novo dia, um novo tempo… Não era um jingle. Era um sentimento.

Que todos vocês tenham o Natal de Juazeiro.