Texto de Aurimar Andrade (Rio de Janeiro)
A Endodontia Clínica é direcionada para a prevenção e controle das infecções pulpares e perirradiculares. No combate à infecção, todas as fases da terapia endodôntica são fundamentais no resultado final e um deslize em uma dessas fases pode comprometer o sucesso almejado.
Os microrganismos estão situados no interior do canal e não podem ser eliminados pelos mecanismos de defesa, é necessário tirar proveito dos avanços da especialidade em termos de instrumental para minimizar a frequência de insucessos.
Acredita-se que a causa mais provável do insucesso endodôntico seja a sobrevivência de microrganismos no terço apical do canal radicular, esses microrganismos também podem estar em áreas do canal normalmente inacessíveis aos procedimentos de desinfecção tais como istmos, reentrâncias e ramificações do sistema de canais radiculares, tornando a terapia endodôntica bem mais dispendiosa.
A espécie microbiana mais comumente isolada dos canais radiculares quando do insucesso endodôntico é o Enterococcus faecalis, microrganismo anaeróbio facultativo capaz de crescer tanto na presença quanto na ausência de oxigênio. São relatados casos de contaminação durante o preparo químico-cirúrgico ou entre consultas por infiltração ou queda do selamento coronário.
Uma vez instalados no canal radicular, os Enterococcus faecalis possuem habilidade para invadir e permanecer no interior dos túbulos dentinários, é um dos poucos microrganismos resistentes ao pH alcalino do hidróxido de cálcio e é capaz de formar biofilmes (população microbiana que apresenta muito maior resistência aos agentes antimicrobianos).
Tais características tornam os E. faecalis um patógeno endodôntico de enorme poder agressivo aos tecidos perirradiculares e grande resistência ao controle das infecções endodônticas. Em menor proporção, Pseudomonas aeruginosa, Candida albicans e Actinomyces radicidentis também foram descritos como causadores de insucessos na Endodontia.
Para minimizar a frequência de insucessos endodônticos é necessário redobrar os cuidados em cada fase da terapia endodôntica, sem negligenciar nenhuma delas.
Categoria: Geral
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Ronaldo : Em verdade sentí o entusiasmo do seu aluno Alírio e isso me comove porque senti na pele o que é iniciar na vida acadêmica mais tarde, normalmente ser considerado atrasado pelos jovens que de certa forma discriminam sem saber os motivos desse “atraso”. Em outro e-mail falei que sou graduado pela UFBa em 1978, estou no Rio há muito tempo e atualmente faço o Mestrado em Odontologia na Univ. Fed. Fluminense com parte experimental
Um abraço.
Aurimar
Prezado Aurimar,
Viajei e emendei com o Congresso de São Paulo, por isso só respondo agora. Faria de saída uma pequena correção. O blog não escreve só sobre técnicas, pelo menos não pretende. É quase que inevitável não falar sobre técnicas quando se fala em Endodontia, mas todo o site, inclusive o blog, tem a intenção de falar também a respeito dos aspectos filosóficos e conceituais da Endodontia. Dentro dos limites inerentes a qualquer aspiração, acho que o homem pode o que quer, por isso tenho a pretensão de fazer com que a Endodontia seja vista e realizada como algo maior, ciência e técnica, e não só como alargar e obturar canal, como tem sido feito nesses últimos anos. Todas as minhas apresentações têm sido feitas com esse objetivo. A idéia do blog é justamente criar um espaço para a conversa sobre as coisas da Endodontia, e dela a Microbiologia é parte fundamental, portanto, os seus textos, e de outros colegas também, serão bem-vindos. Como você mesmo falou, e até mesmo pelo objetivo do site, seria interessante que fossem simples, de fácil compreensão e sucintos. Agradeço o quanto você tem prestigiado o site e parabenizo pela sua disposição na busca de uma Endodontia mais digna. O endodontiaclinica.odo.br lhe recebe de braços abertos.
Um abraço,
Ronaldo Souza
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Pergunta de Rosa Porto:
Ronaldo, estou com um caso de lesão endo-perio onde o dente so tem insersão nas paredes distal e parte da vestibular,como é esta muito localizado a perda ossea, ou seja,ele não tem perda ossea nem ao menos gengivite no resto dos dentes,gostaria de tentar a terapia com hca.Minha pergunta é a seguinte: hca +soro ou calen? com quanto tempo troco o curativo? devo tentar ate quantos meses?
R. Há bastante respaldo na literatura à utilização do hidróxido de cálcio com veículo aquoso (soro fisiológico). A minha experiência clínica também aponta para essa opção. Remova a camada residual (smear layer) e use o hidróxido de cálcio por cerca de duas semanas. A depender das condições em que se apresentar o canal (ausência de exsudato ou de qualquer outro sinal clínico), renove a medicação e deixe no canal por cerca de 1 mês. Os autores preconizam prazos curtos de permanência para o hidróxido de cálcio com veículo aquoso, em função de aspectos como a sua carbonatação (transformação do hidróxido de cálcio em carbonato de cálcio), mas posso lhe assegurar que, exercido o controle de infecção, ele poderá ser estabelecido em 30 ou 45 dias (até mesmo um pouco mais). Para isso é fundamental que se faça e se mantenha um bom selamento coronário. O tempo de terapia não deve ser estabelecido previamente, cada caso é um caso. As mudanças na imagem radiográfica da lesão são muitas vezes sutis no início, fique atenta. Sem que se perca a qualidade da terapia, obture o canal o mais cedo possível.
Resposta a Nádia Lopes
Nádia, como você solicitou e lhe prometi em um post aí embaixo, escrevi um texto sobre instrumentação e obturação. Sei que não é o que você pediu. Ocorre que sentei para escrever e, ao começar a digitar, senti que o texto foi tomando um outro rumo e me permiti me entregar às palavras. Espero que mesmo assim você goste. Ele pode ser lido na seção Conversando com o Clínico sob o título de Preparo e obturação do canal.
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Pergunta de Érica Souza:
Estou com um caso do 25 em um paciente idoso, hj qdo fui acessar, percebi q a polpa estava calcificada,nesse caso coloquei provisrio e pdi ao paciente p aguardar; se não ocorrer sintomatologia dolorosa, posso restaurar com R.C.?
Desde já obrigada pela atenção!
R. Érica, estando o canal calcificado não deverá haver sintomatologia, restaure o dente. No paciente idoso é comum haver calcificação total ou parcial do canal, portanto, observe sempre essa possibilidade na(s) radiografia(s) pré-operatória(s). Assim, muitas vezes você percebe a impossibilidade do tratamento endodôntico e já faz a restauração.
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Pergunta de Max:
Ao proceder a obturação e na radiografia de qualidade de obturação verifiquei que o cone passou do ápice, retirei os cones e então fechei temporariamente com medicação intra canal de hidróxido de cálcio… três dias após fui refazer a obturação, mas ela estava com sensibilidade no dente, possivelmente pelo cone ter passado o CT gerou uma pericementite e eu deveria ter receitado antiinflamatório por 3 dias para diminuir tal inflamação e então proceder a obturação do canal, estou certo ?? Eu não obturei na sessão posterior e a paciente está com hidróxido de cálcio e receitei diclofenaco sódico 50mg – 3 dias. e pretendo obturar após 7 dias da sensibilidade, estou seguindo um protocolo adequado ? desde já agradeço pela atenção.
R. A “nova” obturação poderia ser feita na mesma consulta em que tirou os cones. Se não desse mais tempo, faria o que você fez, medicação com hidróxido de cálcio. Na outra consulta, que você agendou para três dias depois, mesmo com sensibilidade (dor intensa não), você poderia ter feito a obturação (lembre que ela não teria sido feita por questão de tempo). A sensibilidade é resultante de atos operatórios que se somam (obturação, ultrapassagem do cone, desobturação), mas não contraindica necessariamente a obturação. Se a dor for acentuada mantenha a medicação sistêmica, se não for, pode suspender. No prazo que você deu, pode obturar.
Esta é uma resposta bem sucinta, mas, como sua questão é muito interessante e sei que existem muitas dúvidas nessa hora, em breve escreverei um artigo sobre cada possibilidade dentro da sua colocação e postarei no Conversando com Clínico.
Agradecimentos
Tenho recebido muitos comentários elogiosos a este site. Agradeço a todos, muito legal. No início fiquei acanhado quanto a coloca-los no “ar”, mas depois fui me acostumando. Apesar de não ter colocado todos, foram postados como Saudações. Resolvi, porém, que, dali por diante, os próximos não seriam mais postados para não parecer que estava aproveitando para me enaltecer. Volto atrás, pelo menos para esses dois. Um deles, o de Alírio, é a prova de que realmente pretendia não fazer mais isso, pois é de novembro do ano passado (mesmo antes desse, outros já não tinham sido colocados). Perceba o sentimento de busca, não importando o tempo, contido nas palavras de ambos. Graças a eles, sou forçado a dizer que é possível que outros venham a ser postados também. Muitas vezes trazem mensagens de entusiasmo, motivação, busca incessante. Isso é vida. Nada melhor.
Alírio comentou : 20/11/2007 às 12:13
Já com uma certa estrada de vida clínica foi que ingressei numa especialização, e justamente onde menos esperava: endodontia! Hoje percebo que realmente as coisas só devem vir ao seu tempo…sei que estou no lugar certo, na área certa, com a equipe certa, e, principalmente, com o orientador certo, que, mesmo sendo nosso mestre, faz com que o enxerguemos como mais um colega, apenas mais experiente, dada a simplicidade com que nos transmite todo seu conhecimento, nos fazendo pensar em endodontia, e não apenas repetir as etapas mecanicamente. Desde já(pois ainda não acabamos), muito obrigado por tudo.
Aurimar Andrade comentou: 12/01/2008 às 14:18
Alírio: Gostei muito do seu comentário pois aconteceu algo parecido comigo. Por diversas razões e circunstâncias adiamos desejos e planos, são coisas que fazem parte da vida. Em contrapartida, chegamos à Especialização com mais maturidade e experiência adquiridas em anos de ” mocho “. Em suas palavras sentí o mesmo entusiasmo que sinto até hoje e mesmo sem conhecê-lo, gostaria de incentivá-lo a aspirar novas metas, converse com seu orientador. Na mesma linha de incentivo, gostaria que soubesse que dentre os colegas que ingressam mais tarde
Cordialmente,
Aurimar Andrade
Gentileza do Prof. Ruy Hizatugu
Prezado Prof. Ronaldo Araújo Souza.
Foi uma surpresa muito agradável visitar seu site hoje logo de manhã. Web belíssimo, com o propósito nobre de orientar colegas interessados na endodontia. Vou ficar fora de São Paulo durante as festas de fim de ano. Neste período quero reservar um tempo para visitar e beber dos ensinamentos inseridos em seu site. Na volta vou dar o retorno e para tanto, peço permissão para entrar na discussão. Vou adorar ser orientado pelo colega, que confesso, já admiro há algum tempo. Gostei muito da divisão dos temas. Muito simples e didático. Vou adquirir o seu livro através do meu amigo Rui Santos. Depois por e-mail eu quero tirar as dúvidas para minha orientação e também dos meus colegas e alunos.
Ronaldo, Feliz Natal. Saúde e Paz para todos os seus familiares.
Abraço com muita estima e amizade.
Ruy Hizatugu
Prezado Prof. Hizatugu,
Fiquei muito feliz em saber que você gostou do site. Ele existe há sete meses e certamente aos poucos algumas modificações serão feitas. Muito obrigado pelas suas palavras, mas não me vejo em condições de orientá-lo e jamais pretenderia fazê-lo. Pelos conhecimentos que sei que você tem, admito a possibilidade de troca de idéias, o que já me honraria. Concordo quando você fala em celebrar as diferenças. É provável que existam ”diferenças endodônticas” entre nós, isso só enriquece. Segundo Paulo Freire, ”não há saber maior ou menor. Há saberes diferentes”.
Um abraço,
Ronaldo Souza
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Pergunta de Renata Lessa Feijó:
Eu estava fazendo um canal de um menino de 12 anos na unidade
R. (João Dantas) Há particularidades de cada situação que não permitem que eu consiga ser preciso na indicação de um grampo. Contudo, há um grampo que considero um coringa para estas situações: o grampo W8A. Fica firme em molares bem destruidos ou expulsivos. Mas é importante que seja de uma boa marca (Ivory, KSK, GST ou SS White). Outros que uso muito nestes casos são: 14A e 26. Uma opção que também costumo lançar mão é utilizar um grampo de incisivo (210) que já esteja “relaxado”. Para conte-lo conto com o auxílio da SuperBonder. Tente alguma destas opções.
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Pergunta de Nádia Lopes (Portugal):
Olá dr. será que poderia aqui relatar com algum pormenor dois procedimentos da endodontia: instrumentação e obturação. Se fosse possivel gostaria muito.
atentamente
Nádia Lopes
R. Nádia, para falar sobre esses temas precisaria de muito espaço. A idéia do site é abordar os temas de Endodontia de maneira simples, objetiva e rápida. Em sua homenagem e aos dentistas portugueses, vou escrever um pequeno texto sobre esses temas. Dentro de poucos dias ele será publicado na seção CONVERSANDO COM O CLÍNICO deste site. Fique atenta.
Um grande abraço para você e todos os dentistas portugueses.