Circos e palhaços da minha infância

Circo

Por Ronaldo Souza

– Hoje tem espetáculo?

– Tem sim senhor.

– E o palhaço o que é?

– Ladrão de mulher.

Quantas vezes corri pelas ruas de minha querida Juazeiro (BA) atrás da felicidade.

Ela que acabara de chegar mais uma vez através do circo, com seus carros desfilando pelas ruas da minha infância a anunciar:

– Senhoras e senhores, não percam os maiores artistas da terra no maior espetáculo do mundo.

E em desfile pelas ruas, alguns dos artistas se mostravam atraentes, alegres, sedutores, com todo poder de sedução do qual eles próprios não tinham nenhuma dúvida

A imaginação ia bem mais longe do que o homem que anunciava as maravilhas poderia supor.

Além do que a realidade poderia supor.

Adulto, quando levava as minhas filhas ao circo elas riam mais de mim do que dos palhaços.

É que eles já não tinham a mesma graça e elas não riam tanto.

Eu, morria de rir.

Era a infância ainda querendo morar no adulto, mesmo percebendo que a morada já não era a mesma.

E elas rindo porque me viam achando graça daquilo tudo.

Os circos e os palhaços desapareceram da minha vida.

E sem eles ela não é a mesma.

O mundo foi ficando chato, sem graça.

Vi então armarem-se outros circos e surgir outros palhaços.

Sem nenhuma graça.

Sem nenhum charme, não seduzem.

Circos que se armam a todo instante.

Palhaços que não fazem rir.

Sim, eu sei. Já tinha aprendido que os palhaços não são sempre alegres, não vivem com um sorriso no rosto o tempo todo.

Já sabia que por trás daquele sorriso pintado nem sempre havia um de verdade.

Mas não é isso.

São palhaços realmente diferentes.

Os donos do grande circo lhes deram outra tarefa.

O espetáculo não pode parar.

O grande circo se transformou em espetáculo de movimentos esquisitos e ganhou a amizade e proteção da mídia.

A televisão, particularmente, tornou-se poderosa aliada e mantenedora do grande circo e seus malabaristas.

Palhaços cujo show tira a alegria das famílias.

Dos pais.

Que já não veem seus filhos rindo como antes.

Eles, os palhaços, já não vestem as mesmas roupas alegres, coloridas, cheias de vida.

Estranho o modo como se vestem.

Cores escuras, mortas, sem vida.

Como se fossem coveiros.

É isso.

São palhaços coveiros.

Circo armado, espetáculo sem fim, da pior qualidade.

Ilusionistas, equilibristas, malabaristas, trapezistas que precisam de uma rede para lhes proteger, homens que brincam com fogo, que fazem o show somente para os portadores dos bilhetes mais caros e ocupantes dos melhores lugares, de onde chegam os presentes e as homenagens.

Os palhaços coveiros não conseguem arrancar um único sorriso, mas agradam.

Nesse circo não são os sorrisos que contam.

Vai-se o pão.

O circo continua.

A fome só será sentida depois.