Por Ronaldo Souza
Qual o time no Brasil que nunca enfrentou crises de diretoria e administrações desastrosas?
Acostumado a ser a exceção, o Bahia não seria essa exceção. Não foi.
Foram duas crises a um só tempo. Na sua vergonhosa direção e outra no seu plantel de futebol, esta gerada e comandada pelo “presidente” do time, que tinha toda a cobertura do presidente do clube e do gestor de futebol.
Inédito? Não sei.
Inédita certamente foi a reação. Que nem a Fênix, a ave da mitologia grega que surgia das cinzas, o Bahia fez da amarga experiência o ponto de retomada da sua história, coberta de glórias.
E o Brasil esportivo brindou. Os jornalistas brasileiros que conseguiram manter a dignidade e a preocupação com o futebol, não sei se poucos ou muitos, ergueram suas taças e fizeram um brinde ao fato de que pela primeira vez um clube de futebol e a sua fantástica torcida, sempre ela, tomaram as rédeas do destino que parecia tragicamente traçado e assumiram o comando do clube.
Pela primeira vez no futebol brasileiro, uma torcida elegia pelo voto direto o presidente, a diretoria e os conselheiros de um clube de futebol. Era o Bahia mostrando a sua força e o seu destino para o pioneirismo. Mais uma vez era o primeiro. Mais uma vez fazia a regra. Mais uma vez era a exceção.
Durante todo esse tempo em que houve esse descalabro administrativo vergonhoso por parte dos dirigentes, o Bahia perdeu muito. Patrimônio, força, credibilidade e títulos e essas perdas exigirão algum tempo para que as devidas correções sejam feitas.
Mas não foi só o Bahia que perdeu. A Bahia e o Nordeste também perderam e muito. Nesse tempo, enquanto o Bahia esteve “ausente”, quem na Bahia ou o no Nordeste ganhou o que? Quem representou a Bahia e o Nordeste como ele já o fizera? Quem ganhou algum título por eles, Bahia e Nordeste?
Nunca foi tão fácil para os times de fora do eixo Rio-São Paulo garantirem uma vaga para participar da Libertadores. Só um time do eixo Rio-São Paulo, o Botafogo, entrou na zona de Libertadores. O Nordeste, mais uma vez, ficou de fora. O seu único e grande representante não estava em condições. Ah se estivesse!
Uma historinha rápida.
No final do ano de 2009, o Bahia ainda na série B, duas noites antes do Natal, um programa de esporte de uma rádio de São Paulo fez uma reportagem “entrevistando” Papai Noel.
Foram feitas perguntas sobre o que Papai Noel traria para cada time de futebol. Foram citados todos os quatro grandes do Rio, os quatro grandes de São Paulo, os dois de Minas Gerais, os dois do Rio Grande do Sul… e a essa altura eu já estava imaginando. Não vão nem falar do Nordeste.
Rezei, fiz promessa, pedi pelos deuses, pelos orixás, por tudo quanto é santo e pai de santo, já nervoso… Papai Noel, e para o Nordeste? Quase tive um infarto.
– Ho, ho, ho… (esse é Papai Noel). Que bom meu filho se o Bahia voltasse aos bons tempos.
E ponto. O Nordeste de Papai Noel parou no Bahia.
Ou ninguém percebeu que, mesmo na fase ruim em que se encontra, era e é ao Bahia que a imprensa nacional se reporta como o grande representante do Nordeste? Há quem diga o único.
Por que Clube dos 13? Quem são os 13? Os quatro grandes do Rio, os quatro grandes de São Paulo, os dois de Minas Gerais, os dois do Rio Grande do Sul e o… Bahia. Se agora o Clube dos 13 são 20, pouco importa. O futebol brasileiro foi dividido em séries e deram números redondos. Vinte na série A, vinte na série B, vinte na série C… Mas os 13 são os 13. E lá está o Bahia.
Já digo há muito tempo; ninguém ganhou os títulos de campeão baiano nesses últimos anos. Foi o Bahia que perdeu.
A nova diretoria do Bahia precisa entender algo muito importante; o lugar do Bahia no futebol brasileiro é dele e durante todo esse tempo permaneceu assim, ninguém ocupou. Porém, é pouco diante do que ele já representou e representa de fato. E é esse o grande compromisso da atual administração: fazer o Bahia ser o que sempre foi; o maior do Norte/Nordeste e um dos grandes do futebol brasileiro.
Aí a Bahia estará outra vez bem representada no futebol brasileiro. E o Nordeste também.
O time que é a exceção, o time que é o primeiro campeão brasileiro, o único bicampeão brasileiro de todo o Norte/Nordeste, o primeiro a disputar a Taça Libertadores das Américas (na Bahia, o único), agora se tornou o primeiro time nordestino com quatro participações consecutivas na série A do Campeonato Brasileiro na época dos pontos corridos.
Se isso ainda é um sonho para outros times, para o Bahia é pouco.
É destino do Bahia ser o primeiro. Não é dele ser o segundo.