Há algum tempo falo da grande (?) mídia brasileira e o nenhum apreço que tenho por ela. Fazem parte desse cartel poderosos grupos de comunicação como a Editora Abril (particularmente a Veja), a Folha e o Estadão, ambos de São Paulo. Sem dúvida, porém, o carro chefe é a Globo, particularmente o Jornal Nacional. Pelo seu poder, a Rede Globo é a grande força desse movimento.
A impressão que se tem é que esses órgãos da imprensa ainda fazem a cabeça das pessoas e uma prova forte disso foi dada pelo Sr. Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. No ano passado, envolvido por uma série de denúncias de corrupção, ele soltou uma frase lapidar: “tô cag… e andando. Enquanto não sair na Globo não tô nem aí”.
Se o seu envolvimento com corrupção estivesse restrito ao Brasil ele poderia tranquilamente continuar “cag… e andando” porque a Globo jamais faria qualquer reportagem sobre isso (apesar de terem sido publicadas várias delas por órgãos como ESPN, Record, Carta Capital, etc); são conhecidas as relações da Globo com a CBF e Ricardo Teixeira. Ocorre que, por ser um envolvimento que ultrapassava as fronteiras brasileiras, querendo ou não a Globo, ele teve que renunciar. É triste, porém, saber que ela ainda faz a cabeça de algumas pessoas de “nível superior”.
Entretanto, acabou o tempo em que a sociedade brasileira assistia/lia a notícia dando credibilidade total à informação. Hoje, qualquer pessoa que tenha o mínimo de discernimento não vê mais a notícia como antigamente. Ela vê e simultaneamente o seu inconsciente está formulando a pergunta: a quem interessa essa reportagem?
Esquemas de venda da Editora Abril, que incluem entre outros, livros e revistas para escolas, principalmente para o governo e prefeituras de São Paulo, têm sido denunciados com alguma frequência, mas, lamentavelmente isso não é do conhecimento de muitos.
É possível que muitas pessoas não saibam que as recentes mudanças feitas na programação da Globo encontram explicação na sua contínua perda de audiência. Que ninguém pense, por exemplo, que Fátima Bernardes “ganhou” um programa de televisão por serviços prestados. Não, não foi. Foi mais uma tentativa de barrar a queda de audiência. E aproveito para dizer que não funcionou; a audiência continua caindo (veja aqui os dados mais recentes).
Uma pesquisa recente que demonstra essa queda gerou uma série de textos sobre o tema. Ponho aqui as partes principais do texto publicado no Observatório da Imprensa. Os negritos são do texto original. Somente um é meu e está assinalado.
Queda da audiência do ‘JN’ é um alerta para a imprensa
Por Carlos Castilho
Nos anos 1970 e 80, o Jornal Nacional da TV Globo se orgulhava de ter uma média de 80% de audiência. Oscilava entre o primeiro e o segundo lugar no ranking de popularidade junto ao público da emissora. Hoje, o JN patina nos 27% de audiência e está no quinto lugar na lista dos programas mais vistos na Globo(1), atrás até mesmo, do pouco expressivo seriado Pé na Cova. [Dados de audiência publicados pelo suplemento “TV Show”, do jornal Diário Catarinense, do grupo RBS, afiliada da Rede Globo, em 24/2/2013.]…
A explicação para a perda de audiência do Jornal Nacional está fora da emissora. Está nos quase 150 milhões de brasileiros que todas as noites ligam a TV. Este público perdeu a atração quase mística pelo noticiário na televisão, como acontecia entre os anos 1970 a 90, passando para um posicionamento desconfiado, distante e cético…
Há 20 ou 30 anos, as pessoas discutiam os fatos, dados e eventos noticiados na TV e nos jornais. Hoje, o leitor e o telespectador se mostram mais preocupados em identificar quem está por trás da notícia (negrito meu, RS), quem são os beneficiários e os prejudicados. Ao longo dos anos, o público, de maneira geral, começou a perceber que os entrevistados e protagonistas do noticiário estavam mais preocupados com sua imagem pessoal do que com a informação. Que os eventos cobertos estavam ligados a interesses políticos, comerciais ou econômicos…
O erro está no papel da imprensa,… A confiabilidade de dados e fatos deixou de estar atrelada a uma checagem jornalística para ficar pendente do status da fonte. Os jornais, revistas e telejornais se preocuparam mais com os formadores de opinião e tomadores de decisões do que com o público, que foi aos poucos perdendo a confiança naquilo que lhe era oferecido como sendo a verdade dos fatos.
A imprensa está pagando caro por esse erro estratégico porque a crise no modelo de negócios provocada pelas n
ovas tecnologias de comunicação e informação fez com que ela se tornasse mais dependente do consumidor de notícias, justo no momento em que cresce o ceticismo e desconfiança do público em relação ao noticiário corrente. Ceticismo que assume proporções endêmicas no público jovem, com menos de 35 anos e que em breve estará na liderança dos governos, das organizações sociais e das empresas.
ovas tecnologias de comunicação e informação fez com que ela se tornasse mais dependente do consumidor de notícias, justo no momento em que cresce o ceticismo e desconfiança do público em relação ao noticiário corrente. Ceticismo que assume proporções endêmicas no público jovem, com menos de 35 anos e que em breve estará na liderança dos governos, das organizações sociais e das empresas.
A solução para esse problema não está em tecnologias mais sofisticadas, mas na revisão das estratégias editoriais que priorizam os interesses das fontes e das empresas jornalísticas. O jornalismo tem no seu DNA a prestação de serviços ao público, e é aí que ele pode encontrar novas fórmulas de relacionamento com leitores, ouvintes, telespectadores e internautas…
Se as atuais empresas jornalísticas ignorarem o público como seu parceiro para continuar a vê-lo apenas como comprador de notícias, elas não sobreviverão e serão substituídas por outras. O preço a ser pago é o desperdício de quantidades imensas de informação acumuladas ao longo dos anos e que podem virar sucata junto com marcas jornalísticas centenárias.