Matriz Apical

O padrão mais comum é chegar-se ao comprimento de trabalho (CT) do canal mésio-vestibular (MV) dos molares com a lima 10. Isso significa que naquele ponto o diâmetro corresponderia a cerca de 0,10 mm. Diz a regra que o canal deve ser ampliado com o instrumento que se ajusta ao seu diâmetro no CT e mais três em seqüência de calibre. Assim, a instrumentação irá até a lima 25 (0,25 mm). Observe que é o que se tem feito normalmente.

Quando se sai de um diâmetro de 0,10 mm para 0,25 mm cria-se um ponto de parada bem definido, que é onde vai ser travado o cone principal de guta percha no momento da obturação; é evidente que onde havia um espaço de 0,10 mm, um cone de 0,25 mm não terá a mínima chance de ultrapassar esse ponto. Vamos a um outro exemplo.

Em um incisivo central superior, é comum chegar-se ao CT com a lima 30. Com mais três, como manda a regra do 1+3, terminaremos o preparo com a lima 45, portanto, o cone de guta percha escolhido será o 45. Em um espaço original de 0,30 mm, não há chance do cone 45 ultrapassar. Este é o conceito de matriz (batente, parada, ombro) apical; um ponto de contenção da obturação. Observe também como ele está intimamente ligado ao diâmetro original do canal no CT.

A este conceito estão associados dois passos fundamentais do tratamento endodôntico; o nível de ampliação do canal e o travamento do cone de guta percha. Sabendo qual é o diâmetro do canal, sabemos o quanto instrumentar. Normalmente inicia-se o preparo do canal MV dos molares com a lima 10. Com esta e mais três chega-se à lima 25. Temos aí um bom preparo (instrumentamos o canal com 4 instrumentos) e uma matriz apical bem definida.

Em 1958, um autor chamado Edward Green demonstrou que o diâmetro real dos canais MV dos molares a 1mm aquém do ápice, onde normalmente é estabelecido o CT, era 0,25 mm. Alguns trabalhos recentes, também no Brasil (Souza e Ribeiro, Pécora et al., Vanni et al., etc), têm mostrado que o real diâmetro anatômico apical no MV dos molares é cerca de 0,25 mm.

Aprendemos a instrumentar o canal MV dos molares até a lima 25, julgando estar fazendo uma boa limpeza e construindo uma boa matriz apical, para nela conter a obturação. Ao descobrirmos que o diâmetro apical real do canal já é 0,25, alguma coisa temos que aprender.

Para limpar temos que promover desgaste nas paredes, por isso se sugere 1+3. Se o diâmetro apical real é de 0,25 mm e o canal é instrumentado até a lima 25, não há desgaste, portanto, não há limpeza. Levar a instrumentação até a lima 25 cria uma boa matriz apical em um canal com um diâmetro de 0,10 mm. Se o canal já tem 0,25 mm, não há formação de matriz apical. É simples.

Já tinha descoberto na minha clínica diária que, por questões anatômicas, não havia razão para qualquer obrigatoriedade com a lima 25. Há alguns anos, quando li o trabalho de Green, tive a confirmação do que percebera clinicamente. Quando comecei a ingressar na carreira docente resolvi ver isso mais de perto e publicamos um artigo – “Influência do preparo cervical na ampliação do canal”. Rev ABO Nac 2001/2002, 9(6): 352-355 (veja esse artigo na sessão ARTIGOS PUBLICADOS desse site).

Precisamos instrumentar o canal, o que implica trabalhar as suas paredes. Assim conseguimos modelar, limpar e fazer a matriz apical. É necessário, porém, que os parâmetros nos quais alguns aspectos da Endodontia estavam apoiados sejam repensados. Este é apenas um deles.

É um novo momento da Endodontia.

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