Futebol, política e o Bahia

Escudo do Bahia

Por Ronaldo Souza

Em 1999 o Bahia foi resgatado da série B para a série A do Campeonato Brasileiro.

À época presidente do clube, Paulo Maracajá Pereira anunciou aos quatro cantos do mundo que o Bahia tinha subido graças aos grandes esforços do então senador Antônio Carlos Magalhães.

Foi um completo desserviço às coisas do Bahia e um flagrante desrespeito à sua torcida.

Na verdade, o Bahia subira no vácuo do Fluminense do Rio de Janeiro, time habituado a esses recursos pela força de seus ilustres torcedores João Havelange (nada mais nada menos que o todo poderoso presidente da CBD, hoje CBF) e posteriormente presidente da FIFA e de seu genro, Ricardo Teixeira, presidente da CBF.

Os mesmos mecanismos utilizados para livrar o Fluminense da série B foram aplicados ao Bahia. Subindo um tinha que subir o outro.

Todos sabem disso.  

Apesar de torcedor do Vitória (ainda que sem muita fé), como político experiente e conhecedor dos caminhos o senador Antônio Carlos Magalhães sabia da força incomparável do Bahia em eleições e por isso jamais se recusou a estar por perto.

Dizem que a presidência do Bahia representa o segundo cargo mais importante da Bahia. O primeiro seria o de governador do estado.

Mas foi um absurdo inaceitável e injustificável do então presidente do clube tentar creditar ao senador as “honras e glórias” daquele momento.

A subida do Bahia não teve absolutamente nada a ver com o político.

Imaginar um mundo sem política é tolice.

Dissocia-la do futebol também.

No entanto, não se deve por isso aceitar a presença da política partidária dentro de um clube de futebol.

Evitar essa contaminação, ou pelo menos minimiza-la, é tarefa de todos nós.

No próximo sábado (09/12), teremos eleições para escolher o presidente do Bahia para o triênio 2019-2021.

Sem dúvidas, um momento da mais alta importância para a nação tricolor.

Um momento em que ela não pode esquecer a tragédia que foram para o Bahia as suas últimas administrações. Sob todos os aspectos, um desastre absoluto.

Nesse sentido, méritos para Marcelo Sant’Ana e sua diretoria. Com acertos e erros, conseguiram tirar o nosso time de uma situação inimaginável até poucos anos atrás.

Entre as chapas que concorrerão, três são apontadas como as que têm mais chances de vencer.

Confesso o meu desconforto ao ver que uma delas apresenta um contexto político que eu diria muito difícil de desconsiderar.

“O secretário de Desenvolvimento e Urbanismo de Salvador (Sedur), Guilherme Bellintani, deixa a administração do prefeito ACM Neto (DEM) ainda esta semana para disputar o cargo de presidente do Esporte Clube Bahia”. 

Assim noticiou o jornal A Tarde na quinta-feira passada, dia 30/10.

Nada contra o Sr. Bellintani, secretário do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto. Não o conheço e longe de mim imagina-lo incompetente para o cargo.

Ocorre que não consigo ver nada que o ligue ao Bahia em qualquer momento da história do Tricolor de Aço.

Até o momento em que escrevo não tenho maiores informações se já se desvinculou do cargo na prefeitura e sobre o porquê dessa repentina chegada ao Bahia, sem algo mais consistente para explica-la.

Insisto, sem qualquer demérito ou qualquer outra conotação com relação ao Sr. Bellintani, há sim um considerável desconforto diante dessa candidatura.

Ainda que desconsideremos os boatos de que o seu comandante na prefeitura aspira ao governo do estado e de que ele próprio à prefeitura posteriormente, a sua chegada ao Bahia se mostra um pouco apressada.

Ah, quantas vezes desejei ver Virgílio Elísio presidente do Bahia.

Ainda muito jovem me acostumei a ouvi-lo como comentarista de futebol na Rádio Cultura, se não me engano.

Inteligente, fácil comunicação, equilibrado, expressava-se muito bem e fazia bons comentários.

A sua competência como presidente da Federação Bahiana de Futebol, cujos últimos anos são um horror, deve ter chamado a atenção ao ponto de leva-lo para a CBF, que dispensa apresentações e comentários.

A sensação que tenho, porém, é a de que Virgílio Elísio não parece ter escolhido o momento mais adequado para a sua candidatura e quem sabe por isso tenha se colocado como vice na chapa.

Isso passou a representar uma dificuldade para mim. Eu, que tantas vezes desejei vê-lo presidente do Bahia, não consigo agora ter a segurança e tranquilidade que gostaria de ter na sua chapa.

Confesso que chegou um momento em que pensei; não tem jeito, ele não vai sair.

Esse ele era Marcelo Guimarães Filho, ex-presidente do Bahia.

Fruto dos desmandos do clube nos últimos tempos, era um absurdo a sua permanência por tão longo período à frente dos destinos do Bahia. Com nítido desejo de continuar por mais tempo ainda.

Sentia-me inteiramente à vontade para critica-lo e torcer, àquela altura desesperadamente, pela sua saída. Para mim, tornara-se persona non grata ao clube, que ele estava destruindo.

“Vi nele, pela juventude, a possibilidade de mudança, de renovação e confesso que num primeiro momento me entusiasmei. Fiquei ao ‘seu lado’ quando, em momento que julguei inoportuno pelo que o Bahia parecia querer mostrar, a oposição promoveu uma intervenção por meio de liminar. Escrevi sobre isso. Porém, as minhas previsões não se confirmaram”.

Foi isso que escrevi sobre Marcelo Guimarães Filho em 06 de fevereiro de 2013, no texto O Bahia de ontem com roupa de hoje.

E aí vi surgir um movimento como nunca antes tinha visto.

Sob o olhar do Brasil, a Bahia se movimentou e se uniu em torno de um dos seus maiores patrimônios.

O Bahia.

Foi lindo.

Que time de futebol tem na sua história momento tão rico de demonstração de amor, paixão, beleza e força como aquele?

Cinquenta mil pessoas foram às ruas de Salvador para brigar pelo seu time, na campanha “Devolva meu Bahia”.

Devolva meu Bahia

“Resta dizer que jamais, repita-se, jamais uma torcida fez manifestação semelhante no Brasil”.

Assim escreveu Juca Kfouri no seu blog.

Muitos tricolores de primeira linha estiveram à frente daquele momento histórico.

Um deles, Fernando Jorge Carneiro, ou simplesmente Fernando Jorge.

Foi uma constante injeção de ânimo e luta a sua atuação naquele momento único do futebol brasileiro.

Acompanho-o à distância e percebo seu entusiasmo e dedicação às coisas do Bahia. Quem o conhece minimamente sabe da sua forte ligação com o clube.

O seu vice é Antônio Tillemont, radialista e empresário.

Não me deixa muito confortável a sua presença na chapa, pelo fato de ser empresário de alguns jogadores de futebol (ele diz não ser mais) e não por qualquer outra razão.

Independentemente dessa ou outra questão, é a presença de Fernando Jorge que me dá a segurança de que posso esperar por dias mais promissores para o nosso time.

Como ele próprio diz, a Bahia é Bahia.

Espero que com ele a Bahia seja ainda mais Bahia.