Por Ronaldo Souza
Marina hoje leva uma vida que lembra a dos morcegos, esconde-se durante o dia e aparece à noite.
Durante as manifestações de junho de 2013, quando ninguém conseguia captar o real significado do que estava acontecendo e as suas eventuais consequências, praticamente todos os políticos se esconderam.
Durante os dias mais duros do movimento, Eduardo Campos, aparentemente pouco afetado pelo movimento, falou muito pouco.
Aécio Neves, o candidato cambaleante, quando falou disse as abobrinhas de sempre.
Geraldo Alckmin, governador do estado que deu origem às manifestações, através da sua polícia só cometeu desatinos e disse as coisas de sempre que a classe média gosta de ouvir; “coibir a violência custe o que custar”, “botar ordem na casa”, aquelas coisas. Ir no problema mesmo, nem pensar.
Mas, ela, a doce e evangélica Marina não. Ninguém, ninguém a viu ou ouviu a sua voz; sumiu. Ficou escondida.
Quando chegou aquele momento em que todos “dominam” o tema e passaram a emitir conceitos filosóficos e sócio-políticos das causas das manifestações, eis que surge fulgurante, com brilho intenso, Marina Silva.
Com os seus conhecimentos, que possuem a profundidade de uma piscina para bebês, passou a falar do inconformismo, dos políticos (ela não é política), da velha política e dos velhos partidos (por isso ela não fundou um partido, mas uma rede, cuja composição será de governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais, vereadores, mas, ressalve-se, nenhum deles é político).
Resultado; desaprovação geral da classe política. Os governadores caíram nas pesquisas.
Mas isso não importava, tanto que só foi divulgada tempos depois. O que então importava? Dilma despencou nas pesquisas.
Ali estava a única coisa que importava; Dilma tinha despencado. Então, tome manifestação.
Contra o calor que estava muito forte, contra a frente fria que estava chegando, contra o preço do tomate, PEC 37… o que? PEC 37, o que é isso? Não sei, foi a Globo que mandou. Foi? Foi. Então vamo na PEC 37 também, onde é que fica?
A população percebeu a jogada. Dilma começou a recuperar a posição perdida.
Aécio ficou mais tonto ainda e voltou ao seu estado natural; não entender o que se passa no país. Foi passar uns dias nos Estados Unidos, aquilo sim é que é um país. Na volta, para não perder o hábito, uns fins de semana no Rio, tudo resolvido.
O Brasil pode mais, o que temos hoje é sempre o mais do mesmo, aos meus amigos banqueiros garanto que a economia precisa de um choque de gestão (opa, é Aécio ou Eduardo Campos? Não sei, eles combinaram que iam dizer a mesma coisa).
Mas temos aí as manifestações populares para expressarem o inconformismo do povo na inexorabilidade do misticismo verde caótico dos nossos tempos onde os bagres estão morrendo… Era Marina de volta.
Mal começou o ano de 2014… mas temos aí as manifestações populares para expressarem o inconformismo do povo na inexorabilidade do misticismo verde caótico dos nossos tempos onde os bagres estão morrendo e vão morrer muito mais por causa da Copa, por isso não vai ter copa… Mas vai ter mais manifestações se não Dilma se elege… Era Marina de volta.
Recolheu-se outra vez durante o dia. E, na noite que parecia chegar com o “blocão” de Eduardo Cunha, ela bate asas para mais um voo noturno e anuncia aos quatro cantos:
‘Governo Dilma é a prova do fracasso político’.
Será que não existe entre os urubólogos e morcególogos um mais inteligente, pelo menos mais prudente, para dizer; calma, não diga nada agora, espere um pouco mais?
Agora, diante da noite que insiste em não chegar, Marina se apaixona por quem detesta o sol.
Marina está “encantada” com os Bornhausen
Por Fernando Brito, no Tijolaço
Leio na imprensa que Marina Silva está jogando duro com Eduardo Campos, numa tentativa de influenciar a escolha dos candidatos do PSB nas eleições para governador.
Em São Paulo, Marina não quer aliança do PSB com Alckmin, nem com o presidente do PV, Marcio França. Até aí tudo bem. Palmas para ela.
Mas aí eu me deparo com a seguinte informação, no jornal O Globo:
“Marina se encantou com o herdeiro político da família Bornhausen, o deputado Paulo Bornhausen (…) e quer lançá-lo a candidato ao governo (…)”
Vou repetir o que disse o ministro do STF, Marco Aurélio Mello, quando Joaquim Barbosa respondeu que o “móvel” do sigilo do inquérito 2474 era para “o bom andamento do processo”.
“Aí não! Aí não vinga!”
O bom senso nos manda duvidar dos jornais, mas dessa vez abrirei uma exceção, porque não é novidade. Aliás, a foto acima não mente. O olhar de Marina na direção de Paulo Bornhausen é, de fato, o de uma pessoa “encantada”. O próprio Bornhausen é que parece não acreditar nisso, de tão incrível que é. Ele parece desviar olhar, como quem pensa: “não é possível que esta mulher me apoie, depois de tudo que eu já falei sobre sua ‘raça’; o que será que ela quer?”
Ela quer o poder, Paulinho.
Paulo Bornhausen sempre foi do DEM, onde seu pai, Jorge Bornhausen, foi presidente do partido. O velho Bornhausen ficou famoso durante o processo do mensalão quando falou que o escândalo serviria para “acabar com essa raça”. Marina Silva pertencia à “raça” petista na época.
Paulo Bornhausen ganhou notoriedade ao liderar o movimento “Xô CPMF!”, que terminou vitorioso, se é que se pode chamar de vitorioso um movimento que já tirou, desde 2008, primeiro ano sem o imposto, até 2014, quase R$ 300 bilhões da Saúde Pública, além de constituir um importante instrumento para combater a lavagem de dinheiro e a sonegação.
Depois ele migrou para o PSB, o que é uma escolha curiosa para alguém que passou a vida falando mal do socialismo, e até hoje faz discursos contra os governos de esquerda da América Latina.
Paulo também fez oposição ao Plano Nacional de Direitos Humanos do governo federal, e hoje integra essa nova ala do PSB que vem ganhando cada vez mais espaço no partido: os socialistas de extrema-direita, que são contra os “bolivariano”, mas adoram as alianças com PSDB e DEM.
Diante de Paulo Bornhausen, eu até penso com simpatia em Ronaldo Caiado, que é ao menos um direitão franco e assumido; não migrou para um partido “socialista” para engambelar seus eleitores e o Brasil.
Na mesma reportagem do Globo que menciona seu encantamento com Paulo Bornhausen, leio que Marina atacou violentamente o governo Dilma dizendo que “governo tem que ser programático”.
Pois é, esta “nova política” promete.