Por Ronaldo Souza,
Você vê acima a manchete do Estadão, de dois dias atrás.
O que se pode deduzir?
Como o país está submerso num “mar de lama” e de “enorme boa vontade”, você vai dizer:
Pegaram Lula em nova corrupção.
E como muitos só leem as manchetes, esta será a leitura de todos:
“Pegaram Lula em nova corrupção”.
E todos saem por aí, alegres da vida, divulgando a mais nova corrupção de Lula.
Movidos pela ignorância (muitos), e pela absoluta falta de caráter (alguns), compartilham.
Se estivéssemos em outros tempos, em que a ordem de comando não fosse dada pela ignorância e falta de caráter, veriam que a matéria do próprio Estadão nada tem a ver com o que o título pretende mostrar.
A matéria simplesmente diz o que todos sabem; “não há relação da offshore com o apartamento atribuído ao ex-presidente Lula”.
A citação ao nome de Lula é essa.
O que pretende então o Estadão com a manchete “Moro manda para o STF investigação da Mossack que cita Lula”?
Por saber que seus letrados leitores não leem, formam o seu conhecimento dos “fatos” nas manchetes, deixa bem insinuadinho, bem bonitinho, bem mastigadinho, que Lula está envolvido no escândalo da Mossack.
Não sabem eles, os letrados leitores, que envolvida está a Globo.
Não sabem eles que Sérgio Moro (agora já se sabe que não passa de soldado mandado de Rodrigo Janot, Procurador Geral da República), partiu pra cima de Lula na a essa altura esquecida matéria sobre o triplex de Guarujá.
Lá o juiz Moro encontrou a Mossack & Fonseca, empresa envolvida em diversos episódios de corrupção e lavagem de dinheiro espalhada pelo mundo.
O que fez Moro?
Prendeu os envolvidos, imaginando; peguei Lula.
Por que imaginou ter alcançado o objetivo da Lava Jato?
Se a Mossack estava “lá dentro” do edifício do triplex, era ali que ia “encontrar” Lula com a mão na botija.
Não encontrou.
E mais.
O fio da meada foi bater em Paraty, mais especificamente em uma reserva ambiental de Paraty.
E lá estava outro triplex.
Esse sim, além de ilegalmente construído em reserva ambiental, de altíssimo luxo.
Até hoje a Globo nega ser dela, mas documentos com a assinatura de Paula Marinho ligam herdeira da Globo diretamente a três empresas offshore, uma delas a Vaincre, dona da mansão de Paraty.
Não é curioso?
Até hoje não apareceu o dono dessa belíssima mansão.
Tá lá, jogada.
Lembra dos jatinhos que serviam Eduardo Campos e Marina Silva, sim aquela mesma que fica de fora de tudo, só mordendo e soprando, mordendo e soprando?
Até hoje ninguém sabe de quem são os dois jatinhos.
Marina não tem a menor ideia.
O que fez Moro?
Mandou soltar os funcionários da Mossack que ele mesmo tinha mandado prender.
Entende agora porque falei na “a essa altura esquecida matéria sobre o triplex de Guarujá”?
Estão usando no golpe (ali eles usam tudo), mas você, esperto, astuto, sagaz, já deve ter percebido que ninguém fala mais, ninguém investiga mais.
Nas águas de Guarujá e Paraty foram pescar Lula, pescaram tubarão.
Veja a matéria do Tijolaço.
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Estadão dá aula de como manipular um título
Por Fernando Brito, no Tijolaço
Vejam o que faz o Estadão sobre a Mossack Fonseca, estrela dos Panamá Papers.
Título: Moro manda para o STF investigação da Mossack que cita Lula.
E 22 demoradas linhas depois: Não há relação da offshore com o apartamento atribuído ao ex-presidente Lula.
A investigação da Mossack cita Lula em que, então?
Ou a Mossack apareceu na ânsia frustrada de “pegar” o Lula.
Porque os jornais brasileiros não se interessam pela farta documentação, mostrada aqui, no Viomundo e em outros blogs, que mostram que a polêmica mansão irregular de Paraty, objeto de processo na Justiça Federal pertence a um empresa organizada pela Mossack Fonseca?
Por que a tentativa de ligar Lula a ela se, linhas adiante, se dirá que nada têm a ver?
Porque, lamentavelmente, não se faz jornalismo, faz-se uma campanha política de desmoralização que não conhece nem os limites da verdade nem os da ética.