Está bem, concordo. Nenhuma novidade.
Desde o início do julgamento a imprensa brasileira, Globo à frente, não fez outra coisa além de pressionar os ministros do STF. Satanizou uns, como o Ministro Ricardo Lewandowski, e fez Deus Joaquim Barbosa.
Quem não lembra da frase de um dos ministros? “Estamos julgando com a faca no pescoço”.
Portanto, nenhuma surpresa na postura da Globo. Mesmo com as mentiras contidas no seu ridículo e vergonhoso editorial, a Globo só consegue enganar aos de sempre: aos homer simpsons (William Bonner comparou os telespectadores do Jornal Nacional a Homer Simpson, chamando-os de burros e preguiçosos) e ao 1% (como são chamadas as pessoas que, chova ou faça sol, acham os governos Lula/Dilma os piores do mundo).
O que foi um pouco surpreendente, só um pouco, foi a postura dos ministros.
Por que só um pouco? Porque, na verdade, confirma o que já se fez demonstrar há algum tempo; a pequena estatura dos homens e mulheres que vestem aquelas imponentes togas.
Não se trata de votar contra ou a favor de quem quer que seja. Trata-se de votar de acordo com o que dizem as leis brasileiras, cada vez mais “interpretadas” de acordo com os ventos que sopram.
O decano (ministro mais antigo da corte) do STF, Celso de Mello, fez um forte depoimento a favor dos embargos infringentes na fase inicial do julgamento. Estava nada mais nada menos do que defendendo o que dizem as normas do STF (veja o vídeo abaixo). Talvez não esperasse que as coisas tomassem o rumo que tomaram.
Ocorre que, diante dos vários equívocos cometidos pelos ministros durante o julgamento, tornou-se inevitável recorrer-se aos tais embargos, recursos amparados pela normas jurídicas, com amplas possibilidades de alterações das penas já noticiadas.
A Rede Globo e periféricos (Veja, Folha, Estadão…) perceberam a possibilidade e aumentaram de forma escancarada a pressão sobre os ministros. Para ficar em dois exemplos, um deles, Ayres Britto, escreveu o prefácio do livro de Merval Pereira. Título do livro: Mensalão. Como pode um ministro do Supremo Tribunal Federal prefaciar um livro sobre o julgamento do qual ele era o presidente? Ele agora está pressionando o Tribunal Superior Eleitoral para aprovar o partido de Marina, um partido político, composto por políticos e que ela insiste em chamar de Rede. Detalhe: Ayres Britto quer ser candidato.
O outro, Joaquim Barbosa, recebeu vários prêmios, homenagens e medalhas do PSDB e da imprensa e seu filho ganhou um emprego na Globo. Inacreditável.
Esse mesmo Merval Pereira, jornalista da Globo, recebeu uma ligação do ministro Celso de Mello justificando-se dizendo que, apesar de ser a favor dos embargos infringentes, iria mudar e votar contra.
Faço uma simples pergunta; existe alguma toga no mundo que torne homens desse tipo respeitáveis?
Merval Pereira, com as suas notórias inteligência e sensibilidade, vem apostando garrafas de vinho no ar, em seus programas, garantindo que os réus serão presos e estimulando os seus telespectadores a fazerem o mesmo.
Há muito tempo a Globo e periféricos não estão preocupados com a notícia, estão mandando os ministros decretarem a prisão. Veja a mais recente “sugestão” que foi feita: Merval avisa: Barbosa quer prender até 7/9.
Por conta dessas pressões, ministros já deixam escapar que vão votar contra os embargos. Entre eles, o decano, ministro Celso de Mello. Parece que pouco vai importar que agora ele também estará em julgamento. Ele não deve satisfação à sua honra e dignidade, mas à Globo.
Veja a matéria do Brasil 247
Em vídeo, decano defende com ênfase os embargos
Faltam 48 horas para a decisão mais importante do STF, na Ação Penal 470; na quinta-feira, os ministros decidirão se Faltam 48 horas para a decisão mais importante do STF, na Ação Penal 470; na quinta-feira, os ministros decidirão se réus com pelo menos quatro votos terão direito a um novo recurso, o chamado embargo infringente; no ano passado, no próprio jul
gamento, o decano Celso de Mello defendeu enfaticamente a necessidade desse tipo de embargo, em respeito ao duplo grau de jurisdição; no entanto, pressionado pela Globo, seus colunistas e alguns ministros, ele estuda mudar de posição, esquecendo o que disse há um ano; o dia D da Ação Penal 470 será também o dia do julgamento de Celso de Mello; assista
Nesta terça-feira, quando for retomada a sessão de julgamento da Ação Penal 470, o ministro Joaquim Barbosa deve colocar em votação os embargos de declaração ainda pendentes, propondo sua rejeição pelo plenário da corte. Na contagem regressiva para o fim do processo, na quinta-feira, ele levantará a questão mais importante de todo o espetáculo: afinal, os embargos infringentes, que permitem nova chance de julgamento a réus com pelo menos quatro votos favoráveis, devem ou não ser aceitos?
Nessa discussão, que atinge réus como o ex-ministro José Dirceu e os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Genoino (PT-SP), a palavra do decano Celso de Mello terá peso especial. Como ministro mais antigo da corte, ele é ouvido e respeitado pelos colegas. No dia 2 de agosto do ano passado, Mello já se manifestou de forma cristalina sobre a admissibilidade desses embargos, que, para ele, são um "recurso ordinário" (normal, corriqueiro) do STF.
No entanto, o ministro vem sendo pressionado por alguns colegas, como Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, que gostariam de dar o caso por encerrado, e também por veículos de comunicação, especialmente a Globo e seus colunistas, a mudar de posição. À Globo, interessa apresentar o último capítulo na novela na quinta ou sexta-feira, antes do Sete de Setembro, portanto, com a prisão dos réus em cadeia nacional de televisão. Assim, a teledramaturgia teria, sob seus critérios, um final feliz – ainda que, para isso, fosse necessário passar por cima do direito de defesa – permitindo que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, se fortaleça como presidenciável ou dispute o governo de Minas Gerais.
No entanto, o vídeo de Celso de Mello não deixa margem a dúvidas. Sua posição é clara, cristalina, e aponta o embargo infringente como a possibilidade de um duplo grau de jurisdição – o que, até agora, foi negado aos réus da Ação Penal 470, embora seja um direito assegurado por convenções internacionais, das quais o Brasil é signatário.
Dentro de 48 horas, portanto, não apenas os réus terão seu destino selado. Quem também estará sendo julgado, pela História, é o próprio Celso de Mello. Será um juiz, respeitando as próprias palavras ainda tão recentes, ou se deixará levar pela agenda política dos que hoje lhe pressionam?
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