Por Ronaldo Souza
No momento em que escrevo este texto não estou na Bahia. Aproveitando para relaxar um pouco, só voltarei na segunda feira.
Não assisti ao jogo do Bahia contra o Ceará, mas procurei me informar com quem viu.
Ando (quem não anda?) irritado com a apatia do time e aproveito mais uma derrota para dizer coisas um pouco acima do tom que normalmente usaria.
Há alguns pontos que precisam ser abordados enquanto ainda é tempo.
O torcedor do Bahia já deve estar cansado de ouvir que Bahia e Vasco têm os dois melhores plantéis da Série B e são os mais fortes candidatos para subir para a Série A.
Há quem diga que principalmente do meio campo para a frente o Bahia tem jogadores de Série A e seria superior ao Vasco .
Não há, entretanto, nenhuma relação entre o time apontado pela imprensa e reconhecido pela torcida e aquele que está em nono lugar, oito pontos atrás do outro apontado como um dos favoritos ao título, o Vasco.
O time não anda.
Todos que chegaram recentemente usam “o projeto do Bahia” como a grande razão para terem vindo.
Há muito tempo não vejo jogadores profissionais tão encantados com o projeto de um clube.
É algo incomum.
Confesso que estou louco para conhecer esse projeto, pelo qual todos se apaixonam.
Por coincidência ou não, informações dão conta de que esses mesmos jogadores estão ganhando mais do que muitos (ponha muitos nisso) jogadores da Série A.
Não sei que tipo de associação poderia ser feita entre esse detalhe e o encantamento desses jogadores com o projeto do Bahia.
Vocês não acham que está tudo muito estranho?
Observemos alguns jogadores.
Jackson é um dos recém contratados.
Há algum tempo o Bahia não tem um zagueiro como ele.
É de fato um grande zagueiro.
Sério, está jogando futebol de muita qualidade e se mostra consciente do que é jogar num clube de Série A, um bicampeão brasileiro, com uma torcida que dispensa comentários.
Ainda que de vez em quando surjam notícias de interesse de outros times por ele, o que pode contribuir para as naturais oscilações de um jogador, não há como negar que Hernane é outro que tem compromisso com o time e a torcida que o contrataram.
Tiago Ribeiro é outro grande jogador, muito bom de bola, talvez o mais técnico do time.
Mas já passou da hora de mostrar esse futebol. Até agora ele está muito abaixo do seu potencial.
A torcida já está bastante incomodada com a sua apatia.
Outro jogador de grande potencial, mas que não tem se mostrado nem um pouco preocupado em corresponder às expectativas, é Renato Cajá.
Hoje, Renato Cajá é a grande esperança, o grande jogador, o grande maestro, que em todos os jogos é substituído.
A torcida começa a ver como cada vez mais real a possibilidade de que Cajá, como Tiago Ribeiro, não vai passar disso que está aí.
São jogadores que entram em campo e jogam.
Se ganharem, ótimo. Se não ganharem, nada muda.
Sabem que em nada serão afetados.
Estão jogando em um time que tem um “projeto apaixonante” e lhes paga altos salários em dia.
O jogador de futebol, como qualquer outro profissional, pode achar que não era exatamente ali que gostaria de estar.
Ocorre que ele tem um contrato a cumprir e qualquer bom profissional tem como princípio maior honrar esse compromisso.
Portanto, em primeiro lugar é uma questão de honra, algo próprio de cada um.
Não buscar respeitar esse compromisso é desonrar a si próprio.
Relembremos aquele “desabafo” de Hernane no vestiário após o jogo contra o Tupi, quando fez questão de tirar dos ombros de Doriva a responsabilidade pelo fracasso do time.
Hoje tenho a forte impressão de que, ao dizer aquilo e trazer a responsabilidade para eles próprios, Hernane estava dando um recado a alguns jogadores do time.
Não parece difícil a essa altura imaginar para quem.
Sem entrar no mérito da questão, Doriva foi afastado e por dois jogos o time esteve sob o comando de Aroldo Moreira, técnico da base.
Dois jogos, duas derrotas.
Com todo respeito ao Tupi, o Bahia podia ter jogado sem técnico. Dada a flagrante superioridade do time, não podia perder nas condições em que perdeu.
Agora é a vez de Guto Ferreira, o novo técnico do time.
Se eu pudesse, diria a ele.
Abra os olhos.
Você está lidando com alguns jogadores que talvez desconheçam o significado de honra pessoal e quando não há honra nada mais há.
Se eu pudesse, também diria a esses mesmos jogadores:
Cuidado, paciência tem limite.
Ainda mais quando se trata de uma torcida apaixonada e marcada pelo que lhe fizeram ao longo desses últimos anos.
As reações são imprevisíveis.
E nunca é recomendável estar por perto de uma torcida apaixonada quando ela está prestes a atravessar a tênue fronteira entre a percepção e a convicção.
Como não posso falar nem com o técnico nem com os jogadores, só me resta aguardar o que está por vir.