Fator Marina já não ajuda Eduardo Campos. E agora?

 

Ibope mostrou queda dos dois nomes do PSB – o de Eduardo Campos e o de Marina Silva (mais acentuado); com adesão da ex-senadora, governador pernambucano chegou aos dois dígitos das pesquisas, mas agora caiu e volta a ter 7% das intenções de votos; somado a isto, discurso da terceira via e da quebra da dualidade PT-PSDB ainda não se mostrou eficiente; alianças políticas para gerar tempo de propaganda ainda engatinham; acordo de não-agressão com o PSDB pode ser muito limitador; críticas ao governo federal também têm alcance limitado, embora pesquisa mostre certo desejo de mudança; a menos de oito meses para início da campanha, Campos tem enormes desafios pela frente

Brasil 247

Passado o efeito surpresa da adesão da ex-senadora Marina Silva ao projeto do PSB, o que, no primeiro momento, turbinou os números do presidenciável do partido, o governador pernambucano Eduardo Campos, fazendo com que ele chegasse aos dois dígitos nas pesquisas, a mais recente sondagem do Ibope, divulgada nesta segunda-feira (18), mostra uma queda nas intenções de voto – tanto dele quanto dela. Em outubro, Campos pontuou em 10%, enquanto Marina apareceu com 21%. Agora, ele caiu para 7% e ela para 16%. Diante de tais dados, fica mantido o desafio do governador de Pernambuco de quebrar a dualidade entre PT e PSDB e se apresentar, com consistência, como terceira via.

Sem o esperado crescimento nas pesquisas, a aliança com a ex-senadora Marina Silva pode se tornar muito mais um problema do que solução para Campos. Além da ambientalista continuar sendo uma sombra que ameaça a candidatura do presidente do PSB, as restrições dela a aliados (principalmente, os políticos e empresários ligados ao agronegócio) e as cobranças em prol de candidaturas próprias (como ocorre em São Paulo, onde o PSB deseja se manter no projeto do tucano Geraldo Alckmin) podem dificultar a vida do governador pernambucano.

Campos está cada vez mais conformado na linha da oposição. Na última sexta-feira (18) atacou o governo federal, ao defender que os investimentos no Nordeste sejam mais substanciais. “Não queremos migalhas, não queremos favores, queremos direitos. Não queremos ser enxergados só como celeiro eleitoral, queremos ser olhados pelo respeito que a gente nordestina merece por ter prestado a esse País os mais belos momentos da construção da nação brasileira. Nós não somos um peso para o Brasil, somos parte da solução para esse País”, disse.

Sobre a prisão dos condenados na Ação Penal 470, ele também assumiu discurso contrário aos ex-aliados. O presidenciável afirmou que as prisões eram mais do que esperadas. Além disso, o PSB irá usar o tema contra o PT em, pelo menos, dois Estados – Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Ainda assim, há fragilidade nas duas temáticas levantadas pelo presidenciável do PSB. No primeiro caso, é nítido que os governos do PT fizeram amplos investimentos na região Nordeste. É por isso que a região tem colocado a presidente Dilma em condição mais favorável nas pesquisas. Há também o fator Lula, que desfruta de uma popularidade nas alturas na região e que já afirmou que irá para lá fazer campanha para sua sucessora. Quanto ao mensalão, o tema, mesmo no ápice do julgamento, não impediu a vitória de Fernando Haddad na capital paulista, dificilmente, terá força para prejudicar o PT em 2014.

Ou seja, Campos ainda carece de um discurso mais consistente que também estabeleça uma diferença entre ele e o presidenciável do PSDB, Aécio Neves, que se manteve estacionado na pesquisa Ibope divulgada nesta segunda. Por falar em Aécio, o acordo de não-agressão já firmado entre ele e Campos pode ser também uma pedra no sapato. A estratégia de tentar tirar voto apenas da candidata petista pode não ser suficiente para empurrar Campos a um segundo turno.

Na pesquisa Ibope, apenas Dilma cresceu com a queda de Campos e Marina. Mas ainda é cedo para ela comemorar. A mesma sondagem revela um dado importante – e é onde os candidatos de oposição devem mirar. O Ibope perguntou aos eleitores com qual de quatro frases sobre o futuro presidente eles mais concordavam. A maioria optou por frases que indicam um desejo maior de mudança do que de continuidade: 38% responderam que gostariam que o próximo presidente “mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa”; outros 24%, que “mudasse totalmente o governo do país”. Apenas 23% disseram preferir que o novo presidente “fizesse poucas mudanças e desse continuidade para muita coisa”. E 12% prefeririam que ele “desse total continuidade ao governo atual”. Ou seja: 62% sinalizaram com preferência pela mudança, contra 35% que manifestaram desejo de continuidade de tudo como está.

Embora, o sentimento de insatisfação, aceso durante as manifestações de junho, permaneça no ar, cresce a aprovação à presidente Dilma Rousseff, que tem seu estilo de governar aprovado por 55% dos brasileiros. Ou seja, mesmo com o desejo de mudança, a maioria do eleitorado simpatiza com a presidente, o que só reforça que os fatos – como a estabilização da economia e o controle da inflação – é que irão definir o voto do eleitor em 2014.

Mas para Campos, que tenta se tornar uma alternativa, não dá para esperar por fatos negativos. É preciso rever a estratégia e repensar como se aproximar, por exemplo, do eleitorado de classe média, que tem se tornado refratário ao PT, e ao de alta renda, mais simpático ao PSDB. A ampliação de alianças, que garantirá tempo de propaganda partidária é também vital para que o projeto do PSB decole. Tanto o PPS quanto o PDT deram alguma sinalização de que podem apoiar Campos. Resta agora ao governador pernambucano criar as condições para tornar isto possível. Mas tem que ser rápido: faltam menos de oito meses para o início da campanha eleitoral.