Como é bom ser professor. Estudo, conhecimento, status, entrevista (na televisão, a glória), ser homenageado, compor mesas, destaque em eventos, retorno financeiro para o consultório, uma maravilha.
Somos diversos. Como somos pela visão de alunos e dos próprios professores? Juntei um e outro e colhi os “depoimentos”. Tentei alinhavar e interpretar da melhor forma possível e da mesma forma tento passar para você.
Antes, porém, abro um parêntese. Quem conhece um pouco da obra de (Federico) Fellini e já viu algum filme seu, sabe que era um mestre em construir personagens. Em um dos melhores filmes que vi na minha vida, Amarcord, ele constrói uma galeria de professores em que é quase impossível que não reconheçamos pelo menos um dos nossos entre eles.
Não precisaria chamar a atenção, mas mesmo assim o faço, para o fato de que jamais pretenderia fazer uma análise felliniana, até porque não se trata de interpretação pessoal, mas sim de resultado de considerações colhidas e repassadas. Veja o que deu.
Há o professor “bom de ambulatório”. O que é ser bom de ambulatório? É estar sempre disposto, corre para um lado, corre para o outro, senta para demonstrar, diz para tirar um, para aumentar um, agora sim, o comprimento ‘tá bom (endodontia). Às vezes não tem um discernimento que permita desenvolver o discernimento do aluno, mas é bom de ambulatório. Pode ser um bom professor quem é somente bom de ambulatório?
Há o professor tecnologia pura. Note book de última geração (eu, como sempre desavisado, no início achava que era mek de McDonald’s), Ipad (vocês preferem tablet?), material didático de grande qualidade audiovisual, tudo sempre de última geração (penúltima, nem pensar). Um show. Só não pode dar problema no mek, porque aí dá zebra; não tem aula.
Há o professor amiguinho, que depois se torna amigo (geralmente ali pelo 10º semestre). E tome churrasco.
Há o professor expositor, adora expor fotos suas ao lado de gente famosa.
Há o professor artista. Gosta de se exibir, inclusive nas aulas; a sala de aula é um palco.
Há o professor viajante, que adora colocar fotos das viagens, inclusive do que come, no facebook.
Há o professor BBB (nessa os alunos pegaram pesado, foram cruéis). Calma, calma, não é o que você está pensando. É Babaca, Besta (ufa, por pouco), Boçal.
Há o professor “estou sempre presente”. Acha que ser professor é não faltar às aulas, a presença física mostra o seu compromisso com o ensino.
O professor babão baba o o… de todo mundo. Tecido predileto, a seda, para que possa rasgar à vontade. De personalidade duvidosa, é amigo-irmão de todo mundo. Todos com quem cruza são os maiores.
O professor protocolo é incapaz de pensar, mas um fiel seguidor de protocolos. Renuncia a qualquer coisa em nome de um protocolo, de preferência de faculdades renomadas. Assim se equipara aos criadores.
O professor dos professores quer reverter a ordem mundial das coisas e convencer os outros de que, apesar das evidências, a sua evidência é a maior.
Há o Prof. Dr. Até ontem era professor, hoje é Prof. Dr. Crème de la crème, elite, nata, o eleito, Deus dos deuses.
É claro que também há o professor chato. Aqui talvez existam sub-divisões, entre elas aquele que é chato porque insiste em querer ensinar. Há um outro tipo, pior ainda, aquele que, além de insistir em querer ensinar, quer que os alunos não sejam só dentistas, médicos, advogados… Tem a pretensão de que sejam algo que realmente faça parte da sociedade. Muito chato.
Mas, há um tipo muito especial, muito em voga nos tempos atuais, que não pode passar despercebido. Alguns não são professores de graduação (acho que já foram alunos de graduação, não tenho certeza). Esse tipo não tem a menor noção do que é um aluno de graduação, de como ele é, de como se comporta, de como age e reage, qual o seu nível de comprometimento, qual a sua idade “real”. Ele próprio não tem compromisso com o que “ensina”. Geralmente, dá cursos em finais de semana. Este é o dador de curso.
PS. Sugestões para tipos que não foram considerados serão aceitas e incorporadas ao texto, que, como a Ciência, não é imutável.