DebatEndo IV

Tive a honra de participar do I e do III e acho que o evento cresceu. Tenho agora a alegria de divulgar o IV DebatEndo, a se realizar de 24 a 27 de outubro de 2007. Aproveito para mandar um grande abraço para os meus amigos do Ceará, particularmente para o grupo que está à frente desse evento que vem contribuindo para o desenvolvimento da nossa Endodontia – Antônio Sérgio T. Menezes, Elilton Cavalcante Pinheiro Jr., Ilan Sampaio do Vale, Mônica Sampaio do Vale, Roberto Pinheiro Borges, Sérgio Araújo Holanda Pinto.

Clique aqui para ver o DebatEndo (nas fotos do I eu estava de barba).

Matriz Apical

O padrão mais comum é chegar-se ao comprimento de trabalho (CT) do canal mésio-vestibular (MV) dos molares com a lima 10. Isso significa que naquele ponto o diâmetro corresponderia a cerca de 0,10 mm. Diz a regra que o canal deve ser ampliado com o instrumento que se ajusta ao seu diâmetro no CT e mais três em seqüência de calibre. Assim, a instrumentação irá até a lima 25 (0,25 mm). Observe que é o que se tem feito normalmente.

Quando se sai de um diâmetro de 0,10 mm para 0,25 mm cria-se um ponto de parada bem definido, que é onde vai ser travado o cone principal de guta percha no momento da obturação; é evidente que onde havia um espaço de 0,10 mm, um cone de 0,25 mm não terá a mínima chance de ultrapassar esse ponto. Vamos a um outro exemplo.

Em um incisivo central superior, é comum chegar-se ao CT com a lima 30. Com mais três, como manda a regra do 1+3, terminaremos o preparo com a lima 45, portanto, o cone de guta percha escolhido será o 45. Em um espaço original de 0,30 mm, não há chance do cone 45 ultrapassar. Este é o conceito de matriz (batente, parada, ombro) apical; um ponto de contenção da obturação. Observe também como ele está intimamente ligado ao diâmetro original do canal no CT.

A este conceito estão associados dois passos fundamentais do tratamento endodôntico; o nível de ampliação do canal e o travamento do cone de guta percha. Sabendo qual é o diâmetro do canal, sabemos o quanto instrumentar. Normalmente inicia-se o preparo do canal MV dos molares com a lima 10. Com esta e mais três chega-se à lima 25. Temos aí um bom preparo (instrumentamos o canal com 4 instrumentos) e uma matriz apical bem definida.

Em 1958, um autor chamado Edward Green demonstrou que o diâmetro real dos canais MV dos molares a 1mm aquém do ápice, onde normalmente é estabelecido o CT, era 0,25 mm. Alguns trabalhos recentes, também no Brasil (Souza e Ribeiro, Pécora et al., Vanni et al., etc), têm mostrado que o real diâmetro anatômico apical no MV dos molares é cerca de 0,25 mm.

Aprendemos a instrumentar o canal MV dos molares até a lima 25, julgando estar fazendo uma boa limpeza e construindo uma boa matriz apical, para nela conter a obturação. Ao descobrirmos que o diâmetro apical real do canal já é 0,25, alguma coisa temos que aprender.

Para limpar temos que promover desgaste nas paredes, por isso se sugere 1+3. Se o diâmetro apical real é de 0,25 mm e o canal é instrumentado até a lima 25, não há desgaste, portanto, não há limpeza. Levar a instrumentação até a lima 25 cria uma boa matriz apical em um canal com um diâmetro de 0,10 mm. Se o canal já tem 0,25 mm, não há formação de matriz apical. É simples.

Já tinha descoberto na minha clínica diária que, por questões anatômicas, não havia razão para qualquer obrigatoriedade com a lima 25. Há alguns anos, quando li o trabalho de Green, tive a confirmação do que percebera clinicamente. Quando comecei a ingressar na carreira docente resolvi ver isso mais de perto e publicamos um artigo – “Influência do preparo cervical na ampliação do canal”. Rev ABO Nac 2001/2002, 9(6): 352-355 (veja esse artigo na sessão ARTIGOS PUBLICADOS desse site).

Precisamos instrumentar o canal, o que implica trabalhar as suas paredes. Assim conseguimos modelar, limpar e fazer a matriz apical. É necessário, porém, que os parâmetros nos quais alguns aspectos da Endodontia estavam apoiados sejam repensados. Este é apenas um deles.

É um novo momento da Endodontia.

CP Drill

Fábio Nunes
Prof. Ronaldo, tratei um molar inferior (elemento 36), utilizei as brocas CP Drill para o preparo cervical (a vermelha e a azul) e infelizmente ocorreu uma comunicação com o periodonto dessa região, sem contar que tenho percebido que realmente há a formação de degraus… O senhor não acha que devemos repensar a utilização dessas brocas?

Olá Fábio,
No ano passado, antes mesmo da CP Drill ser lançada, conversei em Ribeirão Preto com os seus idealizadores, os professores Capelli e Pécora, sobre algumas questões da CP Drill e um dos pontos foi esse. Já tínhamos observado na microscopia de varredura a necessidade de modificação na ponta da broca.
Além dos cuidados que temos que ter ao utilizar qualquer instrumento rotatório, eles devem ser redobrados quando se trata de instrumentos recém-lançados, até chegarmos a usá-los com mais segurança. Além disso, tenho orientado fazer patência do canal após o uso da CP Drill para fluir mais com o preparo. Certamente teremos que observar todos os aspectos para conhecer mais e tirar proveito do instrumento.
De qualquer forma, entrei em contato com o Prof. Capelli e transcrevo o pedido dele;

Caro Ronaldo
Peço que vc faça a gentileza de pedir para este aluno enviar estas brocas para Injecta para que sejam analisadas e enviadas para a FFDM na França.Se existe algum problema com a ponta destas brocas deve ser um caso isolado ou alguma caixa que ficou daquele lote inicial que detectamos o problema com a ponta. Depois disso, a alteração foi feita e nunca mais houve reclamações. Por isso creio que este Kit seja daquele lote de pouco mais de 40 caixas.Obrigado por sua preocupação e colaboração. Caso vc saiba de mais algum caso por favor me avise!
Forte abraço
Capelli

Cuidado com o hipoclorito de sódio

Muita coisa tem sido dita a respeito do hipoclorito de sódio. O seu uso está consagrado na Endodontia e sou um dos que o recomendam como substância química auxiliar do preparo do canal, porém, são conhecidos os relatos de acidentes com a sua utilização. Vamos conversar um pouco sobre isso. Não abordarei as suas características químicas, vantagens, desvantagens, nada disso; quem sabe venhamos a faze-lo em outro momento.Vamos falar de outros aspectos.

Sempre tive muito cuidado com a maneira de irrigar o canal. A postura clássica da literatura tem sido ensinar a fazer fluxo/refluxo (isso exige pressão maior no êmbolo da seringa), com a agulha colocada o mais próximo possível do comprimento de trabalho. Pelos riscos que oferece, não recomendo fazer a irrigação dessa maneira. Acredito que alguns dos acidentes que acontecem têm a sua origem na obediência a essa forma de irrigar.

1. Extravasamento da solução para os tecidos periapicais – Já tive oportunidade de atender pacientes que vinham de acidentes como esse e sei de casos que aconteceram com bons profissionais. As conseqüências podem ser desastrosas, e não pensem que só ocorrem com concentrações mais elevadas de hipoclorito de sódio.

Por que?

É conseqüência da pressão exercida sobre o êmbolo da seringa.

Sugestão:

Faça uma irrigação passiva. Não faça pressão forte sobre o êmbolo e não posicione a agulha no CT. Deixe-a folgada no canal; para se assegurar disso, movimente-a enquanto irriga.

2. Outro muito sério; a possibilidade do hipoclorito de sódio cair nos seus olhos e/ou nos do seu paciente. Também tem muito a ver com a forma como você irriga. Mas, já perceberam que às vezes você precisa fazer uma pressão maior na seringa porque parece que a agulha “entupiu”. Onde é que você faz isso, no canal, não é? Aí a solução sai, ou a própria agulha se solta, e “espirra” no seu paciente ou em você, às vezes nos olhos. Caso isso aconteça, com você ou o paciente, a solução é lavar abundantemente os olhos com água, selar o dente e ir o mais rápido possível ao oftalmologista.

Por que?

a) agulha mal encaixada na seringa.

b) agulhas hipodérmicas de pouco diâmetro interno pré-curvadas podem ter o fluxo dificultado e requerer maior força.

c) observe que você irriga com pressão normal, continua preparando o canal e, ao tentar nova irrigação faz “um pouco mais de força”; a borracha do êmbolo não deslizar bem pode ser a causa, como o ar que se forma dentro da agulha.

Sugestão:

Não faça a pressão para “desentupir” a agulha no campo operatório, mas em outro lugar, como por exemplo na pia ao seu lado (depende da disposição do seu consultório) ou na cuspideira. Independente disso, é recomendável que você e o seu paciente estejam usando óculos protetores. Cuidados também para quem usa “adaptadores” de agulhas nas seringas (como o Endo Rig).

3. Manchar a roupa do paciente ou a sua. Esse é bem mais simples.

Sugestão: Normalmente, para facilitar a “chegada” nos dentes posteriores, e mesmo nos anteriores, as agulhas irrigadoras são ligeiramente curvadas. Não “percorra” o trajeto da mesa auxiliar até o campo operatório com ela “voltada” para baixo, mesmo que esteja preparando o canal de um dente inferior. Ela deve ir ao campo operatório com a sua extremidade voltada para cima e lá, no campo operatório, ser posicionada de acordo com cada caso.

Enfim, vamos sempre lembrar que irrigar canal não depende somente das características químicas das substâncias; é de fundamental importância a forma como se irriga.


Travamento do cone

Na nossa infância tivemos momentos mágicos na escola, inclusive na hora de aprender. E foi lá que aprendemos, de maneira lúdica, muitas coisas.

Tendo dimensões semelhantes, voce consegue encaixar e adaptar um objeto quadrado em um triangular? E um retangular em um circular? Parece que não, não é? Desde a idade mágica, a nossa infância, aprendemos que um objeto quadrado só encaixa em outro quadrado, um retangular em outro retangular; começávamos a ter noções das formas das figuras e objetos e, consequentemente, das suas diversas maneiras de se adptarem.

Esse é o princípio do travamento do cone principal de guta percha. O cone é circular (redondo), portanto, só poderá ser encaixado perfeitamente em um receptor circular. Em Endodontia, o receptor para o cone é o canal e assim podemos dizer; o cone de guta percha só poderá ser encaixado perfeitamente em um canal circular. Vamos mudar para uma linguagem mais adequada à Endodontia? O cone de guta percha só poderá ser ajustado perfeitamente em um canal circular.

Desde 1958 Green mostrou que, a 1mm aquém do ápice, os canais não são circulares. Ele encontrou três configurações anatômicas, nenhuma delas circular. Ao longo dos anos outros autores têm confirmado o que poderíamos dizer da seguinte maneira; a maioria dos canais não é circular.

Acredita-se que instrumentos endodônticos, também circulares, confeririam essa condição aos canais. Várias deformações da anatomia original dos canais, cuja origem está na própria anatomia, nas características dos instrumentos endodônticos e nas técnicas de instrumentação, têm sido demonstradas por diversos trabalhos, fato esse bastante acentuado no preparo dos canais curvos. É consensual que, ao final do preparo, em poucas situações os canais podem ser considerados “redondos”.

As técnicas mais recentes de instrumentação, particularmente aquelas executadas com instrumentos de níquel-titânio acionados por motores, instrumentação rotatória como alguns chamam, têm proporcionado uma forma final do canal muito próximo disso, ou seja, um canal quase circular, em alguns casos circular, no seu comprimento de trabalho. Por que em alguns casos circular? Trabalhos, que em breve vocês verão divulgados, mostram que, a depender do nível de ampliação, há desvios.

O travamento do cone de guta percha tem sido defendido por muitos profissionais como a garantia de um vedamento hermético. O cone de guta percha é circular; só poderá ser ajustado perfeitamente em um canal circular. Não parece ser este o canal que a literatura tem registrado.

Travamento do cone principal de guta percha como sinônimo de vedamento hermético; isso não existe.

Saudações

Maisa Silveira 07 jun

É muito gratificante para mim ver sonhos de uma pessoa tão querida serem realizados… Acompanho com muito orgulho cada vitória desta trajetória repleta de sucesso. Meu eterno mestre, tenho certeza que este é só mais um passo de muitos trabalhos magníficos que ainda virão.
Saudade de você e de toda equipe.

Beijo grande.

Rosângela Andrade Moreira 03 jun

Quem acompanhou sua trajetória sabe o quanto você lutou para chegar até aqui. PARABÉNS! O site está muito bom. Começa aqui uma nova era na endodontia. E como você mesmo citou A VIDA É BELA, quando temos pessoas como você.

Abraços!

Daniela Bernardes Castello Branco 28 maio

Professores como você é que nos tornam melhores. Obrigada por tantos ensinamentos e este novo site só reforça a sua intensa dedicação ao ensino! Da sua eterna e orgulhosa aluna.

Luana Curvelo 27 maio

Professor Ronaldo, adorei o site, agora poderemos aprender mais sobre Endodontia. Um grande abraço!!!

Professores do Curso de Especialização em Dentística: Altino, André, Bel, Céres, Denise e Paula 26 maio

Mais uma vez, queremos parabenizá-lo pela iniciativa do site endodontia clínica. Esperamos que você tenha sempre mais e mais sucesso! Abraços.

Diogo Passinho 25 maio

Grande Mestre, o site ficou ótimo, agora sim todos que se interessam pela endodontia irão poder entender um pouco mais sobre o tema.

ABRAÇO!!!

Prof. Kleber Carvalho 21 maio

…reconheço e congratulo sua iniciativa, que quiçá se sedimente como mais um canal no transmitir conhecimento entre colegas. Todos ganhamos.

Um grande abraço.

Buscando as respostas

Há alguns anos, ao final de uma aula sobre técnicas de instrumentação para uma turma de especialização, uma das alunas disse uma coisa interessante; são tantas técnicas, tantos detalhes, que fica muito confuso e a gente se perde.

Não lembro se antes desse episódio eu já tinha parado para pensar sobre essa questão, mas sei que a partir daquele momento isso foi uma constante. Desde então tenho tido a sensação de que a aluna estava certa. Mais do que isso; tenho tido a sensação de que a compreensão do que é, de fato, a Endodontia e o tratamento endodôntico não está bem definida.

A(s) causa(s) para isso pode(m) ser vária(s). Uma delas a abordagem dos diversos temas da Endodontia. É possível que o formato mais acadêmico empregado nas publicações científicas, fundamental para o desenvolvimento da especialidade, não tenha proporcionado o meio mais adequado para determinado tipo de discussão. Basta ver o grande desenvolvimento técnico/científico da Endodontia para não se ter nenhuma dúvida de que as publicações científicas têm cumprido, e muito bem, o seu papel. Contudo, é possível que os espaços onde as diversas dúvidas existentes no dia-a-dia da Endodontia possam ser colocadas e, o mais importante, discutidas, ainda não tenham sido devidamente explorados. O nosso desejo é que este blog possa contribuir nesse sentido.

Aqui teremos oportunidade de discutir as nossas dúvidas. Para todas elas devem existir respostas. Observem que não colocamos “existe resposta” e sim “devem existir respostas”, pois elas existirão em função das diversas concepções que constituem a Endodontia. Buscaremos, juntos, a resposta mais adequada.