Introdução à Endodontia

Esse é o título do primeiro capítulo do nosso livro – Endodontia Clínica. Ocorreu-me, como também à época do livro, começar a nossa conversa sabendo melhor o que é a Endodontia. Pretensa e tola intenção; todos sabemos o que é Endodontia. Então, permitam-me corrigir: começar a nossa conversa tentando ver de uma maneira diferente, e bem simples, o que é a Endodontia. Sendo assim, talvez eu devesse chamar essa primeira conversa de Reintrodução à Endodontia.

Basicamente, o tratamento endodôntico pode ser classificado de duas maneiras: (1) tratamento conservador e (2) tratamento radical. O tratamento pulpar conservador, como o nome diz, visa a conservação da polpa, isto é, a polpa é tratada e não removida. Por sua vez, o tratamento radical não trata a polpa, pelo contrário, remove-a e trata o canal. Apesar de nem sempre devidamente consideradas, essas duas condições, tratar a polpa e tratar o canal, são extremamente diferentes.

Se observarmos bem, veremos que, ainda hoje, muitas vezes o ensino da Endodontia é direcionado para a execução técnica dos seus passos, ou seja, os aspectos mecânicos. Apesar disso, se analisarmos o resultado dos tratamentos endodônticos, expressado através das imagens radiográficas das obturações de canal, veremos, sem dificuldade, que há uma grande distância entre o que se prega como ideal e o que se faz. Uma das grandes razões para isso, se não a maior, é, por incrível que possa parecer, a incompreensão do que é o tratamento endodôntico.

O momento atual é propício à concepção de que o tratamento endodôntico se resume a uma boa técnica de instrumentação e de obturação e que isso só é possível com técnicas avançadas, modernas. Tem sido comum ouvir-se esse tipo de colocação.

Todos sabemos que precisamos fazer um bom preparo e uma boa obturação. Todos sabemos que algumas técnicas podem proporcionar isso mais facilmente que outras. É necessário ser um bom clínico (no sentido de clinicar, atuar em consultório). Para muitos significa “ter mão”. Sem dúvida, tem que ser bom clínico, mas não é só isso. O tratamento endodôntico não se resume a tão pouco e ao longo do tempo, à medida que formos conversando, iremos trocando idéias sobre essa questão.

É fundamental entendermos uma coisa: seja qual for a razão que justifique o tratamento endodôntico, a polpa precisa ser inteiramente removida. O tecido responsável pela formação, nutrição, sensibilidade e defesa do dente não pode permanecer no canal se não for em suas condições de saúde. Se não for assim, ele tem que ser removido. Torna-se necessária não só a sua remoção como também o tratamento do canal, o que será possível pela realização do preparo do canal, através de todos os seus passos.

Como qualquer ato cirúrgico, o preparo do canal apresenta um certo grau de dificuldade. Se lembrarmos que a anatomia dos canais desempenha papel primordial nas dificuldades inerentes ao preparo, onde se destacam as curvaturas, entenderemos mais facilmente essa questão. Além disso, apesar de assim parecer na radiografia, o dente não apresenta somente o canal principal, mas, sim, um sistema de canais, constituido do canal principal em si, túbulos dentinários e ramificações, (canais laterais, acessórios, recorrentes, delta apicais). Todo esse sistema contém no seu interior matéria orgânica que, em determinadas situações, pode se apresentar necrosada e contaminada. Isso significa dizer que o tratamento endodôntico envolve, necessariamente, o tratamento de todo o conteúdo desse sistema de canais.

Percebam então que há uma condição fundamental para se fazer um bom preparo; a remoção do tecido pulpar. Se a polpa precisa ser inteiramente removida, deve-se imaginar a importância que têm as substâncias químicas auxiliares do preparo do canal, soluções irrigadoras e medicação intracanal.

Sendo assim, as substâncias auxiliares do preparo do canal devem apresentar alguns requisitos que tornem mais fácil o tratamento endodôntico. Não parece difícil imaginar que, sendo condição básica para um bom tratamento a remoção da polpa, viva ou necrosada, qualquer característica nesse sentido que as substâncias possam apresentar deverá ser bemvinda. Dadas as reconhecidas limitações da ação mecânica dos instrumentos endodônticos, substâncias que apresentem, por exemplo, ação solvente, devem estar entre as escolhidas.

Como foi dito, é a polpa que forma, nutre, confere sensibilidade e defesa ao dente. Uma vez que ela entra em processo de mortificação e necrose e/ou é removida, todo esse metabolismo desaparece, fazendo, portanto, do sistema de canais um espaço vazio e indefeso, que pode ser facilmente invadido por microorganismos. Para evitar ou, pelo menos, dificultar essa ocorrência, o canal deve ser preparado e preenchido com um material que seja o mais biocompatível possível. Esse é o papel da obturaç&at