Já houve coisa bem pior, mas a derrota do Bahia para o Grêmio foi sim, um escândalo. Entretanto, antes de qualquer comentário, gostaria que você voltasse comigo um pouco no tempo.
Em 1981, Atlético (MG) e Flamengo estavam empatados na decisão pela Libertadores das Américas. Os dois times decidiram realizar uma partida extra no estádio Serra Dourada, em Goiânia (GO). Antes mesmo do jogo já havia polêmica. O árbitro escolhido para apitar a partida foi José Roberto Wright, que viajou junto com a delegação carioca do Rio até Goiás, algo, no mínimo, não recomendável. Mas o que gerou mais desconfiança foi que simplesmente Wright ficou hospedado no mesmo hotel que o Flamengo.
Aos 10 minutos do primeiro tempo, Reinaldo (para os mais jovens, um dos maiores centroavantes que o Brasil já teve e fundamental para o Atlético) fez falta normal em Zico e imediatamente Wright mostrou o cartão vermelho. Reinaldo ficou perplexo e tentou se explicar, mas de nada adiantou. E não demorou muito para nova expulsão, sendo Éder a vítima dessa vez. Aos 34 minutos (ainda primeiro tempo), ele já tinha expulsado mais três do Galo. O que? Não ouvi direito. Você perguntou quem se classificou?
Vasco e Flamengo, final da Taça Guanabara de 1982. Em uma combinação com a Rede Globo, José Roberto Wright apitou o jogo com um microfone escondido na roupa. Relato dos jogadores diz que ele pressionou todo o tempo alguns jogadores do Vasco, principalmente Giovani. Resultado; Flamengo campeão.
Você sabia que alguns anos depois Wright se tornou comentarista de arbitragem da Globo?
Por causa de uma vitória arranjada contra o Sport de Recife em 1982, o Flamengo continuou no campeonato e se tornou Campeão Brasileiro. Veja só um pouquinho da história aqui http://www.youtube.com/watch?v=U-UqWslpJGU&feature=related. Existem muitos episódios desse tipo envolvendo alguns árbitros em determinados jogos que são facilmente encontrados na Internet.
Voltemos aos dias atuais.
Bem recentemente, após a vitória do Flamengo sobre o Bahia com um pênalti escandalosamente marcado a favor do Flamengo pelo árbitro Francisco Carlos Nascimento, o jornalista Cosme Rímoli (Rede Record de São Paulo) fez um artigo com o título “A diretoria do Bahia deve se respeitar. E enfrentar a Comissão de Arbitragem. Francisco Carlos Nascimento deu a vitória ao Flamengo em Pituaçu. Uma vergonha…”
Carlos Rímoli esqueceu que poucas rodadas antes, o Flamengo tinha ganho de 1X0 para o Santos, gol de pênalti, também inexistente, “cometido” sobre o mesmo jogador, marcado pelo… mesmo árbitro: Francisco Carlos Nascimento.
Quem tem mais força política para reclamar, Bahia ou Santos? Por que a diretoria do Santos não se fez respeitar e enfrentou a Comissão de Arbitragem?
Finalmente, Grêmio e Bahia. Mas não vou falar dos absurdos que o árbitro fez no jogo.
Começo com perguntas bem simples. Por que os jogos no Nordeste contra os times do Sul/Sudeste são apitados por “bons” árbitros (árbitros FIFA, como são conhecidos)? Por que os jogos dos times do Nordeste “lá” são apitados por árbitros desejosos de acertar? Muito sutilmente (!!), a imprensa gaúcha fez pressão sobre o trio de arbitragem sergipano, aquelas coisas como lançar dúvidas sobre a sua capacidade, etc.
Conhecido e respeitado em todo o Brasil pela sua competência, Paulo Angioni já é gestor de futebol do Bahia há quase três anos e nesse tempo nunca houve um único episódio que o fizesse perder a serenidade. Dessa vez, no entanto, não conseguiu conter a sua indignação e no seu comentário sutilmente se reportou a essa questão: "Nunca vi uma arbitragem dessa. Lógico que o árbitro deve ter vindo pra cá comprometido porque ele é sergipano. O grande erro de tudo, lamentavelmente, foi exatamente indicar um árbitro de Sergipe para cá. A crônica daqui de Porto Alegre criticou muito e ele é humano, vê televisão e com certeza estava pressionado".
Como agradar diante de tamanha pressão? Não será ao politicamente mais fraco. Por que o custo tão mais elevado de mobilização de juízes de tão longe, do Nordeste para o Rio Grande do Sul, tendo ali perto inúmeros outros?
Com justa indignação o presidente do Bahia disse que “já falei com o presidente da Federação Baiana de Futebol, que está nas Olimpíadas em Londres”. Não diria que o referido presidente da Federação Baiana de Futebol é um homem habilidoso, acho que prefiro chama-lo de jeitoso. Daí que nada sairá, nada acontecerá. Ainda mais considerando-se que nesse momento ele deve estar muito ocupado, mergulhado em problemas, tratando dos assuntos da Federação lá em Londres.
A imprensa já registrou que nas reuniões da CBF para definição dos jogos do Campeonato Brasileiro, está lá, sentado, definindo os rumos do futebol brasileiro, um dirigente da Globo. Os dirigentes, tanto faz se do Santos, do Bahia ou dos outros times, ficam pisando em ovos porque sabem que muito pouco adianta reclamar da CBF. Têm que reclamar de quem define.
Lembra da partida final da Liga dos Campeões 2012 entre Bayern e Chelsea? Procure saber onde estavam os dirigentes dos clubes brasileiros, inclusive Bahia e Vitória, naquele momento. Procure saber de quem eram convidados. Uma dica; dizem que não eram convidados da CBF. Como reclamar?
Tiveram a chance de mudar todo o atual panorama do futebol brasileiro e tentar traze-lo para um patamar mais digno no momento da decisão de quem transmitiria os Campeonatos Brasileiros de 2013, 3014 e 2015. Todos sabem que a proposta financeira da Rede Record para os clubes era bem melhor que a da Rede Globo. Como a Globo saiu do páreo e, por fora, conseguiu o Campeonatao Brasileiro de 2012, 2013 e 2014? Com a palavra os dirigentes dos nossos clubes.
A indignação da torcida é mais do que justa, mas pouco ou nada ela pode fazer. A indignação dos dirigentes também é justa, porém…
Finalmente, entendo a posição de quantos já passaram por aqui, mas é a primeira vez que vejo um treinador de futebol, nascido e habituado a treinar os times do sul/sudeste do país, dizer que “nunca tinha sentido na pele o que senti hoje e que vocês do Nordeste sempre sentiram”. Pode parecer, mas não é uma coisa simples.
Gostei da contratação de Caio Júnior desde o início e não h&aacut
e; como negar que o time melhorou muito depois da sua chegada. Mas, certamente, a percepção e a coragem contidas na sua declaração o trazem para bem perto da torcida, quem sabe num processo de identificação semelhante ao de Evaristo de Macedo. Aceito a sua conclamação para jogar com o time. Se estávamos nos queixando, e com razão, da apatia, da falta de alma do time, foram surpreendentes e tocantes a postura e a reação dos jogadores.
Torcida tricolor, apesar de tudo, o time sentiu que pode render mais do que já começava a mostrar nos últimos jogos. Mais do que nunca, vamos a Pituaçu na quarta-feira. Vamos jogar com o time. Vamos mostrar porque somos considerados a “Torcida de Ouro”.