Por Ronaldo Souza
Passaram dias e dias dizendo que a motivação de Marcelo Sant’Ana (presidente do Bahia) no caso do jogador Vitor Ramos era que ele tinha medo de jogar com o Vitória e por isso tentou elimina-lo das finais do campeonato baiano.
Não sei se esse pensamento passou ou não pela cabeça do presidente.
Se passou, depois do jogo de domingo ninguém tem dúvidas de que o “medo” do presidente era absolutamente infundado.
Todos viram o jogo.
O Bahia encurralou o Vitória.
Durante todo o primeiro tempo o Vitória foi um time acuado, com medo, não conseguia respirar. Era evidente o nervosismo que tomou conta de alguns dos seus jogadores, inclusive com discussões entre eles.
Ainda que no segundo tempo tenha melhorado, foi o Bahia quem continuou ditando o ritmo do jogo.
Mesmo mais cansado pela tensão do resultado, que não era o desejado, ainda era o dono do jogo.
Como e por que o Bahia poderia temer aquele time?
E aí veio o pênalti aos 34 minutos de jogo.
E com o pênalti não marcado também veio a confirmação de que alguns jogos realmente não são decididos em campo.
Observe que no pênalti a favor do Vitória, o primeiro no vídeo, Vander levanta os braços e se atira num verdadeiro voo.
Vergonhoso.
O pênalti não marcado a favor do Bahia no segundo jogo simplesmente desqualifica qualquer árbitro.
Poucas vezes a coisa foi tão evidente.
Mas não quero falar especificamente dos jogos da decisão do campeonato em si, até porque, como diriam alguns comentaristas, os sensatos e independentes, o Bahia perdeu o título fora das quatro linhas.
Sempre que se ousa enfrentar alguém ou grupo poderoso não são pequenas as chances de que você perca.
O sistema existe para isso.
Corre por aí que o presidente da Federação Baiana de Futebol (Edvaldo alguma coisa, não sei) está muito aborrecido com Marcelo Sant’Ana por conta do episódio de Vitor Ramos e por isso teria se vingado.
É natural que como torcedor do Vitória ele tenha ficado chateado e a sua estatura (não falo da física) permite esse comportamento.
Mas ele é insignificante para patrocinar o que estão fazendo com o Bahia e o que fizeram particularmente nesses jogos finais do campeonato baiano.
Isso nada tem a ver com ele e a FBF, sequer com a CBF.
A razão de tudo isso tem outro nome: Esporte Interativo.
Em textos anteriores, De olhos abertos e Pedras atiradas, abordei a questão da relação do futebol brasileiro com a Globo.
Em um deles, Pedras atiradas, escrevi o seguinte:
“O Bahia sempre correrá riscos daqui em diante.
Há sempre um preço a pagar quando se enfrenta a vida com coragem.
Ao assumir a opção por alternativas que tentam sair das garras de quem patrocina a escuridão do futebol brasileiro, o Bahia vai pagar um preço.”
O Bahia foi um dos primeiros times do Brasil a assinar contrato com o Esporte Interativo para a transmissão dos seus jogos a partir de 2019.
O Atlético Paranaense foi o primeiro, depois Santos e Bahia.
A diretoria do Santos disse:
“Sabemos que vamos sofrer retaliações da Globo por conta disso”.
Um dos poemas de Guimarães Rosa diz:
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem
Podemos sintetiza-lo em uma frase.
“O que a vida quer é coragem”.
O conformismo é característica marcante dos covardes.
Agradar aos poderosos parece ser a maneira mais fácil e cômoda de se conformar e viver em paz.
Poucos terão a coragem de romper com a vida levada dessa maneira.
Mas a coragem cobra um preço, que costuma ser elevado.
Todos sabem que quem determina as ações da CBF é a Globo e isso já foi denunciado inúmeras vezes. Uma das últimas por Nestor Hein, à época vice-presidente do Grêmio (veja aqui).
E a Globo simplesmente não vai aceitar que lhe tirem o poder de mandar em todas as instituições brasileiras. O futebol representa parte fundamental desse processo.
Aqui entra o momento que vive o Bahia.
Prejudicado por anos seguidos por gestões que deixaram de lado os interesses do clube e visaram somente o benefício próprio e estar do lado de grupos que decidem os destinos do futebol brasileiro, o Bahia só não foi destruído porque é grande.
Mas o estrago foi enorme e o clube está se reconstruindo.
Os contratos firmados e os que ainda serão com o Esporte Interativo darão um faturamento aos clubes em média 9 vezes maior do que o proposto pela Globo.
Cabem aqui algumas perguntas cruciais.
- Por que os times não podem optar por um contrato que lhes traz uma vantagem financeira brutal em relação a outro?
- Como as torcidas podem permitir que os presidentes façam uma escolha flagrantemente desvantajosa para os seus times?
- Estando, como estão, todos os times brasileiros endividados ao ponto de não conseguirem segurar um jogador que se destaca, como explicar que prefiram assinar contrato com quem vai lhes pagar nove vezes menos???
Esse é o preço que o Bahia paga desde o final do ano passado pela sua ousadia e coragem.
Esse é o preço que o Bahia paga agora, a perda de um campeonato que lhe foi tirado por dois árbitros gaúchos, um dos quais, Vuaden, todos lembram, esteve envolvido naquele episódio de Kieza no BaVi do ano passado.
Boa parte da imprensa brasileira se manifestou de forma veemente denunciando a interferência absurda que os árbitros promoveram no resultado dos dois jogos das finais.
Veja o comentário da ESPN no vídeo abaixo e observe como os jornalistas riem do absurdo do lance.
Torcedor tricolor.
Cuidado com a imprensa local, não vá na onda dela.
Lembre que ao denunciar quem estava ganhando dinheiro no Bahia, inclusive alguns jornalistas e radialistas, a atual diretoria fez mais um bem ao clube, mas desagradou a imprensa, que sempre se acha intocável.
Por isso o Bahia paga o preço de uma guerra sutil e perigosa armada para desestabilizar o ambiente do clube.
Mesmo com erros cometidos (quem não erra?) a atual diretoria está recuperando o Bahia da destruição que fizeram dirigentes anteriores, alguns dos quais estão por trás desse movimento.
O show que você deu na Fonte Nova domingo foi a prova de que essa é a maior torcida do Norte/Nordeste e uma das maiores do Brasil, fato reconhecido por toda imprensa nacional.
Fazer festa, cantar o hino do Bahia, depois de perder o título, não é para qualquer torcida.
Mas, além disso, e muito importante para esse momento, você demonstrou que “viu” o problema, percebeu o que estão fazendo com o seu time.
Perceba também que o time está ficando bem mais forte para a série B, nosso grande objetivo desse ano.
Não se afaste do seu time.
Agora é você e o Bahia.
E mais ninguém.