Brasil não pode mais alegar ser país em desenvolvimento, diz vice dos EUA
Para Joe Biden, nação já ’emergiu’ e deve assumir papel de destaque no mundo; político quer estreitar relações comerciais para aumentar negócios entre os países
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou esta quarta-feira (29), em visita ao Rio de Janeiro, que o "Brasil não pode mais alegar ser um país em desenvolvimento" e precisa assumir os ônus de ser uma nação que já emergiu e exerce uma liderança no hemisfério sul.
No discurso no Pier Mauá, no centro do Rio, Biden fez muitos elogios aos avanços econômicos e sociais do Brasil e defendeu o estreitamento das relações comerciais e culturais entre os dois países.
"Tenho más notícias: o Brasil já não pode mais alegar ser um país em desenvolvimento, emergente… O país já se desenvolveu, já emergiu. E é preciso assumir os ônus desse desenvolvimento, posicionar-se e desempenhar seu papel de forma positiva", afirmou o vice-presidente.
Segundo ele, "o resto do mundo olha para vocês com inveja" diante da evolução econômica do País. "Mas a lição mais importante que o Brasil ensinou não foram os programas sociais, que todos copiam, mas a demonstração de que não é preciso escolher entre a falsa dicotomia entre democracia e desenvolvimento, e entre economia de mercado e desenvolvimento social."
Como demonstração da importância do Brasil e da América Latina no novo cenário mundial, o vice-presidente dos EUA confirmou o convite para a presidente Dilma Rousseff ir aos EUA em outubro, a ser formalizado nesta sexta, quando ele estará com ela, em Brasília. "Será a única visita (de chefe de Estado ) neste ano em Washington", disse.
Biden fez inúmeros elogios ao Brasil, citou os programas Fome Zero e Bolsa Família , a saída de 40 milhões da linha da pobreza e mencionou, em três ocasiões, a emergência da nova "classe média". "Não é por acaso que o presidente Obama esteve no Brasil e eu estou aqui novamente."
Também teceu comentários positivos sobre o "dinamismo inacreditável" da economia nacional e o know-know brasileiro nas áreas de prospecção de petróleo em áreas profundas e em biocombustíveis.
Biden afirmou que o comércio entre Brasil e EUA é de US$ 100 bilhões e, para o vice-presidente americano, não há razão para que esse valor não seja cinco vezes maior. "Temos duas das maiores e mais inovadoras economias do mundo. Imaginem o que elas podem fazer juntas", disse.
"Os dois países precisam trabalhar muito para expandir essa parceria. A porta está escancarada. Não há outro momento da história com tanta oportunidade de expansão. Mas, como qualquer aluno de história sabe: é preciso aproveitar esses momentos ou eles passam. Nossos melhores dias estão por vir."
Biden disse que os EUA dão as boas-vindas aos investidores brasileiros. "Queremos vocês, precisamos de vocês", disse.
Visita ao Cenpes e à UFRJ
Após o discurso no Pier Mauá, Biden foi recebido por um pequeno protesto de sindicalistas no Cenpes (Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello) ao chegar para falar com a presidente da Petrobras, Graça Foster. Os manifestantes tinham faixas com o dizer "O Petróleo é Nosso" e afirmaram ao microfone que o vice-presidente dos EUA "não é bem-vindo".
Ao assistir a explicações e ver cartazes sobre exploração de petróleo em águas profundas, Biden brincou com os fotógrafos: "Vou fazer uma prova sobre isso depois!"
Após visitar dois laboratórios e ter uma conversa de cerca de 25 minutos com Foster, Biden foi ao Parque Tecnológico da UFRJ, a "Ilha do Petróleo", onde participou de uma mesa redonda ao lado de Roberto Ramos, CEO de energia da Odebrecht, o empresário Jorge Gerdau e a ex-embaixadora dos EUA no Brasil e atual presidente da Boeing no País, Donna Hrinak. A Boeing está competindo na concorrência dos caças da Força Aérea Brasileira. O governo norte-americano tem pressionado o Brasil a comprar os jatos da Boeing.
O vice-presidente americano chegou ao Rio de Janeiro na noite de terça (28) e ficará na cidade até a tarde de quinta (30), quando vai conhecer a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Santa Marta, em Botafogo (zona sul), antes de seguir para Brasília, onde se reúne com Dilma.