Joaquim Barbosa, o herói fugaz ou a desconstrução de Joaquim Barbosa?

Em editorial do dia 09/11/2012, “Os barracos no STF”, (veja aqui http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,os-barracos-no-stf-,957803,0.htm), o Estadão faz uma crítica pesada ao Ministro do STF, Joaquim Barbosa. Nenhuma novidade. Quem acompanha os movimentos do ministro (na verdade, do próprio STF) já o conhece bem.

Ocorre que, no julgamento do mensalão do PT (chamo assim porque existem o mensalão do DEM e o do PSDB (veja aqui http://www.endodontiaclinica.odo.br/pages/posts/o-mensalao-do-governo-fhc—o-mensalao-do-psdb417.php ), este já devidamente acobertado e protegido pelo Procurador Geral da República, um homem chamado Roberto Gurgel, e pelo próprio STF), o comportamento ora criticado pelo editorial foi motivo de grande entusiasmo por parte do mesmo jornal e da grande (?) imprensa e o que transformou o ministro no novo herói da elite brasileira.

Vários comentaristas políticos, como Merval Pereira e Dora Kramer (meu Deus do Céu), já estão fazendo as mesmas críticas, chamando a atenção para o comportamento “inconfiável” de Joaquim Barbosa.

Por que essa mudança tão brusca da opinião da imprensa? Temem que quando chegar a hora do julgamento do mensalão do PSDB ele esteja tão entusiasmado com a condição recém-conquistada de novo herói que, usando da mesma sanha condenatória que usou no mensalão do PT, saia condenando os políticos do PSDB.

Não há o que temer. O mensalão do PSDB é de 1998 (durante o governo de Fernando Henrique Cardoso) e o do PT é de 2005. Assim, constava na pauta do STF que o mensalão do PSDB seria julgado antes do PT, porém o STF alterou a pauta. Puseram o do PT na frente e assim foi julgado antes. Justamente no período das eleições, sem dúvida, uma simples coincidência. A rigor, já não são tão fortes as evidências de que o mensalão do PSDB será julgado, podendo inclusive ser prescrito.

Veja alguns trechos do editorial do Estadão, com comentários meus logo em seguida.

Estadão“Em vez da serenidade – que de modo algum exclui a defesa viva e robusta de posições, bem assim a contestação até exuberante dos argumentos contrários -, o ministro como que se esmera em levar "para dentro das famílias" um espetáculo de nervos à flor da pele, intolerância e desqualificação dos colegas”.
1. Falta de serenidade que nunca foi apontada pelo grupo midiático do qual faz parte o Estadão. Os blogs sempre falaram disso.
2. Se os telespectadores/leitores do grupo midiático usassem um pouco mais a inteligência e sensatez (seria muito difícil?) poderiam perceber que se é reconhecida a “desqualificação” dos colegas, que critérios e provas foram utilizados para a desqualificação dos réus.

Estadão“Marco Aurélio Mello defendia uma interpretação antagônica à do relator – e mais benigna para os réus – sobre crimes e penas. O desdém estampado na face do relator fez o colega adverti-lo: "Não sorria porque a coisa é muito séria. Estamos no Supremo. O deboche não cabe aqui". Barbosa retrucou dizendo saber aonde o outro queria chegar, para ouvir em seguida: "Não admito que Vossa Excelência suponha que todos aqui sejam salafrários e só Vossa Excelência seja uma vestal".
1. O Ministro Marco Aurélio Mello errou. Na verdade, a coisa nunca foi séria, a coisa não é séria. O escárnio se manifestou de várias maneiras, inclusive por meio de sorrisos debochados e enigmáticos.
2. Realmente, nem todos são salafrários. Quais serão?

Estadão“Seria deplorável se também isso estivesse na raiz da súbita notoriedade de Barbosa – para a qual hão de ter contribuído a sua condição de negro e o seu manifesto desconforto físico provocado por um crônico problema na coluna”
1. Muito sutil a colocação da condição de negro (Casa Grande e Senzala*).

Estadão“E de forma alguma é descabido perguntar se ele sabe que terá de domar o seu temperamento para conduzir o tribunal com a paciência e o comedimento demonstrados por Ayres Britto – duramente testados, aliás, nos "barracos" que teve de acalmar no curso deste julgamento”
1. Se ele não perceber “que terá de domar o seu temperamento”, nós (da imprensa) vamos começar a faze-lo desde agora.
2. O novo herói do Brasil é um “barraqueiro”. Barraqueiro não faz parte da Casa Grande. Qual é o seu lugar?

Na dúvida sobre o comportamento inconfiável do seu novo herói, por segurança a grande imprensa brasileira já começou o processo de sua desconstrução.

*Casa Grande e Senzala – um dos maiores livros da sociologia brasileira, escrito por Gilberto Freyre.